Presidente russo Vladimir Putin e o papa Francisco se encontraram no Vaticano - AFP
Presidente russo Vladimir Putin e o papa Francisco se encontraram no VaticanoAFP
Por AFP
Vaticano - O presidente russo Vladimir Putin, em plena crise com o Ocidente, iniciou nesta quinta-feira uma visita à Roma com um encontro com o papa Francisco no Vaticano.

Em seguida, o líder russo foi almoçar com o presidente italiano Sergio Mattarella, antes de encontrar o primeiro-ministro Giuseppe Conte, assim como os dois vice-premiês e líderes políticos do governo populista, Matteo Salvini (Liga, extrema direita) e Luigi di Maio (Movimento 5 Estrelas, antissistema).


Putin, famoso por sua falta de pontualidade, atrasou-se em uma hora para o terceiro encontro com Francisco, que durou 55 minutos.

O papa ofereceu ao presidente russo uma medalha comemorativa da Primeira Guerra Mundial, bem como sua mensagem para a Jornada Mundial da Paz. Putin, por sua vez, um livro e um filme sobre Michelangelo.

Em seu último encontro, em 2015, Francisco exortou o russo a "fazer um esforço significativo e sincero para alcançar a paz" na Ucrânia, sem chegar a condená-lo como os católicos ucranianos desejavam.

Um passo gigantesco foi dado em fevereiro de 2016 durante um encontro histórico em Cuba entre Francisco e o patriarca ortodoxo russo Kirill, o primeiro em mil anos entre os líderes das duas maiores denominações cristãs.

Na quarta-feira, o porta-voz do Kremlin Yuri Uchakov indicou que Putin e o papa discutiriam "a preservação de locais sagrados cristãos na Síria", mas não uma possível viagem do papa à Rússia. Essa hipótese ainda desperta forte resistência dentro da Igreja ortodoxa russa, atravessada por uma corrente nacionalista e conservadora.

A Ucrânia, onde os rebeldes pró-russos do leste são em sua maioria ortodoxos ligados ao patriarcado de Moscou e lutam contra outros ortodoxos e gregos-católicos ligados a Roma, continua a ser um terreno delicado.

Com as autoridades italianas, "as questões econômicas serão uma prioridade. Nosso comércio não está subindo ao nível de antes" das sanções impostas em 2014 (54 bilhões na época, 26,9 bilhões em 2018), ressaltou o conselheiro do Kremlin Yuri Ushakov.

Em uma entrevista publicada nesta quinta-feira pelo jornal italiano Corriere della Sera, Putin ressaltou a resiliência dos laços econômicos bilaterais: 500 empresas italianas representadas na Rússia, 4,7 bilhões de dólares de investimentos italianos na Rússia desde o começo do ano e 2,7 bilhões de investimentos russos na Itália.

A Rússia é atingida desde 2014 por sanções econômicas europeias e americanas sem precedentes devido à crise ucraniana.

O presidente russo também quer discutir com as autoridades italianas as relações Rússia-UE, Síria, Ucrânia, Líbia, bem como o programa nuclear iraniano.

E Vladimir Putin deverá encontrar bons ouvintes no governo populista italiano. Salvini é um de seus fervorosos admiradores.

O programa conjunto do governo Liga-M5S prevê fazer todo o possível para obter uma revisão das sanções contra a Rússia, enquanto a resposta russa pesa contra as exportações italianas.

Após sua visita ao Vaticano, o presidente russo almoça com Mattarella, antes de encontrar Conte. Depois, os dois vão discursar durante um fórum de diálogo russo-italiano.

Salvini e Di Maio participarão de um jantar oficial.

Antes de retornar à Rússia, Putin também encontrará, de maneira informal, seu amigo Silvio Berlusconi.