Cada vez mais isolada, Rússia sofreu críticas até da China, principal aliada, na tentativa de anexar territórios da Ucrânia ao paísAFP

Kiev - Autoridades leais a Moscou nas regiões ocupadas da Ucrânia iniciaram nesta sexta-feira, 23, os referendos de anexação à Rússia, criticados pelos líderes do G7, grupo composto por integrado por Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Canadá e Japão, que prometeram nunca reconhecê-los. Os referendos representam uma nova escalada da guerra iniciada em 24 de fevereiro.
"Nunca reconheceremos esses referendos que parecem ser um passo rumo à anexação e nunca reconheceremos essa suposta anexação se ela acontecer", declararam os líderes do G7.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, estava confiante em que "o mundo reagirá com total justiça aos pseudo-referendos". "Eles serão condenados inequivocamente", disse.
A comissão de investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Ucrânia garantiu nesta sexta-feira, após visitar 27 cidades e questionar mais de 150 vítimas da violência, que "crimes de guerra foram cometidos" no país.
No mesmo dia, a exumação de 447 corpos de uma vala comum em Izium, cidade recapturada das mãos dos russos no nordeste, revelou "sinais de tortura", inclusive com a "amputação de genitais" em pelo menos 30 cadáveres.
Mas as críticas internacionais e de Kiev não impediram Moscou de seguir adiante com os referendos na Ucrânia. As votações nas regiões de Donetsk e Lugansk (leste), assim como em Kherson e Zaporizhzhia (sul) às 5h locais, informaram as agências de notícias russas.
Os referendos, que terão duração de cinco dias, aumentam a tensão de uma semana marcada pela mobilização de 300 mil reservistas anunciada pelo presidente russo Vladimir Putin, que também ameaçou utilizar o arsenal nuclear para proteger o território de seu país.
Estava previsto para que centenas de colégios eleitorais nos quatro territórios fossem abertos, assim como outros na Rússia, para que os deslocados também pudessem votar.
"Esperamos que, após o referendo, parem de nos bombardear e tenhamos paz e ordem", declarou à AFP Vladimir Shutov, da região de Lugansk e que foi votar na representação de Donetsk em Moscou.
Em Moscou, São Petersburgo e outras cidades, as autoridades organizaram manifestações de apoio aos referendos com bandeiras e cartazes.
"Esses referendos são um passo rumo à paz", disse Viktor Suvorov, de 40 anos, que participou da manifestação em Moscou.
Mas a Rússia parece isolada em seu objetivo. A China, sua aliada mais próxima desde o início da guerra, criticou Moscou de maneira velada ao garantir que "é preciso respeitar a soberania e a integridade territorial de todos os países".
Além disso, o chanceler chinês, Wang Yi, se reuniu nesta sexta-feira em Nova York com o colega ucraniano, Dmitro Kuleba. Os referendos recordam a consulta organizada em 2014 na península da Crimeia, anexada à Rússia depois de uma votação considera fraudulenta pelas potências ocidentais.
Uma hipotética integração à Rússia das quatro regiões, que os analistas consideram algo certo, implicaria que Moscou, seguindo sua doutrina, poderia utilizar suas armas atômicas para defendê-las da contraofensiva iniciada pela Ucrânia no leste e sul do país.
Putin afirmou que protegeria o território russo por "todos os meios" cabíveis, enquanto o ex-presidente e atual número dois do Conselho de Segurança do país, Dmitri Medvedev, indicou que isso poderia envolver o uso de "armas nucleares estratégicas".
No início do mês, as forças ucranianas recuperaram a maior parte da região de Kharkiv (nordeste), uma contraofensiva que permitiu a Kiev retomar centenas de cidades e localidades que passaram meses sob controle russo.
Nesta sexta-feira, o exército ucraniano anunciou a libertação da cidade de Yatskivka, em Donetsk, no leste. Também revelou um avanço ao sul de Bajmut (leste), que os russos tentam tomar, sem sucesso, há meses.
Em Odessa, importante porto do Mar Negro, uma ataque russo com um drone iraniano matou uma pessoa, segundo as autoridades locais. O porta-voz do presidente Volodimir Zelensky denunciou o apoio a Moscou de Teerã, cujas entregas de armas "vão contra a integridade territorial" da Ucrânia.
Moscou iniciou na quinta-feira a convocação obrigatória, depois que Putin anunciou a mobilização de 300 mil reservistas para reforçar o esforço de guerra. O Exército russo informou que pelo menos 10 mil pessoas se apresentaram como voluntárias para o combate nas 24 horas posteriores ao anúncio de Putin.
Porém, muitos homens também estão fugindo da Rússia antes que sejam forçados ao alistamento, em particular para as ex-repúblicas soviéticas que permitem a entrada sem visto.
A Finlândia decidiu adotar medidas para limitar "significativamente" a entrada de cidadãos russos em seu território, enquanto os países bálticos e a Polônia já bloqueiam a entrada há semanas.