Búfalo Gil foi o artilheiro da Máquina Tricolor no biênio 1975-1976Divulgação/Fluminense

Rio - Há 50 anos, o Fluminense montou um dos maiores times da história do futebol. A "Máquina Tricolor", como ficou conhecida, encantou o mundo e contava com craques como Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio, Paulo Cezar Caju e Rivellino, campeões mundiais com a seleção brasileira em 1970, entre outros craques como Edinho, Rodrigues Neto, Pintinho e Doval. Mas ninguém fez mais gols do que Gil, o artilheiro de um esquadrão imortal e um dos grandes ídolos da história tricolor.
Gilberto Alves, conhecido como Búfalo Gil, fez história no Fluminense entre 1974 e 1976. Artilheiro do biênio 1975 e 1976 com 58 gols, foi o maior goleador da "Máquina Tricolor". Na época, o sucesso do time foi tanto que passou a excursionar pela Europa e encantou o mundo todo, conquistando vitórias como sobre o Bayern de Munique, bicampeão europeu e base da seleção alemã campeã do mundo em 1974. Em entrevista ao DIA, Gil deu dica para o Time de Guerreiros, que estreia no Mundial de Clubes nesta terça-feira (17), às 13h (de Brasília), contra o Borussia Dortmund, da Alemanha.
"Nós não tínhamos medo de ninguém. A vantagem da "Máquina" é que encarávamos qualquer time de igual para igual. Não tem que ter medo. Eles são superiores no dinheiro, mas dentro de campo é 11 contra 11 e tem que encarar de igual para igual. Se encolher, vão ser atropelados. Perder faz parte do jogo, mas e se ganhar? Vira todo mundo herói. É difícil? É, porque os melhores times e jogadores estão tudo lá (na Europa). Mas temos a vantagem que eles estão em fim de temporada, então tem que aproveitar", disse.
O jogo contra o Bayern de Munique foi o primeiro do Fluminense contra uma equipe alemã na história. Ao todo, são 17 confrontos contra alemães, 11 vitórias, um empate e cinco derrotas, com aproveitamento de 66,6%. O confronto com o Borussia Dortmund será inédito na história tricolor. Búfalo Gil não enfrentou o gigante alemão, que contava com nomes como Sepp Maier, Franz Beckenbauer e Gerd Müller, mas esteve presente entre os 100 mil torcedores no Maracanã e acompanhou a vitória histórica por 1 a 0, em 1975.
"Não joguei esse jogo porque estava com o pé quebrado. Vencemos com gol contra do (Gerd) Müller. O time do Fluminense era muito bom. Fiquei muito satisfeito com a apresentação, mas 1 a 0 foi pouco. Tivemos várias chances de marcar gols. Os caras falavam que se eu estivesse jogando seria 4 ou 5 porque eu não perderia aqueles gols. O time do Bayern de Munique era um espetáculo, mas o Fluminense ganhou e foi uma festa maravilhosa", afirmou.
A Máquina Tricolor, um dos maiores times da história do Fluminense - Divulgação/Fluminense
A Máquina Tricolor, um dos maiores times da história do FluminenseDivulgação/Fluminense
No ano seguinte após a vitória no Maracanã, Gil reencontrou os alemães durante o Torneio Bicentenário dos Estados Unidos. Na época, Brasil, Inglaterra e Itália foram convidados para jogar um quadrangular contra o combinado americano, formado por jogadores que atuavam na liga nacional, como o alemão Beckenbauer, que defendia o New York Cosmos — também ex-clube de Pelé. A seleção brasileira foi campeão, com o Búfalo Gil sendo artilheiro com quatro gols.
"Em 1976, o Beckenbauer tinha ido jogar nos Cosmos. No bicentenário dos Estados Unidos, convidaram Inglaterra, Brasil e Itália para jogar um torneio quadrangular. Nós fomos campeões e eu fui o artilheiro da competição. No jogo contra o combinado americano, fiz dois gols. Em um deles, dei um drible no Beckenbauer. Depois o Zico até brincou falando que eu estava consagrado", contou.
