Segundo o Ministério do Interior da Espanha, o jovem marroquino sorria em uma foto tirada após a sua prisãoAFP

Algeciras - A cidade espanhola de Algeciras homenageou nesta quinta-feira, 26, o sacristão Diego Valencia assassinado na quarta, 25, após um ataque contra duas igrejas católicas. O autor, identificado como um marroquino, de 25 anos, não possuía antecedentes criminais, mas ele tinha ordem de expulsão do país desde junho. Preso, ele deve responder pelo crime de terrorismo.
Além do sacristão morto a facadas, um padre foi ferido durante o ataque a duas igrejas localizadas no centro da cidade portuária no extremo sul de Espanha. Centenas de pessoas, com semblantes tristes e algumas chorando, reuniram-se ao meio-dia desta quinta na Plaza Alta de Algeciras, em frente à igreja de Nossa Senhora de La Palma, perto do local do assassinato.
Os participantes respeitaram um minuto de silêncio enquanto os sinos da igreja tocavam. No local onde o sacristão Diego Valencia foi morto, moradores da cidade colocaram ramos de flores, velas e uma pequena bandeira da Espanha.
Segundo o Ministério do Interior, o jovem marroquino, que aparece de barba e sorrindo em uma foto tirada após a sua detenção, entrou na igreja de San Isidro de Algeciras depois no fim da tarde de quarta-feira. Armado com um facão, atacou o padre, deixando-o gravemente ferido.
"Em seguida, entrou na igreja de Nossa Senhora de La Palma na qual, depois de causar vários estragos, agrediu o sacristão", que conseguiu "sair da igreja mas foi alcançado pelo agressor do lado de fora, onde sofreu ferimentos mortais", de acordo com o ministério.
Gravemente ferido no pescoço, o padre Antonio Rodríguez foi operado na noite de quarta-feira e nesta quinta-feira estava "fora de perigo" e aguardava alta, informaram os Salesianos, sua congregação religiosa, em um comunicado.
O suspeito do ataque teve "um processo de expulsão por situação irregular" aberto "em junho passado", um "processo administrativo (...) cuja execução não é imediata", explicou em mensagem um porta-voz do Ministério do Interior aos jornalistas.
"Ele não tinha antecedentes criminais e de terrorismo na Espanha nem em outros países aliados", acrescentou o porta-voz, que garantiu que o suspeito não esteve sob vigilância policial "nem nos últimos dias nem anteriormente".
Segundo vários meios de comunicação espanhóis, o jovem marroquino, detido logo após o ataque, morava perto das igrejas. O ministério indicou que durante a madrugada de quinta-feira foi realizada uma busca na casa do suspeito e que "todos os bens apreendidos" estão sendo analisados.
Embora um tribunal tenha aberto uma investigação por suposto terrorismo, o governo até agora se recusou a comentar a natureza dos fatos. O ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, que afirmou que "não há terceiros envolvidos nos acontecimentos", chegará a Algeciras na tarde desta quinta-feira "para continuar as investigações no local", informou o seu gabinete.
José Manuel Calvo estava nas dependências da igreja de Nossa Senhora de la Palma quando ouviu os gritos do agressor. Outras testemunhas "disseram que ele se referia a Alá", disse à AFP. A cidade de 120 mil habitantes ficou em choque.
"Nesses momentos, você pensa que está vivendo um filme (...) Você não acredita", disse Juan José Marina, pároco de Nossa Senhora de La Palma, que teve que deixar Algeciras naquela tarde e foi substituído pelo sacristão.
"Se estou vivo é porque Diego morreu. Aquele era o meu lugar", diz Marina, visivelmente emocionado.
Após os atentados, multiplicam-se os apelos à convivência e para que se evite culpar qualquer grupo. César García Magán, secretário-geral da Conferência Episcopal Espanhola, disse em um evento com jornalistas que foram "atos condenáveis, injustificáveis, execráveis", mas alertou para o "perigo de demonizar grupos".
"Tem sido algo que foge a toda a lógica", disse à rádio pública RNE Dris Mohamed Amar, porta-voz da União dos Muçulmanos da região, que disse esperar "que seja um caso isolado, de um louco, um doente, e não algo premeditado."
Os últimos ataques jihadistas graves na Espanha datam de agosto de 2017 e ocorreram em Barcelona e no balneário de Cambrils, ambos na Catalunha. Os ataques, reivindicados pelo grupo Estado Islâmico, deixaram 16 mortos e 140 feridos.