Centro de convenções recebe a COP27 neste domingoJOSEPH EID / AFP
O conflito na Ucrânia fez com que o mundo ocidental impusesse bloqueios econômicos à Rússia, um dos maiores responsáveis pelo fornecimento de petróleo e gás para a Europa. O resultado foi a retomada da exploração de combustíveis fósseis no continente que liderava tradicionalmente a discussão sobre o uso de fontes renováveis.
Apesar de previsto desde 2015, pelo Acordo de Paris, o financiamento para os países em desenvolvimento nunca chegou ao nível mínimo de US$ 100 bilhões por ano como foi definido. O último relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no entanto, aponta que este valor nunca foi atingido. Em 2020, US$ 83,3 bilhões foram repassados por países desenvolvidos, valor 4% maior em relação a 2019, mobilizado principalmente por fundos públicos, mas ainda insuficiente para atingir o estipulado.
Para o ex-embaixador Rubens Barbosa, colunista do Estadão, a retórica sobre os problemas relacionados ao clima e ao meio ambiente devem continuar e alguns acordos podem ser anunciados, mas não se pode esperar muito além. "Os US$ 100 bilhões nunca aconteceram e não devem acontecer agora", afirma.
Mas, se o aquecimento global é um problema que atinge a todos e não pode ser evitado sem que medidas drásticas como o corte de emissões de gases do efeito estufa sejam tomadas, por que essas questões não são resolvidas de uma vez?
Um dos problemas em relação à questão das perdas e danos, por exemplo, é que para as nações ricas isso corresponde a assumir um passivo histórico de emissões e estabelecer um compromisso financeiro com os países em desenvolvimento que eles tentam evitar. Como a COP é, além da cúpula do clima, um tabuleiro geopolítico em que as nações se medem e tentam fazer valer interesses, é preciso muita negociação antes de um consenso. Assim, é importante saber como chegam os principais países para o encontro.
Estados Unidos
Em setembro, na Assembleia-Geral da ONU, Biden afirmou que o governo americano tem liderado a agenda climática de forma "ousada", desde que tomou posse, e ressaltou os compromissos do país com o Acordo de Paris (do qual Donald Trump havia retirado os EUA) e o pacote contra inflação que incluiu pela primeira vez na história americana o compromisso de promover o uso de energia limpa.
Para quem espera que o país se comprometa com o financiamento climático, no entanto, o resultado pode ser frustrante. Dois dias após o início da COP, os americanos terão as eleições de meio de mandato. "Já está ocorrendo uma reação muito forte à agenda ESG com os republicanos. Há uma contradição entre a retórica e a prática", afirma Barbosa.
União Europeia
No primeiro semestre de 2022, o consumo de carvão na Europa aumentou cerca de 10% para suprir os cortes de fornecimento ao gás natural russo e deve continuar subindo. Na véspera do inverno no Hemisfério Norte, a ameaça de cortes de energia e racionamento segue rondando. Itália, Grécia, Alemanha, Holanda e Hungria fizeram anúncios que, de diferentes formas, incentivam o uso de carvão.
A questão do financiamento também não deve encontrar receptividade além da retórica no bloco, fustigado pelos efeitos da guerra. "Haverá uma dificuldade de levar a questão do financiamento adiante", diz Barbosa.
Brasil
O País terá um estande oficial no evento, mas os olhos do mundo estarão mais voltados mesmo para o futuro presidente. "A importância da presença dele está na necessidade de catalisar as agendas ambiental e social", diz a ex-ministra do Meio Ambiente nas gestões petistas Izabella Teixeira - conselheira da COP-27. "Lula é uma voz estratégica."
A presença dele, porém, não apagará resultados negativos sucessivos nas taxas de desmate da Amazônia. Hoje, o País é visto com desconfiança e repúdio internacional e do atual governo pouco ou nada se espera. Da futura gestão, o nome do próximo ministro e o detalhamento da política climática transversal podem surgir. E é esperado que o País tenha a partir de 2023 uma secretaria de mudanças climáticas.
China
Em Glasgow, a China se recusou a assinar o pacto pela eliminação do uso de carvão, o que não deve mudar neste ano, e não garantiu a entrada no pacto pela redução de emissão de metano. O anúncio conjunto com os EUA para aumentar suas ambições climáticas, no entanto, surpreendeu o mundo. Neste ano, os observadores internacionais esperam que os chineses invistam mais na comunicação de avanços internos. O País que se comprometeu a atingir o pico de emissões até 2030 e neutralizá-las até 2060 desenvolve políticas verdes como o subsídio a fábricas de veículos elétricos e incentivos à transição energética.
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