Vendas do comércio crescem 1,4% de abril para maio, diz IBGE Fernando Frazão/Agência Brasil

Depois de quase dois anos de pessimismo com a pandemia, os consumidores americanos parecem dispostos a gastar generosamente durante as festas de fim de ano, apesar das preocupações com a inflação e a disponibilidade de produtos.

As redes varejistas registraram um forte interesse de compras no outono (hemisfério norte, primavera no Brasil), com a "volta às aulas" e as vendas de Halloween, o que alimentou o otimismo sobre a temporada de Natal, que começa esta semana com a "Black Friday".

"Tudo indica que os consumidores americanos estão esperando para celebrar a temporada de Natal", afirmou na semana passada o presidente executivo da Target, Brian Cornell. "Estão ansiosos para encontros com parentes e amigos".

Porém, os preços da gasolina subiram mais de 60% na comparação com o ano passado, enquanto a festa de Ação de Graças deste ano custará 14% a mais que em 2020, segundo a 'American Farm Bureau Federation', grupo de lobby agrícola. A escassez de produtos é outra preocupação.

Na semana passada, Target, Walmart e outras grandes redes anunciaram que teriam estoque suficiente, apesar dos problemas da cadeia de abastecimento. Apesar das promessas, certamente faltarão consoles de videogame populares e alguns produtos eletrônicos de alta demanda da Apple e de outras empresas que atualmente são difíceis de encontrar.

Envios atrasados
As preocupações sobre a escassez aumentaram em outubro, quando a Casa Branca anunciou uma iniciativa para ampliar o horário de operação nos portos da costa oeste para acabar com engarrafamentos logísticos.

Desde então, alguns sinais de melhora foram registrados. O porto de Los Angeles informou na semana passada uma redução de 35% na quantidade de contêineres que permanecem por nove dias ou mais no terminal. Mas os portos são apenas uma das fontes do problema, destaca Jen Blackhurst, professora da Universidade de Iowa especializada nas cadeias de abastecimento.

Ela advertiu que a falta de produtos nas lojas ou atrasos nas entregas podem ser provocados também por problemas trabalhistas, como a falta de caminhoneiros. "Não considero que vai acontecer uma escassez em larga escala, mas não acredito que será uma temporada de Natal normal".

A Federação Nacional do Varejo projeta um aumento nas vendas de Natal de entre 8,5% e 10,5%, ao mesmo tempo em que aponta que uma grande temporada dependerá em parte da capacidade das lojas de repor as mercadorias.

Os varejistas adotaram medidas extraordinárias nesta temporada, como importar e armazenar itens mais cedo do que o normal, ordenar remessas por frete aéreo e, em alguns casos, até fretar seus próprios navios. O aumento dos custos, no entanto, deve ser repassado aos consumidores.

Algumas redes, como a Williams-Sonoma, proprietária da empresa de artigos de cozinha de mesmo nome, e a de artigos de luxo Pottery Barn, eliminaram gradualmente as promoções em seus sites. Também foram registrados aumentos de preços no comércio eletrônico, que segundo as estimativas da consultoria Adobe podem representar até 25% dos gastos da temporada de fim de ano.
Em outubro de 2021, os preços na internet aumentaram 1,9% em ritmo anual, o 17º mês consecutivo de inflação desde junho de 2020 e uma mudança marcante desde o período pré-pandemia, quando os preços do setor caíram, segundo o índice de preços digitais Adobe. "As pessoas têm a ideia convencional de que comprar online está sempre disponível e sempre é mais barato", disse Vivek Pandya, analista da Adobe. "E é isso que está mudando com a pandemia".

Neil Saunders, analista da consultoria GlobalData Retail, adverte que a inflação "está minando muito a capacidade de gasto das pessoas", mas ele espera uma espécie de recuo em 2022 na comparação com dezembro.

Uma coisa que não vai atrapalhar a temporada de compras nos Estados Unidos é a covid-19, prevê Saunders, citando a falta de entusiasmo para adotar restrições comparáveis às da Europa. "Muitas pessoas dirão 'já é suficiente'", afirma.