Primeiro-ministro português, Antonio Costa discursou durante debate sobre o orçamento para 2022AFP
Conforme previsto, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista se alinharam com a oposição de direita contra a lei de orçamento para 2022 submetida pelo governo minoritário, formado em 2015.
A rejeição desta lei, algo que nunca havia acontecido desde o retorno da democracia portuguesa em 1974, não implica automaticamente a queda do governo ou a antecipação das eleições, normalmente previstas para o final de 2023.
No entanto, o presidente conservador Marcelo Rebelo de Sousa, que buscava forçar um compromisso orçamentário crucial para obter os fundos europeus estabelecidos no contexto da pandemia de covid-19, já havia dito que usaria seu poder de dissolução em caso de bloqueio da lei orçamentária.
"Nunca quis que chegássemos até aqui e fiz de tudo para evitar isso, mas também deixei explícito qual seria a consequência", disse ele nesta quarta-feira antes do voto.
"Se a assembleia não tiver capacidade de adotar um orçamento que é fundamental para o país, seria positivo devolver a palavra aos portugueses para que digam o que pensam sobre a futura assembleia", disse o chefe de Estado, no norte do país.
Imediatamente após o voto, a Presidência anunciou que realizará as consultas necessárias para que o chefe de Estado possa dissolver o Parlamento e determinar uma data eleitoral. Rebelo de Sousa receberá os partidos no sábado, antes de uma "reunião especial" de seu Conselho de Estado na quarta-feira.
Antonio Costa, que não considera renunciar, alertou que "a última coisa que o país precisa (...) é uma crise política nessas circunstâncias".
Para o líder da oposição de direita Rui Rio, "as eleições devem acontecer o mais rápido possível", ou seja, a partir de janeiro.
Frágil união da esquerda
Naquele momento, a esquerda havia superado suas divisões para acabar com a política de austeridade aplicada pela direita em troca do plano de resgate internacional concedido a Portugal em 2011.
Mas as discussões sobre o orçamento de 2022 colidem principalmente com a vontade da esquerda radical de revogar as disposições do código do trabalho herdadas da época da "troika" dos credores (UE-BCE-FMI).
Esta frágil união da esquerda, conhecida pelos portugueses como "jerigonza", começou a rachar após as eleições do outono boreal de 2019.
Costa, que foi o mais votado, mas não alcançou a maioria por oito cadeiras, se absteve então de negociar novos acordos que garantiriam a estabilidade até as legislativas previstas para o final de 2023, preferindo negociar pontualmente os apoios parlamentares necessários.
Um ano atrás, o orçamento de 2021 foi aprovado por pouco, graças à abstenção da coalizão comunista-verde e de um pequeno partido animalista.
Neste ano, a estagnação orçamentária se materializou quando o Partido Comunista, seguindo o exemplo do Bloco de Esquerda, anunciou na segunda-feira sua intenção de votar contra o projeto do governo, exigindo maiores esforços a favor do poder de compra e dos serviços públicos.
Por outro lado, o cenário de eleições legislativas antecipadas poderia prejudicar todas as forças presentes, exceto a extrema direita, que espera consolidar seu avanço da eleição presidencial de janeiro deste ano, disse à AFP a cientista política Paula Espirito Santo, da Universidade de Lisboa.
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