Presidente Vladimir Putin se reelegeu para quarto mandato à frente da Rússia.  - Yuri Kadobnov/ AFP
Presidente Vladimir Putin se reelegeu para quarto mandato à frente da Rússia. Yuri Kadobnov/ AFP
Por AFP

Rússia - Vladimir Putin foi reeleito neste domingo presidente da Rússia com 76,7% dos votos, de acordo com resultados praticamente definitivos, uma vitória esmagadora que reforça sua posição na crise com os países ocidentais e que garante sua permanência no poder até 2024.

Putin, que desde 1999 está à frente da Rússia, como presidente ou como primeiro-ministro, deixará o cargo em 2024, quando completará 72 anos. Ao ser questionado se voltará a disputar eleições, Putin respondeu: "Ficar aqui até 100 anos? Não". 

Putin conquistou uma vitória sem precedentes em seu 18 anos de poder, em uma eleição que registrou uma taxa de participação superior a do pleito de 2012.

A oposição e várias ONGs denunciaram milhares irregularidades, como urnas preenchidas com antecedência ou o transporte de trabalhadores em ônibus até locais de votação, pressionados por seus chefes.

A Rússia voltou ao centro do cenário internacional ao custo de um clima de tensão com os países ocidentais, algo que não era registrado desde o fim da Guerra Fria.

Diálogo se houver interesse 

Nesta segunda-feira, Putin disse estar pronto para dialogar com todos os países do mundo, mas alertou que não dependia deles, "é como no amor, as duas partes precisam estar interessadas, se não, não há amor".

Ele garantiu ainda que seu país reduzirá o gasto militar em 2018 e 2019 e que não tem a intenção de se lançar em uma "corrida armamentista".

"Previmos uma redução do gasto militar para este ano e para o ano que vem", declarou Putin, acrescentando que "isso não provocará uma redução da capacidade defensiva" da Rússia.

Diferentemente dos líderes de países aliados como China, Índia e Venezuela, os das potências ocidentais demoraram para felicitar o presidente russo.

O francês Emmanuel Macron desejou "sucesso na modernização política, democrática, econômica e social do país", enquanto a Alemanha indicou que a chanceler Angela Merkel enviaria um telegrama.

O conflito na Síria, a crise ucraniana ou as acusações de interferência russa na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos alimentam o confronto Leste-Oeste, que aumentou na semana passada quando Londres acusou Moscou de ter envenenado um ex-espião russo no Reino Unido.

No domingo, em sua primeira entrevista coletiva após a vitória, Putin afirmou que acusar a Rússia por este caso não faz nenhum sentido, mas acrescentou que Moscou está "disposto a cooperar" com Londres na investigação.

Para alguns analistas, esta crise, que provocou a expulsão recíproca de diplomatas, fortaleceu Putin, cuja popularidade é cada vez mais baseada na política externa, enquanto o nível de vida dos russos prossegue em queda.

"Temos que agradecer ao Reino Unido porque mais uma vez não entenderam a maneira de pensar russa. Mais uma vez nos pressionaram justamente no momento em que precisávamos de mobilização", disse Andrey Kondrashov, porta-voz da campanha de Putin, citado pelo jornal Kommersant.

"'Demonizar' Putin no Ocidente teve o efeito inverso na Rússia, um apoio sem precedentes de sua figura", afirmou o senador russo Alexei Pushkov.

A eleição aconteceu, de modo simbólico, no quarto aniversário da ratificação da anexação da Crimeia pela Rússia.

"Sócio difícil"

Com 99,8% das urnas apuradas, Putin recebeu 76,67% dos votos, muito mais que os 63,6% da votação de 2012, segundo a Comissão Eleitoral.

O candidato do Partido Comunista, Pavel Grudinin, recebeu 11,79% dos votos, o ultranacionalista Vladimir Zhirinovski 5,66% e a jornalista vinculada à oposição liberal Ksenia Sobtchak 1,67%.

O presidente chinês Xi Jinping felicitou Putin e afirmou que a relação entre os dois países está em seu melhor momento. O venezuelano Nicolás Maduro e o boliviano Evo Morales também enviaram parabéns.

O presidente sírio Bashar al-Assad, também felicitou seu grande aliado pela "vitória lógica, resultado de sua atuação notável".

A Alemanha foi o primeiro país europeu a falar sobre o resultado e, segundo o ministro das Relações Exteriores do país, Heiko Mass, a Rússia continuará sendo um "sócio difícil" após a reeleição de Putin, mas necessário.

"Precisamos da Rússia para encontrar soluções aos grandes problemas internacionais e, por isto, queremos continuar o diálogo", declarou Maas.

A participação, levemente superior a de 2012 (65%), se explica em parte pelos esforços do Kremlin para mobilizar os eleitores em uma votação sem qualquer suspense.

A oposição russa, liderada pelo principal rival de Putin, Alexei Navalny, impedido de disputar eleições até 2024 por uma condenação judicial em que pediu o boicote da votação de domingo, acusa as autoridades de falsificar o índice de participação recorrendo a fraudes como preencher urnas ou organizar o transporte de eleitores.

"A vitória de Putin com mais de 70% foi decidida de antemão", disse Navalny à imprensa.

Ele disse que prosseguirá com os pedidos de manifestações, "a única forma de ter uma luta política na Rússia".

A ONG Golos, especializada em supervisionar eleições, disponibilizou um mapa das fraudes em seu site na internet, no qual denuncia mais de 2.900 irregularidades.

Edward Snowden, ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, refugiado na Rússia desde suas revelações sobre o gigantesco sistema de vigilância dos Estados Unidos, divulgou no Twitter um vídeo que mostra o que considera o preenchimento de uma urna.

"Exijam justiça. Exijam leis e tribunais que façam sentido", escreveu.

A presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova, considerou, no entanto, que as irregularidades foram "relativamente baixas" e acrescentou que a votação foi transparente.  

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