Pequim suspendeu de maneira repentina as limitações às viagens internacionais, apesar da onda local de contágiosAFP

O governo dos Estados Unidos se uniu ao número crescente de países que adotam restrições aos viajantes procedentes da China, depois que Pequim suspendeu de maneira repentina as limitações às viagens internacionais, apesar da onda local de contágios. O país exigirá que os viajantes da China apresentem um teste covid-19 negativo a partir do dia 5 de janeiro. Itália, Japão, Índia e Malásia também anunciaram medidas restritivas para tentar impedir a importação de variantes a partir do país chinês.
Hospitais de toda a China estão sobrecarregados com a explosão de casos de coronavírus após o fim da política de "covid zero", que conseguiu controlar as infecções, mas afetou gravemente a economia e provocou muitos protestos.
O país anunciou na segunda-feira, 26, o fim da exigência de quarentena para as pessoas que chegam do exterior, o que motivou milhares de chineses a planejar viagens internacionais.
Em resposta, vários países, incluindo Estados Unidos, passaram a exigir a apresentação de exames com resultado negativo de covid-19 para admitir a entrada de visitantes procedentes da China.
"O rápido aumento da transmissão de covid-19 na China aumenta a possibilidade do surgimento de novas variantes", afirmou uma fonte do Departamento de Saúde americano à imprensa.
Pequim divulgou informações limitadas sobre as variantes que circulam na China, de acordo com a mesma fonte. Os testes e relatórios sobre novos casos também diminuíram.
Itália, Japão, Índia e Malásia também anunciaram medidas restritivas para tentar impedir a importação de variantes a partir da China.
O governo chinês criticou o que chamou de "exagero, difamação e manipulação política" da imprensa ocidental.
"Nos últimos três anos respondemos de maneira efetiva a cinco ondas mundiais de infecções, ganhando tempo precioso para o desenvolvimento de vacinas e remédios", afirmou nesta quinta-feira o porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin.
A China ainda não permite a entrada de visitantes estrangeiros e mantém a suspensão de emissão de vistos para turistas e estudantes internacionais.
Mas o fim da quarentena obrigatória provocou um enorme interesse entre os habitantes da China por viagens ao exterior, depois de um longo confinamento no país desde que Pequim determinou restrições em março de 2020.
A Itália anunciou na quarta-feira que exigirá testes de coronavírus para as pessoas que chegam ao país procedentes da China.
O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu "medidas adequadas para proteger" a população e afirmou que o governo monitora a "evolução da situação na China".
A Comissão Europeia deve ter uma reunião nesta quinta-feira para discutir "possíveis medidas para uma abordagem coordenada" da União Europeia aos contágios na China.
Chineses no aeroporto internacional de Pequim se mostraram compreensivos, em geral, com as medidas.
"É bom ver nossas fronteiras reabertas", disse um passageiro que viajaria para Budapeste. "Cada país tem suas próprias políticas. Nós as seguimos e vamos aonde precisamos ir", acrescentou.
Mas um homem que revelou apenas o sobrenome, Hu, de 22 anos, considerou as regras desnecessárias e "um pouco discriminatórias".
"Nossa política de covid para chegadas internacionais é aplicada de maneira igual para todos. Por que os outros países têm que dar tratamento especial aos viajantes da China?", questionou.
Outro passageiro, Qiu Yilong, afirmou no centro de Pequim que os viajantes devem aceitar as regras porque "não há opção".
Ao mesmo tempo, os hospitais chineses lutam para enfrentar o aumento de contágios, que afetam, em particular, os idosos e pessoas vulneráveis.
Jornalistas da AFP observaram nesta quinta-feira em um hospital de Xangai o momento em que pacientes com máscaras eram retirados de várias ambulâncias.
Eles ouviram um paciente discutindo com a equipe do hospital depois de esperar por quatro horas para receber medicação.
Em Tianjin, 140 quilômetros ao sudoeste de Pequim, a AFP visitou duas emergências de hospitais lotadas de pacientes com o vírus.
Um médico afirmou que os profissionais de saúde foram convocados a trabalhar mesmo quando estão infectados.
A AFP observou mais de 20 pacientes, a maioria idosos, deitados em macas em locais abertos das emergências e pelo menos um corpo em um quarto.
"A fila de espera para uma consulta com um médico é de quatro horas", disse um funcionário a um idoso que afirmou estar com covid-19. "Há 300 pessoas antes do senhor", explicou.
A Comissão Nacional de Saúde da China anunciou na semana passada o fim da publicação do balanço diário de mortes por coronavírus.
Mas com o fim dos testes em larga escala e a decisão chinesa de alterar a definição de mortes por covid, os números não eram mais confiáveis para alguns analistas.