General Abdel Fatah al Burhane assumiu o controle do SudãoAFP

Cartum - O primeiro-ministro do Sudão, Abdullah Hamdok, retoma as rédeas do processo de transição após um acordo alcançado neste domingo (21) com o general Abdel Fattah al Burhan, chefe do exército e autor do golpe que o depôs, enquanto milhares de pessoas continuavam se manifestando.
Dentro do palácio presidencial, em frente ao qual as forças de segurança lançaram granadas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que gritavam "não ao poder militar", os dois homens assinaram um acordo de divisão do poder e prometeram retomar o processo de transição.
Nas ruas, a mobilização continuou. Os organizadores que promoveram a revolta que encerrou a ditadura de 30 anos de Omar al Bashir em 2019, anunciaram que rejeitam "qualquer acordo que permita aos golpistas permanecerem em qualquer autoridade de transição", segundo a Associação de Profissionais do Sudão, líder dos protestos há dois anos.
Desde o golpe militar de 25 de outubro, os protestos deixaram 40 mortos e centenas de feridos, de acordo com uma associação médica pró-democracia.
Hamdok, em sua primeira aparição pública desde o golpe, prometeu em um breve discurso "acabar primeiro com o derramamento de sangue no Sudão".
- "A paciência" de Hamdok -
Por sua parte, o general Burhan o "agradeceu por sua paciência" depois que o ex-economista passou quase um mês em prisão domiciliar.
Em virtude do acordo firmado, também serão libertados os ministros e líderes civis presos no dia 25 de outubro.
Apesar do anúncio, milhares de manifestantes saíram para protestar em Cartum e seus subúrbios, em Kasala e Port Sudan (leste) e Atbara (norte).
As forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo contra os manifestantes reunidos em frente ao palácio presidencial na capital, segundo constatou um jornalista da AFP.
O anúncio deste domingo ocorre após semanas de mediação para tirar o país da crise. Durante esse período, embaixadores ocidentais, negociadores da ONU e personalidades da sociedade civil sudanesa se reuniram com civis e militares.
O objetivo era relançar uma transição que deveria levar o país a eleições livres em 2023, após 30 anos da ditadura militar de Bashir, que foi destituído pelo Exército após massivas manifestações.
- "Sem negociação" -
Apesar do anúncio do retorno de Hamdok, os defensores da transferência total do poder para os civis mantiveram a mobilização.
As Forças pela Liberdade e Mudança, o principal bloco de defesa dos direitos civis do Sudão, rejeitaram imediatamente o acordo.
"Reiteramos claramente que não há possibilidade de negociação ou associação" com "os golpistas", disseram, pedindo que os generais sejam levados à justiça por sua repressão sangrenta aos protestos.
Por sua vez, o partido Oumma, o maior do país, afirmou “rejeitar qualquer acordo político que não aborde as raízes da crise gerada pelo golpe militar”.
Semanas atrás, o general al Burhan parecia determinado a manter o poder, apesar da rejeição da comunidade internacional e dos manifestantes.
Nesse sentido, nomeou um novo conselho de governo no qual manteve sua posição de hierarca, junto com um poderoso comandante paramilitar, três altos oficiais militares, três ex-líderes rebeldes e um civil.
A comunidade internacional denunciou a repressão aos protestos em várias ocasiões, pedindo o retorno ao processo de transição democrática.
Dado o elevado número de vítimas entre os manifestantes, a polícia afirma que nunca abriu fogo. Segundo as forças da ordem, os protestos deixaram apenas um morto e 30 feridos devido, segundo eles, ao gás lacrimogêneo.