Flores em memorial criado na estação de metrô de Itaewon, distrito onde aconteceu o acidenteAnthony Wallace/AFP
Polícia sul-coreana admite que foi alertada para riscos de tumulto que deixou mais de 150 mortos
Tragédia aconteceu em uma festa de Halloween em Seul, capital do país; centenas de pessoas ficaram feridas
Seul - O comandante de polícia nacional da Coreia do Sul admitiu, nesta terça-feira, 1º, que os agentes receberam vários alertas sobre o perigo antes da aglomeração do evento de Halloween, em Seul. Segundo a autoridade, a resposta foi "insuficiente". A tragédia aconteceu no último sábado, 29, e deixou ao menos 156 mortos. Outras centenas de pessoas ficaram feridas no tumulto.
A polícia sabia que "uma grande multidão estava reunida inclusive antes do acidente, o que indicava a urgência do perigo, mas o uso desta informação foi insuficiente", reconheceu o comandante, Yoon Hee-keun.
Quase 100.000 pessoas, em sua maioria jovens, compareceram à área da festa, primeira de Halloween pós-pandemia, no popular distrito de Itaewon. O evento não foi "oficial", nem teve um organizador designado. A polícia e as autoridades locais não controlaram o fluxo de participantes.
O ministro do Interior, Lee Sang-min, pediu desculpas nesta terça-feira pela tragédia. "Gostaria de aproveitar esta oportunidade para expressar minhas desculpas sinceras ao povo, como ministro responsável pela segurança da população, por este acidente", afirmou na Câmara dos Deputados. Ele foi a primeira autoridade do país a se retratar.
A Coreia do Sul é considerada um país eficiente no controle de aglomerações. Os protestos geralmente tem uma grande presença policial, a ponto de superar o número de participantes nas manifestações. A polícia afirmou na segunda-feira, 31, que enviou 137 agentes ao local, enquanto 6.500 controlavam um protesto do outro lado da cidade com a presença de 25.000 pessoas, segundo a imprensa sul-coreana.
O presidente do país, Yoon Suk-yeol, afirmou que o Estado precisa melhorar de maneira urgente o sistema de controle de grandes multidões. "A segurança das pessoas é importante, com a presença ou não de um organizador do evento", afirmou em uma reunião de gabinete.
Ele pediu o desenvolvimento de um sistema digital "de última geração" para melhorar a gestão de multidões, mas os críticos destacaram que tais ferramentas existem e não foram usadas em Itaewon. A prefeitura de Seul tem um sistema para monitorar multidões em tempo real que utiliza dados de smartphones para antecipar aglomerações, mas que não foi empregado no último sábado, reportou a imprensa.
As autoridades do distrito não organizaram patrulhas de segurança, pois consideraram que o evento não era um "festival" que exigiria um plano de gerenciamento de multidões.
Dezenas de milhares de pessoas lotaram um beco íngreme de três metros de largura no máximo. Testemunhas relataram cenas de caos quando as pessoas se empurravam para passar pelo local. Os presentes disseram que os jovens ficaram bloqueados no beco e tentaram sair, com alguns subindo em cima de outros.
Analistas apontam que isto poderia ter sido facilmente evitado com um pequeno número de policiais. "Um gerenciamento bom e seguro de multidão (...) exige uma estratégia para controlar a capacidade para receber pessoas, o fluxo e a densidade", afirmou Keith Still, professor da Universidade de Suffolk.
O especialista sul-coreano Lee Young-ju disse que, se a polícia sabia que estava sobrecarregada, poderia ter procurado ajuda das autoridades locais ou mesmo de moradores ou lojas da área. "Não é apenas uma questão de números", declarou o professor do Departamento de Incêndios e Desastres da Universidade de Seul.
"A pergunta é: o que fizeram com o número limitado (de policiais) e que tipo de medidas adotaram para compensar isto?", questiona.
Dezenas de flores foram depositadas na estação de metrô de Itaewon em memória às vítimas.