O presidente do Afeganistão Ashraf GhaniAFP

O presidente afegão, Ashraf Ghani, disse que fugiu do país neste domingo(15) para "evitar um banho de sangue", quando o Talibã entrou na capital, concluindo uma ofensiva relâmpago em todo o país.

Ghani, que não informou para onde foi, afirmou que "incontáveis patriotas seriam martirizados e a cidade de Cabul seria destruída" se ele permanecesse.

"O Talibã venceu ... e agora é responsável pela honra, propriedade e autopreservação de seus compatriotas", disse ele em um comunicado postado no Facebook.
Ghani fugiu, neste domingo, do Afeganistão, entregando efetivamente o poder ao Talibã, que chegou a Cabul, símbolo de sua vitória militar em apenas dez dias.
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O movimento radical islâmico está a um passo do retornar ao poder, 20 anos depois de ser derrubado por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos por sua recusa em entregar o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, após os ataques de 11 de setembro de 2001.

No início da noite, o ex-vice-presidente Abdullah Abdullah anunciou que o presidente Ashraf Ghani havia "deixado" o país. Esta partida conclui a derrota das últimas semanas, após sete anos no poder durante os quais não conseguiu reconstruir o país.

"O ex-presidente deixou o Afeganistão, deixando o povo nesta situação. Ele prestará contas a Deus e o povo o julgará", disse Abdullah, também chefe do Conselho Superior para a Reconciliação Nacional.
No início do dia, Zabihullah Mujahid, um porta-voz do Talibã, anunciou no Twitter que o "Emirado Islâmico ordena a todas as suas forças que esperem nas portas de Cabul, não tentem entrar na cidade".

Mais tarde, porém, indicou que estavam autorizados a entrar nas áreas da capital abandonadas pelo Exército para manter a ordem. Os insurgentes também prometeram que não vão buscar vingança, incluindo contra soldados ou funcionários que serviram ao atual governo.

Apelando aos afegãos a "não se desesperarem", o ministro do Interior, Abdul Sattar Mirzakwal, assegurou que ocorreria uma "transferência pacífica de poder" para um governo de transição.

Outro porta-voz dos insurgentes, Suhail Shaheen, confirmou à BBC que espera uma transferência pacífica de poder "nos próximos dias".

"Queremos um governo inclusivo (...) o que significa que todos os afegãos farão parte dele", disse.
Em apenas dez dias, os talibãs - que lançaram sua ofensiva em maio coincidindo com o início da retirada final das tropas americanas e estrangeiras - assumiram o controle de quase todo o país.

A derrota é total para as forças de segurança afegãs, que foram financiadas por 20 anos com bilhões de dólares pelos Estados Unidos, e para o governo do presidente Ghani. O chefe de Estado apelou às forças de segurança para que garantam "a segurança de todos os cidadãos".

"É nossa responsabilidade e faremos isso da melhor maneira possível. Quem pensar em criar caos ou saques será tratado com força", disse ele em uma mensagem de vídeo.

O Talibã assumiu recentemente o controle de duas prisões perto da capital, libertando milhares de prisioneiros, e as autoridades temiam que os criminosos perturbassem a ordem pública.