No encontro com autoridades, o Papa Francisco promete abordar temas como pobreza, corrupção e violência no CongoAFP

Kinshasa - O Papa Francisco teve uma fervorosa recepção ao desembarcar na tarde desta terça-feira, 31, em Kinshasa, República Democrática do Congo. Ele é o primeiro pontífice a visitar o país desde João Paulo II, em 1985. Francisco inicia de quatro dias em meio ao conflito no leste congolês. Apesar da riqueza de minerais, milhões de pessoas foram removidas da região marcada por combates internos e pobreza.
Desde a manhã desta terça, os moradores de Kinshasa se reuniram em torno do aeroporto internacional à espera do pontífice. Ao som de cânticos, tambores, fanfarras e outros instrumentos típicos, a multidão foi aumentando na medida em que as horas se passavam. Após o desembarque, o comboio oficial iniciou um trajeto de cerca de 25 km até o centro da cidade. Milhares de pessoas que se aglomeravam nas principais avenidas da capital.
"Não fiquem em casa amanhã, venham receber o papa", pediu na segunda-feira um porta-voz do governo aos moradores de Kinshasa, capital de um país onde a Igreja Católica desempenha um papel importante na sociedade e na política.
Inicialmente prevista para julho de 2022, a visita foi adiada devido às dores no joelho que afetam Francisco, que está com 86 anos e utiliza uma cadeira de rodas em seus deslocamentos, assim como pelos problemas de segurança em Goma, no nordeste do país, etapa da viagem que foi cancelada.
"Estamos esperando há um ano, é uma bela viagem, gostaria de visitar Goma, mas, por causa da guerra, não posso", declarou o líder católico aos jornalistas que o acompanharam no avião.
Em sua 40ª viagem internacional, e a quinta ao continente africano, o pontífice argentino pedirá que se silenciem as armas em um país abalado pela violência e no qual dois terços de seus 100 milhões de habitantes vivem com menos de 2,15 dólares por dia, cerca de R$ 11.
O país africano enfrenta há vários meses o ressurgimento do grupo armado M23, que conquistou amplas faixas do território de Kivu do Norte, província na fronteira com Ruanda, que o governo da RD do Congo acusa de interferência. A visita papal acontece duas semanas depois de um ataque mortal reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI) em uma igreja pentecostal nesta província.
Anteriormente conhecido como Zaire, com riquezas como cobre, cobalto, ouro, diamantes, urânio, coltan e estanho, a República Democrática do Congo tem uma história marcada pelo colonialismo, a escravidão e os abusos. Também é a terra de Patrice Lumumba, líder anticolonialista africano, que foi o primeiro-ministro do Congo independente em 1960, derrubado e assassinado.
Após a recepção no aeroporto, o líder da Igreja Católica percorrerá, a bordo do papamóvel, as ruas que seguem até o Palácio da Nação, onde é esperado pelo presidente Félix Tshisekedi. O Papa pronunciará o primeiro discurso diante das autoridades, do corpo diplomático e de representantes da sociedade civil.
"Será a oportunidade para enviar uma mensagem forte aos políticos e abordar o tema da corrupção", afirmou Samuel Pommeret, da ONG CCFD Terre Solidaire, em referência a um dos grandes males do país.
Durante a noite, dezenas de milhares de pessoas devem participar de uma vigília de oração no aeroporto N'dolo de Kinshasa, onde passarão a noite, antes de uma grande missa na quarta-feira, com a previsão de mais de um milhão de fiéis. Francisco também se reunirá com vítimas da violência, deslocados, membros do clero e representantes de instituições de caridade.
Com 52 milhões de católicos, a ex-colônia belga representa o futuro para o catolicismo, que está perdendo fiéis na Europa e na América Latina. Na sexta-feira, 3, Francisco viajará para Juba, capital do Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo e um dos mais pobres do planeta, onde permanecerá até 5 de fevereiro.