Juliete Pantoja (UP) é a sexta entrevistada da 6ª edição do Movimento Rio em FrenteEduardo Uzal / Agência O Dia

Rio - Encerrando o terceiro dia de abertura da 6ª edição do 'Movimento Rio em Frente', a candidata do Unidade Popular (UP) à Prefeitura do Rio de Janeiro, Juliete Pantoja, conversou com a apresentadora Isabele Benito, âncora do SBT Rio, sobre suas propostas para a cidade.
Ela sucedeu ao prefeito Eduardo Paes (PSD), candidato à reeleição, na série de entrevistas com os postulantes a prefeito da capital carioca apresentada pela Fecomércio-RJ, e realizada pelos jornais O DIA e MEIA HORA, SBT e Veja Rio, que será realizada até esta sexta-feira no auditório da entidade, no Flamengo, Zona Sul do Rio.
Confira abaixo os principais trechos da conversa, que foi transmitida ao vivo pelas plataformas digitais do DIA, como YouTube e Facebook, e também pelo SBT News.
Na Educação, o seu principal plano de governo é erradicar em um ano o analfabetismo no município do Rio de Janeiro, que já sofre com o analfabetismo funcional. Não seria um sonho impossível?
Juliete Pantoja - A erradicação do analfabetismo é um sonho que pode se tornar realidade. Nossa cidade é uma das mais ricas do país e tem 120 mil pessoas analfabetas, 13 mil crianças fora das creches, falta de infraestrutura básica, de merenda escolar, o ensino integral está em uma parcela ínfima da rede. Pretendo criar um programa que dê conta da erradicação do analfabetismo. Sou educadora popular, sei a importância disso, é muito triste uma pessoa que não sabe ler e escrever e não consegue transitar pela cidade. Queremos realizar concursos públicos, melhoria nas estruturas das escolas, para que a população do Rio de Janeiro tenha acesso a uma educação pública de qualidade e a nossa juventude possa ter perspectivas. Meu filho de 14 anos estuda em uma escola pública. Eu sei qual o problema das escolas públicas, faltam professores, orientadores para crianças com necessidades especiais. O percentual constitucional a ser gasto com educação é 25% do orçamento, mas o Rio de Janeiro foi o município que menos investiu em educação.
Na Saúde, a senhora pretende pôr um fim nas Parcerias Público-Privadas, e inclui, neste plano, as Organizações Sociais de Saúde (OSS). Com isso, qual a sua proposta prática para melhorar, em curto prazo, o atendimento da saúde pública na cidade do Rio de Janeiro?
Juliete Pantoja - A Saúde só piorou gerida no modelo das OSS, ela deve ser administrada diretamente pela prefeitura. Quando você privatiza e terceiriza, o investimento aplicado na Saúde não chega na ponta. As OSS privilegiam contratos que duram dois, três meses com profissionais de saúde, que não conseguem estabelecer uma relação com as comunidades. Além disso, tem uma fila gigante para exames simples, consultas, a qualidade da oferta de medicamentos nas farmácias populares está cada vez pior. Sou usuária do SUS, uso a clínica da família do meu bairro, Irajá, sei o que o usuário do SUS está passando, a dificuldade para marcar consultas, exames. A cidade de São Paulo hoje investe por pessoa pouco mais de R$ 1.100 na saúde, enquanto o Rio investe R$ 560. É o suficiente? As OSS precarizam os serviços, a taxa administrativa das OSS deveria ser toda destinada à cuidar da população. Queremos fazer concursos públicos para contratar profissionais e fazer administração direta. E uma ingerência maior com o Governo Federal, para trazer mais investimentos para os hospitais federais do Rio.
Se for eleita, a senhora diz que vai defender, junto ao governo do estado, a reestatização do metrô e dos trens. Quais são as suas demais propostas para melhorar o Transporte no Rio de Janeiro?
Juliete Pantoja - Uso transporte público, mas o transporte aqui no Rio não é público, é privado. Hoje, temos 114 cidade no nosso país que já têm o transporte público gratuito, como um direito. O lucro mais o subsídio da prefeitura geram R$ 2,5 bilhões para as empresas de ônibus. Quero garantir transporte público rodoviário gratuito para a população, o que pode ser feito com apenas 5% desse orçamento. É possível municipalizar, não só o BRT, mas todo o transporte rodoviário. Se o transporte for gratuito e de qualidade, os empresários podem transferir o dinheiro para um fundo municipal ao invés de pagar vale transporte. Os custos de cobrança, de bilhetagem, somam 20 % dos custos de transporte rodoviário, e poderiam ir também para um fundo municipal. Isso é muito importante, fundamental. E antes que o transporte se torne público para todos, podemos oferecer o passe livre ilimitado aos estudantes. Educação é muito mais do que ir e voltar da escola. É ter acesso a museus, teatros, estar presente nesses espaços.
Alguns de seus concorrentes na disputa pela prefeitura têm falado sobre armar a Guarda Municipal como uma das soluções para frear a criminalidade. Ao contrário deles, sua proposta é desmilitarizar a Guarda Municipal. Isso não poderia ter um efeito contrário? Guarda Municipal sem armas e bandidos bem mais armados?
Juliete Pantoja - Somos contra o armamento da Guarda Municipal, que serve para reprimir protestos dos professores e os vendedores ambulantes. A guarda armada vai se voltar contra a população trabalhadora, a mais pobre do Rio de Janeiro. O Estado, que deveria promover a Segurança, promove a política do confronto. E a população fica na linha de fogo, no fogo cruzado. O Rio de Janeiro tem alguns dos maiores índices de letalidade do país. A maioria das câmeras que deveriam oferecer imagens das ações da polícia nem foi instalada. Não tem condições de a política do confronto ser a única a chegar nesses territórios. Temos que promover políticas públicas, que gerem segurança pública. Falamos de moradia, postos de saúde que funcionem, escolas, área de lazer.
Quais as suas propostas para amenizar o déficit habitacional?
Juliete Pantoja - Temos hoje uma dificuldade muito grande de investir em habitação no Rio de Janeiro. A prefeitura não construiu uma casa popular nos últimos anos. A execução do orçamento da secretaria municipal de Habitação foi quase nula. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), de luta por moradia, do qual eu faço parte, construiu mais casas populares através do Minha Casa, Minha Vida (programa do Governo Federal) do que a prefeitura. O Rio de Janeiro é a cidade com o metro quadrado mais caro do país, não tem política de controle do aumento do preço dos aluguéis. O Rio tem quase 400 mil imóveis abandonados, fechados, vazios, em vários locais. Eles ultrapassam 15% (do total de imóveis) das ditas áreas nobres da cidade. O déficit habitacional é de 178 mil domicílios. Propomos uma política de aumento progressivo do imposto sobre o imóvel subutilizado ou vazio. Fazendo isso, é possível readequar esses imóveis, para que eles virem moradia popular. As famílias de baixa renda gastam 60% dos seus orçamentos com moradia, o que faz com que elas fiquem sufocadas.