Diversas explosões abalaram a mesquita de Fatemieh, no centro da cidade de KandaharJaved Tanveer/AFP

Ao menos 41 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas nesta sexta-feira (15) em um atentado suicida reivindicado pelo Estado Islâmico em uma mesquita xiita na cidade de Kandahar, feudo dos talibãs no sul do Afeganistão.
Segundo testemunhas, várias explosões abalaram a mesquita de Fatemieh, no centro de Kandahar, a segunda cidade do país, durante a oração do meio-dia desta sexta-feira, o dia de descanso da semana para os muçulmanos, no qual muitas pessoas se reúnem para rezar.
"Estamos lotados. Há muitos corpos e muita gente ferida. Precisamos urgentemente de mais sangue", declarou à AFP um médico do hospital central Mirwais da cidade.
O grupo Estado Islâmico do Khorasan (EI-K), que realizou um atentado similar há uma semana em Kunduz, reivindicou o ataque, executado por dois homens-bomba que explodiram em partes distintas da mesquita.
"O primeiro homem-bomba detonou seu colete com explosivos em um corredor da mesquita, enquanto o segundo detonou seu colete no centro da mesquita", afirmou o EI-K em comunicado divulgado no Telegram.
Um responsável talibã local confirmou à AFP que foi um "atentado suicida".
O chefe da polícia talibã em Kandahar, Maulvi Mehmood, condenou "energicamente" o atentado e afirmou que "todos os serviços de segurança estão trabalhando para encontrar os envolvidos e puni-los".
Segundo ele, a segurança da comunidade xiita estava até agora garantida pela própria comunidade. Mas "no futuro, temos a intenção de nos responsabilizarmos por todos esses locais de culto com a mobilização de guardas", disse.
Tiros antes da explosão
"De acordo com as informações de nossos hospitais, 41 pessoas morreram e cerca de 70 ficaram feridas", disse à AFP Hafiz Abdulhai Abbas, funcionário da Saúde em Kandahar.
Informações de algumas testemunhas citam tiros disparados antes das explosões. "Estávamos nos preparando para a oração quando ouvimos tiros", declarou Sayed Rohullah, um segurança da mesquita, à AFP.
"Duas pessoas entraram na mesquita e atiraram nos guardas, que abriram fogo. Um deles se explodiu", acrescentou.
Tanto Rohullah como outras testemunhas disseram que dois outros terroristas detonaram seus explosivos, o que elevaria o número de participantes no ataque para três.
O interior, a entrada e o chão da mesquita estavam cobertos por escombros. Algumas paredes estavam perfuradas pelas explosões, observou um repórter da AFP.
Imagens postadas nas redes sociais, cuja autenticidade não pôde ser verificada imediatamente, mostravam corpos caídos no chão.
Rivalidades talibãs e EI
Desde sua chegada ao poder em 15 de agosto, o Talibã enfrenta uma onda de atentados promovidos pelo Estado Islâmico (EI).
Seu ramo local, responsável por alguns dos ataques mais sangrentos no Afeganistão e Paquistão, mirou nos talibãs e na minoria xiita afegã nas últimas semanas.
O EI-K é um rival do movimento islâmico Talibã, embora ambos sejam sunitas. De acordo com a empresa de análise de conflitos ExTrac, com sede no Reino Unido, o ataque desta sexta-feira seria o primeiro atentado do EI-K em Kandahar.
O Talibã, que tem seu próprio histórico de perseguição aos xiitas, voltou ao poder no Afeganistão em 15 de agosto e, desde então, fez da segurança sua prioridade, após vinte anos de guerra.
Os xiitas representam entre 10% e 20% da população afegã. Muitos deles são hazaras, etnia perseguida há décadas no país.
O porta-voz do Ministério do Interior, Qari Sayed Khosti, tuitou: "Estamos tristes por sabermos da explosão em uma mesquita da irmandade xiita no primeiro distrito da cidade de Kandahar, na qual alguns de nossos compatriotas foram martirizados e feridos".