"A acusada foi encontrada (...) Um médico vai determinar se pode ser detida, e o tribunal decidirá depois se a ordem de detenção será executada, ou não", afirmou a porta-voz do tribunal de Itzehoe, Frederike Milhoffer.
A idosa será julgada por cumplicidade no assassinato de mais de 10 mil pessoas.
Na manhã desta quinta-feira, 20 minutos após o horário previsto para o início do julgamento na cidade de Itzehoe, norte da Alemanha, o presidente do tribunal anunciou a fuga da acusada e emitiu uma ordem de detenção.
"Abandonou seu lar (para pessoas da terceira idade) esta manhã. Pegou um táxi", disse Milhoffer.
Irmgard Furchner, que no momento dos crimes atribuídos a ela tinha entre 18 e 19 anos, será a primeira mulher envolvida com o nazismo julgada em várias décadas no país.
O processo precederá o julgamento de um ex-guarda, de 100 anos, do campo de concentração nazista de Sachsenhausen, perto de Berlim, que começará na próxima semana.
A Alemanha, que por muito tempo hesitou em procurar seus criminosos de guerra, nunca havia julgado ex-nazistas tão idosos.
O julgamento de Furchner acontecerá às vésperas do 75º aniversário da condenação à morte por enforcamento em Nuremberg de 12 dos principais dirigentes do Terceiro Reich.
A acusação afirma que a nonagenária participou do assassinato de detentos no campo de concentração de Stutthof, na atual Polônia. Lá, trabalhou como datilógrafa e secretária do comandante do campo, Paul Werner Hoppe, entre junho de 1943 e abril de 1945.
Quase 65.000 pessoas morreram no campo, perto da cidade de Gdansk, incluindo "prisioneiros judeus, guerrilheiros poloneses e prisioneiros de guerra soviéticos", segundo a Promotoria.
Ordens de execução
"Também digitou as ordens de execução e de deportação e colocou suas iniciais", declarou o advogado à emissora regional pública NDR.
Após um longo procedimento, a Justiça considerou em fevereiro que a idosa estava apta para comparecer a julgamento, apesar da idade avançada. As audiências deveriam durar apenas poucas horas a cada dia.
Passados 76 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a Justiça alemã continua procurando ex-criminosos nazistas ainda vivos.
Diferentes promotores alemães estão examinando, atualmente, oito casos que envolvem, em particular, ex-funcionários dos campos de Buchenwald e Ravensbrück, informou à AFP o Escritório Central para o Esclarecimento de Crimes do Nacional-Socialismo.
Morte de suspeitos
Apesar de a Alemanha ter condenado na última década quatro ex-guardas ou funcionários dos campos nazistas de Sobibor, Auschwitz e Stutthof, o país julgou poucas mulheres envolvidas com o regime nazista, relatam historiadores.
A Justiça examinou os casos de pelo menos três funcionárias de campos nazistas. Entre eles, estava o de outra secretária que trabalhava em Stutthof, mas ela faleceu no ano passado, antes da conclusão do processo.
No momento, o MP de Neuruppin, perto de Berlim, examina o caso de uma mulher que trabalhou no campo de Ravensbrück, segundo a sede central de Ludwigsburgo.
Quase quatro mil mulheres trabalharam como guardas nos campos de concentração, segundo os historiadores, mas poucas foram julgadas após a guerra.
Entre as que responderam por crimes cometidos durante o Terceiro Reich está a guarda do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau Maria Mandl, conhecida como "a fera". Ela foi enforcada em 1948, após sua condenação à morte por um tribunal da Cracóvia.
Entre 1946 e 1948, em Hamburgo, 38 pessoas, incluindo 21 mulheres, compareceram a audiências com juízes militares britânicos por terem trabalhado no campo de concentração de Ravensbrück, especialmente reservado a mulheres.
A jurisprudência estabelecida pela condenação em 2011 de John Demjanjuk, um guarda do campo de Sobibor em 1943, a cinco anos de prisão, permite agora processar por cumplicidade em dezenas de milhares de assassinatos qualquer auxiliar de campo de concentração, de um guarda até um contador.
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