Londres - Após a "humilhante" derrota de seu acordo de Brexit, Theresa May enfrentará, nesta quarta-feira, uma moção de censura, votação que pode resultar em seu afastamento do governo. Embora pareça que a votação não deva prosperar, acentua o caos a apenas 72 dias da saída prevista do Reino Unido da União Europeia (UE).
Muitos políticos britânicos teriam renunciado após um golpe dessa envergadura, mas não May, conhecida por sua tenacidade. A premiê disse estar determinada a tirar o país da UE, em conformidade com o resultado do referendo de 2016.
Líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn apresentou uma moção de censura contra o governo conservador. O debate será a partir das 13h locais (11h em Brasília) na Câmara dos Comuns, com votação às 19h (17h em Brasília).
- Theresa May perde votação de acordo do Brexit por ampla maioria do Parlamento
- Assembleia da Venezuela declara 'formalmente a usurpação' do governo
- Macron pede debate 'sem tabus' para superar crise dos 'coletes amarelos'
- Battisti se diz mudado e doente, relatam policiais que o acompanharam
- Macri reúne-se com Bolsonaro nesta quarta em Brasília
Apesar da catástrofe da véspera, May perdeu no Parlamento por 432 a 202 votos, é muito provável que a primeira-ministra sobreviva mais uma vez.
O pequeno partido unionista norte-irlandês DUP já anunciou que, apesar de ter rejeitado o acordo do Brexit na terça, apoiará May para que possa voltar a Bruxelas para negociar a saída do Reino Unido do grupo. Com dez deputados, o DUP é essencial para que os Tories mantenham sua estreita maioria nesta Casa.
Muitos dos conservadores que votaram contra o acordo de May devem seguir o mesmo caminho, já que não desejam perder o poder para Corbyn, em caso de eleições legislativas antecipadas.
"Contando os números dos partidos da oposição, é pouco provável que ganhemos", admitiu o braço direito do líder trabalhista, John McDonnell, em declarações à rede BBC.
Ele advertiu, porém, que "o ambiente no Parlamento neste momento é completamente imprevisível".
Obstinada
Se não for expulsa do poder, May volta ao Parlamento na segunda-feira com um plano B. Este novo texto deverá ser debatido, sujeito a emendas e votado.
"A primeira-ministra vai falar com os líderes parlamentares de toda Câmara e buscará uma via que conte com uma maioria", explicou Andrea Leadsome, representante do governo no Parlamento.
Se May continuar insistindo em defender seu acordo, é possível que pró-europeus e eurocéticos também se entrincheirem em suas posições, acentuando o drama em um Parlamento sem apoio majoritário para qualquer alternativa possível - desde um segundo referendo até um Brexit duro.
Hoje, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que "ainda temos tempo para negociar" um acordo sobre o Brexit, em função de eventuais propostas da premiê Theresa May.
"Ainda temos tempo para negociar, mas esperamos, agora, o que a primeira-ministra proporá", disse Merkel à imprensa, reconhecendo que "talvez se possa melhorar um, ou dois, pontos" do texto atual.
"Queremos que as perdas - haverá, em qualquer caso - sejam as menores possíveis. Então, claro, tentaremos encontrar uma solução ordenada conjunta", completou Merkel.
Apenas o presidente da UE, Donald Tusk, ousou sugerir, porém, que Londres pode simplesmente dar marcha a ré.
"Se um acordo é impossível, e ninguém quer um Brexit sem acordo, quem terá, enfim, o valor de dizer qual é a única solução positiva?", tuitou.