Antes da visita ao México, Joe Biden esteve na fronteira de El Paso, no TexasAFP

Cidade do México - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reúne-se nesta segunda-feira, 9, com o homólogo mexicano, Andrés Manuel López Obrador, para discutir a incessante migração ilegal e o tráfico de fentanil, duas crises sem solução a curto prazo. O chefe do Executivo do México antecipou que apresentará a Biden a necessidade de aumentar o investimento nos países de origem dos migrantes em condição ilegal.
"Não há, no presidente Biden, uma negativa. Pelo contrário, convergimos" nesse aspecto, disse o presidente em sua coletiva diária, acrescentando que discutiu o assunto com seu homólogo americano após recebê-lo no aeroporto na noite de ontem.
Depois de sua chegada, Biden destacou no Twitter que "os problemas na fronteira não surgiram da noite para o dia. E não serão resolvidos da noite para o dia".
O presidente disse que seu governo está utilizando as ferramentas disponíveis para "limitar a migração ilegal" e "ampliar a legalidade", mas destacou que, para recompor este sistema "quebrado", o Congresso americano "deve atuar".
Biden e López Obrador se reunirão na noite desta segunda-feira, no Palácio Presidencial, na Cidade do México. O encontro bilateral acontece um dia antes da Cúpula de Líderes da América do Norte, que será realizada junto com o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.
As cerca de 2,3 milhões de prisões e expulsões de migrantes em condição clandestina no ano fiscal de 2022, as 108 mil mortes por overdose de drogas em 2021, assim como a migração e o narcotráfico, estarão no centro do encontro de Biden com o presidente mexicano.
"Há muitas crianças separadas de suas famílias", denunciou, no domingo, em Ciudad Juárez, o venezuelano José David Meléndez, de 25 anos, expulso enquanto o presidente visitava a vizinha El Paso, no Texas.
O democrata visitou El Paso em um gesto aos seus adversários, que o criticam por não ter pisado na fronteira de 3.100 quilômetros em dois anos de governo.
Antes de viajar para El Paso, Biden anunciou um programa migratório limitado a Cuba, Haiti, Nicarágua e Venezuela, mergulhados em uma profunda crise. O fluxo incessante de emigrantes em situação ilegal desses países afeta várias nações.
O programa permitirá a entrada mensal de até 30 mil pessoas por dois anos, ao mesmo tempo em que reforçará as expulsões daqueles que entrarem ilegalmente em território americano.
Mas, sem um plano robusto para lidar com os refugiados, "essas novas medidas apenas colocarão os requerentes de asilo em situações perigosas", alertou a ONG Comitê Internacional de Resgate.
"O México é particularmente relevante quando se trata de lidar com os dois graves problemas, que se tornaram vulnerabilidades políticas para Biden", disse o presidente do "think tank" Inter-American Dialogue, Michael Shifter, à AFP.
"É esperado que o presidente (americano) pressione por uma maior cooperação" em ambas as frentes e que AMLO exija algo em troca, possivelmente, "menos pressão" sobre questões comerciais, afirmou Shifter.
Washington e Canadá mantêm uma disputa com o México, no âmbito do acordo comercial USMCA, sobre uma reforma energética que ampliou a participação do Estado no setor.
O encontro bilateral Biden-AMLO também será marcado pela tragédia do fentanil, uma droga sintética 50 vezes mais potente que a heroína, cuja produção e tráfico são controlados por cartéis mexicanos com componentes químicos da China, segundo a DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos.
Quase dois terços das 108.000 mortes por overdose nos EUA em 2021 envolveram opioides sintéticos. A quantidade de fentanil apreendida somente em 2022 seria mais do que suficiente para matar toda população dos Estados Unidos, diz a agência.
Por isso, Biden busca "ampliar o intercâmbio de informações" com o México e "fortalecer a prevenção", afirmou o responsável pela diplomacia dos EUA para a América Latina, Brian Nichols.
Em 2021, os dois países anunciaram uma mudança em suas políticas antidrogas para focar nas causas do narcotráfico, após 15 anos de uma estratégia com ênfase na participação ativa das forças militares. Desde seu lançamento em 2006, o México acumula cerca de 340 mil assassinatos e milhares de desaparecidos, sem que os cartéis tenham perdido força.
Em meio a este banho de sangue, o governo mexicano apresentou duas ações contra fabricantes de armas de fogo americanos.
Especialistas em segurança veem um esfriamento da cooperação no âmbito da política de "abraços, não tiros", de López Obrador, que contrasta com operações como a captura, na quinta-feira passada, em Culiacán, de Olívio Guzmán, filho de Joaquín "Chapo" Guzmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos.
A mudança climática também estará sobre a mesa de debates, depois que os dois países anunciaram na COP27 um projeto de energia renovável que exigirá US$ 48 bilhões em investimentos. Nele, o México promete expandir suas metas de redução de gases de efeito estufa até 2030.
 
yug-axm/ltl/llu/cjc/jc/tt