Carlos Ghosn é ex-presidente da aliança Nissan-Renault - Behrouz Mehri / AFP
Carlos Ghosn é ex-presidente da aliança Nissan-RenaultBehrouz Mehri / AFP
Por ESTADÃO CONTEÚDO

Tóquio - O tribunal de Tóquio negou nesta quarta-feira um pedido de soltura para o ex-presidente da aliança Nissan-Renault, Carlos Ghosn, um dia depois de seu primeiro comparecimento perante a Justiça japonesa. Os advogados do empresário apresentaram na terça-feira um recurso para obter sua liberdade, mas o juiz negou, argumentando o risco de fuga do acusado e a possibilidade de alteração de provas.

"O pedido para anular a detenção foi rejeitado em 9 de janeiro", anunciou o tribunal de Tóquio em um comunicado. O advogado de Ghosn, Motonari Otsuru, acredita que seu cliente ficará detido até o julgamento, o que pode acontecer dentro de alguns meses.

Em seu primeiro depoimento desde que foi detido por suspeita de fraude financeira, o magnata do setor automotivo, de 64 anos, afirmou que agiu com "honra, legalmente e com o conhecimento e a aprovação dos diretores da Nissan". Recordou que "dedicou duas décadas de sua vida para reerguer" a montadora japonesa e disse que foi "acusado falsamente e detido de maneira injusta".

No dia 10 de dezembro, o empresário franco-brasileiro-libanês foi acusado de sonegar 5 bilhões de ienes (44 milhões de dólares) em imposto de renda entre 2010 e 2015. Ghosn também é suspeito de sonegação de renda entre 2015 e 2018, de abuso de confiança, assim como de desviar dinheiro de uma conta da Nissan para um amigo saudita.

Ele nega todas as acusações, e a Renault optou por permanecer discreta e manter sua confiança no CEO, enquanto a Nissan e a Mitsubishi Motors rapidamente o retiraram da presidência do conselho de administração.

Ao forçar que o tribunal permitisse que Ghosn falasse em público, "o advogado conseguiu, talvez, fazer críticas ao sistema judiciário japonês, com pouca esperança de influenciar decisões futuras", analisa Yasuyuki Takai, ex-inspetor da unidade especial responsável pela investigação desse tipo de caso e que hoje atua como advogado.

"As pessoas encarregadas da investigação não se deixarão influenciar, isso é certo", acrescenta.

O presidente da Renault, que já passou 50 dias preso em Tóquio, não será libertado automaticamente ao final de sua prisão preventiva.

Liberdade sob fiança

A promotoria de Tóquio pode decidir na sexta-feira processar o CEO pela segunda vez por quebra de confiança (o motivo de sua atual detenção) e, neste caso, teria início um período paralelo de outra prisão preventiva.

"O risco de ser processado é muito significativo, uma vez que será algo excepcional, se os investigadores desta unidade de elite procederem a uma prisão sem terem acumulado provas materiais sólidas", insiste Takai.

Motonari Otsuru disse a mesma coisa à imprensa ao final da audiência de terça.

"De modo geral, no caso de negar totalmente as acusações de abuso de confiança, a libertação sob fiança geralmente não é aprovada até que comece o julgamento", declarou Otsuru, acrescentando que "informou a Ghosn sua preocupação a esse respeito".

"Os investigadores conhecem o temperamento de Ghosn e certamente não esperam nenhuma confissão: a maneira como procederam até agora permite pensar que eles tentam fazer que ele revele como planeja se defender para poderem se antecipar", explicou Takai, que conhece as técnicas desta unidade.

Um delito, uma prisão

A Promotoria também pode processá-lo por ter participado da redução de honorários, de 2015 a 2018. O Ministério Público igualmente pode decidir infligir um quarto motivo para a detenção e devolvê-lo à prisão preventiva por 48 horas, renovável, desta vez, duas vezes por dez dias, mas na condição de que o tribunal aprove.

"O princípio no Japão é 'um delito, uma prisão'. Os investigadores trabalharam por meses no caso e, se acreditarem que acumularam provas sobre outros fatos, eles têm a possibilidade de mantê-lo em prisão preventiva com outras acusações", acrescenta Takai.

Se não houver novos processos, Ghosn terá mais chances de ser libertado, pois seu ex-braço direito Greg Kelly, processado na mesma data, em 10 de dezembro, foi libertado sob fiança no dia 25 daquele mês.

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