Nicolás Maduro, presidente da Venezuela - AFP
Nicolás Maduro, presidente da VenezuelaAFP
Por AFP

Caracas - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, inscreveu nesta terça-feira sua candidatura para as eleições antecipadas de 22 de abril, nas quais buscará a reeleição sem um adversário de peso ante o boicote da oposição.

Com funcionários de sua confiança, Maduro visitou o túmulo do líder socialista Hugo Chávez, antes de se encaminhar para a sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para entregar os documentos de inscrição.

"Este é o plano da pátria 2025, que é o aprofundamento do caminho e o legado de nosso amado comandante Hugo Chávez na direção da prosperidade econômica", declarou Maduro ao entregar à presidente do CNE, Tibisay Lucena, os documentos.

Maduro, ex-motorista de ônibus, de 55 anos, tem quase garantida a reeleição, apesar de seu governo ser reprovado por 75% dos venezuelanos, segundo pesquisa Datanálisis, em razão da grave crise econômica no país, asfixiado pela escassez de alimentos e remédios, e pela hiperinflação.

Sua maior rival, a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) - cujos líderes Henrique Capriles e Leopoldo López estão proibidos de de disputar e exercer cargo político -, convocou o boicote às eleições, por considerá-las um "show fraudulento" sem garantias de imparcialidade.

"São eleições de fachada, um mero ato político para a aclamação de Maduro por seus seguidores", declarou o cientista político Luis Salamanca.

"Comparsas" eleitorais? 
Logo atrás aparece o ex-governador dissidente do chavismo Henri Falcón, um militar aposentado, de 56 anos, postulado por dois partidos minoritários. Dois outros, quase desconhecidos, são o pastor evangélico Javier Bertucci e Reinaldo Quijada, um chavista que se distanciou do oficialismo.

"Eles podem ser vistos como comparsas, que dão a Maduro a desculpa para dizer que tem concorrentes, mas, sem a MUD, nenhum deles têm chances", acrescentou Salamanca.

De acordo com o Instituto Venezuelano de Análise de Dados, Falcón possui 23,6% das intenções de voto, em comparação com 17,6% de Maduro. Mas a oposição está longe de ser um perigo real devido à máquina chavista e ao vasto controle institucional e social do governo, estimam os analistas.

Em outubro passado, o ex-governador fracassou em sua tentativa de ser reeleito no estado de Lara e gera desconfiança entre os opositores por seu passado chavista. A cientista política Francine Jacome acredita que Falcón tem uma liderança personalista e regional, também em declínio. "Pode atrair alguns opositores, mas seu impacto será mínimo", comentou.

Novas sanções 
Apesar de Maduro repetir que "haja chuva, sol ou relâmpago" haverá eleições em 22 de abril e que vai ser reeleito com ou sem oponentes, enquanto a MUD busca apoio internacional para forçá-lo a reagendar eleições com garantias.

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, reafirmou na segunda-feira a Venezuela a garantir "eleições credíveis", reiterando que a União Europeia (UE), que já impôs sanções a autoridades venezuelanas, está "pronta para reagir" em caso contrário.

Citando a falta de garantias para um processo livre, o adiantamento da eleição presidencial foi rejeitado pelos 14 países do Grupo de Lima - incluindo Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Estados Unidos. Vários desses governos anunciaram que não reconhecerão os resultados.

Os Estados Unidos, que além de medidas contra as autoridades venezuelanas impôs sanções econômicas, ameaçou um embargo de petróleo, o que significaria um duro golpe para um país que obtém 96% de suas receitas do petróleo.

Parte da comunidade internacional também rejeitou o adiantamento das eleições, que deveriam ser realizadas em 2020, para eleger o Parlamento, o único poder controlado pela MUD. O CNE anunciou que irá definir a data nos próximos dias.

"O cenário: maior pressão internacional, ingovernabilidade e agravamento da situação econômica e social", advertiu Jácome.

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