Nesta terça-feira, manifestantes queimaram pneus na capital Cartum em protesto contra o golpe militarAFP

O Conselho de Direitos Humanos da ONU pediu nesta sexta-feira, 5 o "retorno imediato" do governo civil ao poder no Sudão, após o golpe de 25 de outubro, que levou o exército a controlar o país, limitando os direitos humanos.
A resolução, aprovada por consenso, também condena "a detenção injusta" do primeiro-ministro Abdallah Hamdok, bem como de outros funcionários do governo, e apela aos militares "para libertarem imediatamente (...) todos os indivíduos detidos ilegal e arbitrariamente".
Muitos países responderam à denuncia do embaixador britânico em Genebra, Simon Manley, que falou da "dramática deterioração da situação dos direitos humanos" desde o golpe.
“O povo sudanês se levantou pacificamente contra o golpe de Estado, pelo qual a comunidade internacional lhes envia uma sólida mensagem de apoio e se compromete, através do consenso desta resolução, a monitorar o retorno ao estado de direito, respeito pelos direitos humanos e reintegração do governo de transição", disse o embaixador francês em Genebra, Jerome Bonnafont.
Convocada com urgência a examinar o projeto de resolução apresentado pelo Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos e Noruega, o órgão pede a Michelle Bachelet, alta comissária para os direitos humanos, nomear um especialista para monitorar o respeito pelos direitos humanos no país.
Por sua vez, Bachelet disse na quarta-feira, 3, que o golpe de 25 de outubro no Sudão é "profundamente preocupante". Como Bachelet apontou durante a reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, o golpe "trai a revolução corajosa e inspiradora de 2019".
Denunciou também uma série de violações de direitos humanos, como o tiroteio contra manifestantes que deixou 13 mortos e mais de 300 feridos, segundo Bachelet, e o corte da internet após o golpe, que deixou a população sem informação.
A Rússia estava "preocupada com o agravamento da situação no país" e considera "importante evitar uma escalada". Mas o representante de Moscou afirmou que a sessão extraordinária foi uma "interferência inaceitável" nos assuntos internos de um país. China e Venezuela compartilham desse ponto de vista e, junto com a Rússia, foram os únicos que não apoiaram publicamente o consenso adotado.
O deputado do representante permanente do Sudão em Genebra, Osman Abu Fatima Adam Mohammed, disse em mensagem divulgada esta semana que fala em nome do país, ocupando o lugar do embaixador, Abi Talib Abdelrahman Mahmoud. Embora, de acordo com as regras da ONU, Mahmoud ainda seja o representante oficial.
Entretanto, a situação no Sudão muda rapidamente face aos esforços internacionais para lançar uma transição democrática.
O chefe do Exército, general Abdel Fattah al-Burhan, ordenou a libertação na quinta-feira de quatro ministros que haviam sido detidos no dia do golpe.