Rússia amplia domínio sobre cidade-chave no leste da UcrâniaAFP

As forças russas continuam ganhando terreno nesta sexta-feira (27) no leste da Ucrânia, apertando o cerco sobre a estratégica cidade de Severodonetsk, depois que os separatistas pró-russos informaram que tomaram a localidade de Lyman, um importante entreposto ferroviário.

Em sua conta no Telegram, o Estado-Maior da milícia separatista pró-russa de Donetsk indicou que "assumiu o controle total" de Lyman, com o apoio das unidades militares da região separatista de Luhansk e das Forças Armadas de Moscou.

Por ora, nem o exército russo nem o ucraniano comentaram essa informação e a AFP não pôde verificá-la de maneira independente.

Após fracassar em sua tentativa de tomar Kiev e Kharkiv, Moscou concentra seus esforços para conquistar completamente o Donbass, uma bacia mineradora que compreende as regiões de Donetsk e Luhansk e onde os separatistas pró-russos controlam uma parte do território desde 2014.

Lyman é um importante entreposto ferroviário a nordeste de Slaviansk, tomada brevemente pelos separatistas pró-Rússia em 2014, e de Kramatorsk, a capital da região de Donetsk, controlada pela Ucrânia.

A conquista de Lyman permitiria às tropas russas liberar o último obstáculo para avançar rumo a Slaviansk e Kramatorsk, em uma manobra para cercar Severodonetsk e Lysychansk, mais a leste.

Cerco sobre Severodonetsk
Após diversas semanas de bombardeios, as forças russas praticamente cercaram Severodonetsk, cujo governador advertiu que poderia sofrer o mesmo destino que Mariupol, uma importante cidade portuária do sudeste devastada após semanas de assédio.

O chefe da administração da cidade, Alexander Striuk, manifestou que a situação era "muito difícil", mas negou que as tropas russas tivessem cercado a cidade por completo.

"Quase dois terços do perímetro da cidade estão ocupados pelo inimigo, mas ela não está cercada", disse, citado pelo governador regional Serhiy Haiday.

Um oficial da polícia da república separatista pró-russa de Luhansk, citado pela agência RIA Novosti, disse, por outro lado, que a cidade estava "atualmente cercada", e que as tropas ucranianas haviam perdido qualquer possibilidade de sair.

Ao menos cinco civis morreram em 24 horas na região: quatro em Severodonetsk e um em Komychuvakha, a 50 quilômetros dali, disse nesta sexta o governador Haiday.

"Os moradores de Severodonetsk esqueceram o que é um cessar-fogo de meia hora", escreveu no Telegram.

Bombardeios em Kharkiv e Dnipro
Em Dnipro, cidade industrial do centro-leste, um responsável informou nesta sexta de "uma dezena" de mortos e cerca de 30 feridos em um bombardeio russo contra um terreno militar.

Mais ao norte, em Kharkiv, as sirenes antiaéreas voltaram a ser acionadas na madrugada desta sexta. Na véspera, um bombardeio deixou nove mortos e 19 feridos, entre eles um bebê de cinco meses e seu pai, assinalou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

A Rússia havia abandonado sua ofensiva sobre essa cidade para concentrar seus efetivos no leste e no sul da Ucrânia, e sua população tentava um difícil retorno à normalidade.

Mas as forças de Moscou ainda mantêm posições ao leste de Kharkiv, enquanto os ucranianos cavam trincheiras no entorno da cidade e instalam blocos de concreto, sacos de areia e controles diante de uma eventual nova ofensiva.

A Ucrânia voltou a pedir mais armas aos países ocidentais.

"Alguns parceiros evitam dar as armas necessárias por medo de uma escalada. Escalada, é sério? A Rússia já está utilizando as armas não nucleares mais pesadas, está queimando gente viva. Talvez seja o momento [...] de nos dar MLRS [lança-foguetes múltiplos]", escreveu Mykhailo Podolyak, assessor da presidência ucraniana, em seu perfil no Twitter.

O Kremlin, que segundo os analistas quer consolidar seus avanços no sul e no leste da Ucrânia antes de qualquer solução negociada, rechaçou na quinta-feira um plano de paz da Itália.

A proposta previa um cessar-fogo e a retirada de tropas sob supervisão da ONU, a entrada da Ucrânia na UE, mas não na Otan e um status de autonomia para o Donbass e a Crimeia sob soberania ucraniana.

'Ponte ferroviária'
A guerra entre Ucrânia e Rússia, grandes exportadores de grãos e responsáveis por um terço da produção mundial de trigo, está afetando o mercado de alimentos global e causa o temor de uma escassez de comida.

O presidente russo, Vladimir Putin, voltou a rechaçar qualquer responsabilidade nesta crise, durante uma conversa com o chanceler austríaco Karl Nehammer.

Putin "ressaltou que as tentativas de culpar a Rússia pelas dificuldades no fornecimento de produtos agrícolas nos mercados mundiais são infundados", garantiu o Kremlin em comunicado.

Na quinta-feira, o presidente russo se ofereceu para ajudar a "superar a crise alimentar" que ameaça o mundo em troca do levantamento das sanções dos países ocidentais contra Moscou.

Uma proposta que os Estados Unidos qualificaram de chantagem. "Agora utilizam ferramentas econômicas como armas. Estão transformando a comida em uma arma", criticou o porta-voz do Pentágono, John Kirby.

Os portos ucranianos estão bloqueados. Em um pronunciamento para um think tank da Indonésia, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que cerca de 22 milhões de toneladas de grãos estavam acumuladas em silos.

"Estamos trabalhando para exportá-los por outras rotas, por trem e portos europeus, mas o volume será obviamente menor do que através do Mar Negro", disse o mandatário, acusando a Rússia de "obstaculizar esses esforços" mediante o bombardeio de pontes e estações ferroviárias.

Para ajudar a Ucrânia a contornar o bloqueio russo, a Alemanha propôs a criação de uma "ponte ferroviária" com a Ucrânia para transportar a mercadoria, indicou o próximo responsável militar dos EUA na Europa, o general Chris Cavoli.

Nesse contexto, Zelensky falará na segunda-feira aos dirigentes da UE reunidos em Bruxelas. Os 27 países-membros voltariam a buscar um acordo sobre um eventual embargo ao petróleo russo, que é rejeitado pela Hungria.