Com uma taxa de incidência de 550 infecções por 100 mil habitantes em sete dias, a Baviera é uma das regiões mais afetadas por essa onda na Alemanha Miguel SCHINCARIOL / AFP
Hospitais alemães enfrentam falta de vagas durante nova onda de covid-19
Apesar do número de pacientes em UTI's permanecer abaixo do pico alcançado no final de 2020, os hospitais do país estão mais vulneráveis devido à grave escassez de profissionais de saúde
Por falta de vagas na unidade de terapia intensiva, a equipe do hospital bávaro de Freising (sul) transferiu um paciente com covid-19 para um estabelecimento no norte da Itália, medida inédita na Alemanha desde o início da pandemia do coronavírus.
Nos 18 meses de pandemia, os hospitais alemães foram regularmente solicitados a cuidar de pacientes de países europeus sobrecarregados.
No entanto, desde outubro, com a nova onda de covid-19, a primeira economia da Europa tem se perguntado quanto tempo seu sistema de saúde vai aguentar.
"Na semana passada tivemos que transferir um paciente para Merano (Itália) porque não tínhamos capacidade e os hospitais da Baviera ao redor também estavam lotados", explica Thomas Marx, diretor do hospital de Freising, uma cidade de 50 mil habitantes.
Com uma taxa de incidência de 550 infecções por 100 mil habitantes em sete dias, a Baviera é uma das regiões mais afetadas por essa onda.
"Estamos no limite de nossas capacidades", explica o Dr. Marx, de 43 anos, preocupado. Sua unidade de terapia intensiva tem atualmente 13 pacientes, "três a mais do que nossa capacidade normal". Cinco deles têm covid-19, todos não vacinados.
Em todo o país, o número de pacientes com coronavírus em terapia intensiva permanece abaixo do pico alcançado no final de 2020, mas os hospitais estão mais vulneráveis devido à grave escassez de profissionais de saúde.
"Não há um limite a partir do qual diremos que todo o sistema de saúde entrará em colapso", afirma Gerald Gass, presidente da associação alemã de hospitais. Mas já existem "sinais de alerta", destacou essa semana ao jornal Handelsblatt, citando tensões em hospitais na Baviera e Thüringe, outra região particularmente afetada.
Pessoal esgotado
No hospital de Freising, o Dr. Marx descreve "uma grande incompreensão" da equipe do hospital diante do agravamento da situação que era, segundo ele, "previsível e poderia ter sido evitada".
Com uma taxa de 67,7%, a Alemanha não se destaca entre os países da Europa Ocidental como um dos mais vacinados.
Nesta quinta-feira, o Parlamento vai aprovar com urgência um projeto de lei que restabelece as restrições para tentar impedir o aumento de novas infecções diárias - entre 30.000 e 50.000 esta semana.
O plano prevê um retorno ao teletrabalho e a necessidade do passe sanitário para o transporte público. O texto preparado pela coalizão de governo, que em breve sucederá a maioria de Angela Merkel, deve permitir que os Länder tomem medidas voltadas para as pessoas não vacinadas.
Várias regiões, inclusive Berlim, já proíbem o acesso a eventos culturais, esportivos e até restaurantes.
A situação é agora muito mais delicada nos hospitais alemães, já que contam com "4.000 leitos de terapia intensiva há menos devido ao esgotamento do pessoal de saúde, que deixou seus empregos ou reduziu o tempo de trabalho", explica Gernot Marx, presidente da Associação Alemã de Medicina Intensiva (DIVI).
Uma carência enfrentada diariamente pelo Dr. Niklas Schneider, chefe do serviço de terapia intensiva da clínica Munich Schwabing. "Temos muito menos pessoal especializado do que durante as primeiras ondas".
Como em Freising, sua unidade de terapia intensiva opera em plena capacidade e o Dr. Schneider fala de uma situação "catastrófica".
De acordo com a revista Spiegel, apenas um quarto das 1.300 unidades de terapia intensiva funciona com capacidade total, devido à falta de pessoal.
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