A "Máquina Tricolor" foi bicampeã carioca em 1975 e 1976, além de conquistar títulos internacionais como o Torneio de Paris e a Copa Viña Del Mar. Parceiro ideal para os lançamentos de Rivellino, Búfalo Gil se tornou peça fundamental daquele time e se destacava com a sua velocidade, grande força física e chutes fortes e precisos. Apesar do gosto amargo com as duas eliminações em semifinais no Brasileirão, o ex-jogador lembra com carinho do período.
"O melhor treinador que eu tive foi o Didi (ex-jogador e ídolo do Fluminense, em 1975). Ele falava que a gente tinha que ter a bola o tempo todo e que quem cansa é quem corre atrás. A gente nunca imagina que vai ganhar, mas a gente joga para ser campeão. Todos os tricolores que encontro dizem que a 'Máquina Tricolor' é o melhor time da história do Fluminense. Isso me deixa satisfeito, é o meu título. Nós tínhamos um timaço, fizemos mais de 100 gols no Carioca", enalteceu Gil.
No somatório do bicampeonato carioca, o Fluminense marcou 131 gols. Somente o Búfalo Gil fez 38 — cerca de 30% dos gols no período, isso sem contar participações em assistências. Em 1975, brigou pela artilharia com Zico e Roberto Dinamite. Já no ano do bi, fez novamente 19, um a menos do que Doval, que fez 20 e foi o artilheiro da competição. O gol de desempate foi o do título contra o Vasco, na prorrogação.
Búfalo Gil trabalha na comissão técnica do Maricá FC - Bruno Maia/Maricá FC
Búfalo Gil trabalha na comissão técnica do Maricá FCBruno Maia/Maricá FC
Em 1977, a "Máquina Tricolor" entrou em seu último ano, mas com apenas quatro remanescentes do ano anterior: Edinho, Rubens Galaxe, Rivellino e Doval. O presidente Francisco Horta, conhecido por suas trocas com rivais, não teve a mesma sorte dessa vez. Se no ano anterior trocou Félix, Toninho, Marco Antônio e Zé Roberto por Renato, Rodrigues Neto, Dirceu e Doval, a política não surtiu o mesmo efeito quando trouxe Marinho Chagas, Wendell e Miranda em troca de Rodrigues Neto, Paulo Cézar Caju e Búfalo Gil.
"Ele (Francisco Horta, presidente) pegou o Fluminense em uma situação financeira difícil. Montou um time bom em 1975, mas depois trocou em 1976. O Robson Roberto, que era amigo do Horta, sabia de futebol. Não tem dinheiro para comprar? Então troca. Ele fez uma troca boa que trouxe Dirceu, Rodrigues Neto e Doval, montamos uma seleção e fomos bicampeões carioca", lembrou Gil.
O último ato da "Máquina Tricolor" foi o título do Troféu Teresa Herrera de 1977, mas aquele time não teve a mesma conexão dos dois anos anteriores. Em 1978, Rivellino saiu para o Al-Hilal, da Arábia Saudita, e decretou o fim de um dos maiores times da história do futebol. No mesmo ano, o cantor Jorge Ben Jor fez uma música intitulada de "Troca-Troca", em referência as políticas da negociações do presidente Francisco Horta, do Fluminense.
"Eu estava com a Seleção. Ligou um cara falando que eu já era do Botafogo. Já estava (Paulo Cezar) Caju e Rodrigues (Neto) treinando no Botafogo, mas eu estava na Colômbia e não estava sabendo de nada. Mas eu fui bem no Botafogo porque não perdi o lançador, tinha o Mendonça. Não mudou minha característica. Chegamos na semifinal do Brasileiro. Se eu fico no Fluminense, certamente seria tricampeão e poderia ganhar o Brasileiro, mas montaram um time mais velho", encerrou.
Ídolo do Fluminense, Búfalo Gil encerrou a carreira em 1986. O ex-jogador, de 74 anos, atualmente faz parte da comissão técnica do Maricá, que disputa a primeira divisão do Carioca e a quarta divisão do Brasileirão. No ano passado, fez parte da campanha dos títulos inéditos da Série A2 do Carioca e da Copa Rio. Estreante na elite do futebol carioca, o Tsunami conseguiu se manter para 2026. Agora, sonha com o acesso para a terceira divisão nacional.