Militares ucranianos em posto de controle em Kiev, capital da UcrâniaAFP

A retirada dos civis do leste da Ucrânia, prosseguiu, neste sábado, 9, com os ameaçadores ruídos de artilharia que chegavam da linha de frente, um dia depois do bombardeio na estação de trens de Krematorsk, que deixou mais de 50 mortos.
Vários micro-ônibus e caminhonetes chegaram para buscar os sobreviventes do bombardeio, que passaram a noite em uma igreja protestante do centro da cidade, próxima à estação atacada, constataram os jornalistas da AFP.
Cerca de 80 pessoas, em sua maioria idosos, buscaram abrigo nesse templo. "Ontem entre 300 e 400 pessoas correram para cá logo após o bombardeio", contou Yevguen, membro da igreja.
"Estavam traumatizadas. A metade correu para se refugiar no porão, outros queriam partir antes. Alguns foram retirados à tarde em um ônibus. Finalmente, ficaram 80, também há sete na minha casa", explicou um voluntário.
Os refugiados dormiram na pequena igreja em colchões no chão e tomaram o café-da-manhã preparado pelos voluntários antes de irem embora.
Segundo o último balanço oficial das autoridades regionais, no bombardeio contra a estação, na sexta-feira, 8, morreram 52 pessoas e 109 ficaram feridas enquanto tentavam fugir desta região do Donbass sob controle dos ucranianos e ameaçada de uma ofensiva maior dos russos.
Estação fechada
Um dia depois da tragédia, a estação estava fechada e os acessos bloqueados por faixas de interdição. Tábuas de madeira substituíram algumas das janelas quebradas pelas explosões, mas os veículos queimados continuavam na esplanada em frente à estação. O imponente corpo de um míssil, que ficou cravado no gramado de uma rotatória diante da estação, seguia onde caiu.

A noite foi tranquila, sem nenhuma explosão, mas de longe se escutavam os ruídos de artilharia nas linhas de frente próximas à localidade a 20 quilômetros a norte e a nordeste dali.
Ainda que essas linhas de frente não tenham grande agitação ou mudança, Kramatorsk está rodeada pelo sul e pelo leste pelas repúblicas separatistas pró-russas de Donetsk e Lugansk e, ao norte, pelas tropas russas. As trocas de tiros são constantes, assim como as tentativas de invadir localidades como Severodonetsk e Popaska, no leste, e Krasnopylla e Barvinkove, mais a oeste.
Muitos temem que os russos lancem uma estratégia de pinça nesta região majoritariamente russófona, que então ficaria sitiada, como aconteceu com Mariupol.

Na zona rural de Barvinkove, soldados ucranianos e membros da Defesa Territorial se cavavam trincheiras e fortaleciam suas posições. Também colocavam minas às margens das rodovias e obstáculos anti-tanques nos cruzamentos. "Nós ficaremos aqui até a vitória final", afirmou um oficial local.

"Me dê uma kalashnikov, que estou esperando por eles", disse um camponês local de idade avançada. "Os russos estúpidos são nossos irmãos, por que nos bombardeiam?", expressou.

Evacuação
As autoridades ucranianas de Donetsk e Lugansk reiteram nos últimos dias os pedidos para que os civis saiam do oeste do país. Há trens e ônibus para a operação, que é realizada com a ajuda de inúmeros voluntários.
Devido à estação de Kramatorsk ter ficado inutilizada, há quatro trens previstos da cidade vizinha de Sloviansk em direção ao oeste do país. Mais discretamente, seguem as retiradas no outro sentido, em direção a territórios pró-russos pelas estradas.
Várias filas de carros, frequentemente velhos Lada russos com malas no teto, se dirigem a cada dia em direção ao norte, aos territórios sob controle do exército russo, com o acordo tácito dos soldados ucranianos em seus últimos postos de controle, constatou um jornalista da AFP.

"Nós vamos para lá por que temos família. Há comida, calma e não há problemas", declarou à AFP um homem de uns 30 anos, que se preparava para a viagem com sua família. À pergunta de se não temem as tropas russas, o homem responde que "há bons e maus em ambos os lados".
Esta região do Donbass, que foi uma zona industrial digna de orgulho durante a era soviética, agora está arruinada e dividida em dois pela guerra que começou em 2014. Alguns habitantes não manifestam a intenção de fugir com a chegada dos russos.