O Ministério da Defesa do Peru autorizou a atuação das Forças Armadas nas ações de desbloqueio de estradas e rodovias do paísAFP
Escalada de protestos faz Congresso peruano adiar debate sobre antecipação das eleições
Presidente em exercício, Dina Boluarte revela preocupação com bloqueios que geram escassez de produtos básicos e combustível no país
Lima - O Congresso do Peru adiou para a tarde desta terça-feira, 31, a sessão para decidir possível antecipação das eleições gerais para este ano. O debate, inicialmente previsto para acontecer nesta manhã, foi postergado por conta da escalada de protestos no país. Um grupo de manifestantes se aproximou do aeroporto internacional de Lima.
Agentes da polícia resguardavam os pontos de acesso ao Aeroporto Internacional Jorge Chávez, diante de uma manifestação registrada muito perto do terminal. Em Arequipa e Juliaca, no sul do país, protestos voltaram a ser reportados.
"Por culpa do governo, o povo nas ruas. Dina, renuncie", repetiam em coro dezenas de camponeses aimaras na cidade de Juliaca, no departamento (estado) de Puno (sul).
Desde a sexta-feira, 27, o Congresso está estagnado no debate sobre as eleições para este ano, como pediu no mesmo dia Boluarte, sem alcançar um consenso que lhes permita encontrar uma saída política que apazigue o amplo setor do país que exige a mudança da presidente.
Boluarte admitiu que a tensão social continua crescendo, com bloqueios que geraram escassez de produtos básicos e combustível em algumas regiões, em meio a uma crise que já deixou 48 mortos desde dezembro.
"Estamos certos de que haverá uma saída. Todas as bancadas democráticas vão debatê-la, levando em conta o alto senso de urgência", disse nesta segunda o chefe do gabinete, Alberto Otárola.
A nova sessão parlamentar desta terça foi marcada para as 21h GMT (18h de Brasília), na mesma hora da convocação de várias mobilizações no centro de Lima, organizadas por sindicatos e organizações camponesas, sob o lema "a grande marcha, Dina, renuncie já".
"Estamos em crise política. Planejo que nos unifiquemos como um só punho", pediu Brígida Curopidió, líder camponesa de Puno, ao convocar a marcha.
Por sua vez, o líder sindical da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP), Gerónimo López, lamentou que o Congresso "se aferre a se manter no cargo".
"Vemos uma presidente que faz discursos e joga a bola para o Congresso, não há vontade política para escutar a plataforma de luta do povo. O povo exige a renúncia imediata da presidente Dina Boluarte", acrescentou a dirigente.
A crise política e social, que deixou 48 mortos em cidades do sul e em Lima em sete semanas, não tem sinais de solução.
O poder político parece incapaz de encontrar uma resposta para as demandas da população, sobretudo a rural do sul andino, historicamente relegada, que apostou na melhora de suas condições de vida com a chegada do esquerdista Pedro Castillo à Presidência (2021-2022).
Castillo foi deposto e preso em 7 de dezembro, após tentar dissolver o Congresso. Boluarte, então vice-presidente, assumiu as rédeas do governo.
Os militares que desobstruíram um trecho da rodovia Pan-americana Sul, na região de Ica, a 250 km de Lima, permaneciam nesta terça resguardando a área para evitar novos bloqueios nesta via estratégica.
Em cidades do interior, sobretudo nos Andes e na selva peruana, há desabastecimento, sobretudo de gás liquefeito, usado em muitas casas.
"Tem gente que está na fila desde as três da manhã (...) Faz duas semanas que não tenho gás. Temos que voltar no tempo e cozinhar com lenha e carvão, que é difícil, machuca os pulmões", declarou à AFP a dona de casa Gabriela Álvarez, de 33 anos, em Poroy, a 15 km da cidade de Cusco.
Em Puerto Maldonado, 1.580 km ao sudeste de Lima, na região amazônica, longas filas de veículos peruanos aguardavam para abastecer em cidades fronteiriças com o Brasil.
A mina peruana de cobre Las Bambas, operada pela chinesa MMG e que fornece cerca de 2% do volume mundial do metal, anunciou que suspenderá as operações a partir de quarta-feira se os bloqueios continuarem.
Em Washington, a Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou estar "consternada" com a violência no Peru, e pediu ao governo que realize "em breve" eleições sob observação internacional. Também expressou preocupação com o suposto uso excessivo da força nos protestos que pedem a renúncia da presidente.
Em uma sessão extraordinária do Conselho Permanente da entidade, os países-membros adotaram uma declaração sobre os fatos recentes no país andino consensual com o Peru.
Os Estados Unidos, por meio do embaixador Francisco Mora, enfatizaram que "o momento das eleições no Peru é uma questão a ser decidida pelos líderes e pelas instituições do país". Também pediram à comunidade internacional que apoie o governo de Boluarte.
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