Biden em discurso sobre o Estado da União AFP

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu na terça-feira, 7, à noite uma sociedade mais justa, com salários melhores para os trabalhadores e mais impostos para os bilionários, durante um discurso no Congresso, no qual também advertiu a China que não hesitará em agir em caso de ameaça à soberania do país.
Em um discurso sobre o Estado da União otimista, repleto de números, Biden celebrou a menor taxa de desemprego em 50 anos, a queda da inflação e os benefícios das grandes reformas e programas de investimento adotados por sua administração. "Vamos terminar o trabalho", disse o presidente de 80 anos, que cogita disputar a reeleição em 2024.
No cenário internacional, ele fez um alerta a Pequim após a derrubada de um balão chinês que, segundo Washington, era utilizado para espionagem. "Como deixamos claro na semana passada, se a China ameaçar nossa soberania, vamos agir para proteger nosso país. E foi o que fizemos", disse.
O discurso. no entanto, foi mais centrado na política interna, com uma defesa total do coração industrial dos Estados Unidos, do "made in America" que ajudou seu antecessor republicano Donald Trump a conquistar as cidades operárias há alguns anos.
"Meu plano econômico é investir em lugares e pessoas que foram esquecidas, que foram deixadas para trás ou tratadas como se fossem invisíveis durante as últimas quatro décadas", disse.
Os planos se concentram em buscar a justiça social. "Nenhum bilionário deveria pagar uma taxa de imposto menor do que um professor ou um bombeiro", afirmou o presidente.
Biden também se declarou "escandalizado" com os lucros das empresas de petróleo, que no ano passado embolsaram "200 bilhões de dólares em meio a uma crise energética global" e pediu um forte aumento de impostos sobre a recompra de ações destas empresas.
O presidente também estendeu a mão aos republicanos para "trabalhar juntos", mas acusou alguns deles de tentar fazer a economia de "refém", com a exigência de cortes nos gastos públicos para elevar o limite da dívida e evitar um 'default'.
Em mais de uma hora de discurso, Biden foi além da economia e abordou temas que dividem os americanos, como as armas, a violência policial, a migração e o aborto.
"Vamos nos unir e concluir o trabalho de reforma policial para responsabilizar os agentes que têm comportamentos violentos. Vamos proibir as armas de ataque perigosas de uma vez por todas".
Na plateia estavam os pais de Tyre Nichols, assassinado recentemente em Memphis depois de ser espancado pela polícia, e Brandon Tsay, que desarmou o autor de um ataque a tiros contra a comunidade asiática na Califórnia.
Também pediu aos republicanos, que desde novembro têm maioria na Câmara de Representantes, uma reforma migratória, embora tenha consciência de que as chances são remotas.
"Se não aprovam minha profunda reforma migratória, ao menos aprovem meu plano para fornecer os meios e agentes necessários para proteger a fronteira com o México e um caminho à cidadania para os 'dreamers' (pessoas que entram no país ainda crianças), aqueles com status temporário, trabalhadores agrícolas e essenciais".
O presidente elogiou sua nova política para permitir a entrada, sob condições, de cubanos, nicaraguenses, venezuelanos e haitianos. A medida reduziu a migração a partir destes países em mais de 90%.
E no momento dedicado ao aborto, Biden advertiu os republicanos que vetará qualquer legislação que proíba a interrupção da gravidez a nível federal.
Diante das advertências de Biden, o ministério chinês das Relaciones Exteriores respondeu que defenderá "de maneira firme os interesses de soberania, segurança e desenvolvimento da China"
A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, pediu a Washington o retorno das relações bilaterais ao "caminho do desenvolvimento saudável e estável".
Biden também falou diretamente para a embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos, Oksana Markarova, que estava no Congresso: "Estaremos com vocês, o tempo que for necessário".
Atrás de Biden estava sentado o novo presidente da Câmara de Representantes, o republicano, Kevin McCarthy, que aplaudiu o discurso em vários momentos.
"Lutar por lutar, o poder pelo poder, o conflito pelo conflito, não nos leva a lugar algum", afirmou Biden, antes de insistir que a democracia americana, embora embora "ferida", permanece "inabalável".
Biden se esforçou para apresentar um cenário de esperança, consciente que as pesquisas são desfavoráveis. As projeções também eram ruins para as eleições de meio de mandato de novembro, mas os resultados dos democratas foram muito melhores que o esperado e fortaleceram o presidente.
Até Donald Trump elogiou o discurso de Biden. "Não concordo com ele na maioria de suas políticas, mas ele expressou em palavras o que sentia e terminou a noite muito mais forte do que começou. Ele merece crédito por isso", escreveu em sua plataforma Truth Social.
Mas a governadora do Arkansas, a republicana Sarah Huckabee Sanders, criticou a "esquerda radical" e o que considera um ataque à "liberdade e à paz".