Terremoto foi o mais violento da região em 80 anosAFP

O número de mortos no terremoto na Turquia e na Síria passou de 33 mil neste domingo, 12, enquanto a ONU lamentou a demora no envio de ajuda humanitária às zonas sírias devastadas e advertiu que o número final de vítima fatais pode ser mais do que o dobro do atual.

Os últimos balanços falam de 33.179 mortos (29.605 na Turquia, e 3.574, na Síria), pelo terremoto mais violento da região em 80 anos.

Um novo comboio da ONU chegou ao noroeste da Síria neste domingo, procedente da Turquia, mas o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths, afirmou que é necessário mais apoio para as milhões de pessoas que perderam suas casas no terremoto de magnitude 7,8 há quase uma semana.

"Até agora, falhamos com o povo do noroeste da Síria. Eles têm direito de se sentirem abandonados, esperando por ajuda internacional que não chega", disse Griffiths, acrescentando que "meu dever e minha obrigação é corrigir essa falha o mais rápido possível".

A situação se agrava na Síria, cujo sistema de saúde e infraestrutura global estão sobrecarregados por mais de uma década de guerra civil.

Composto por uma dezena de caminhões com ferramentas de resgate, além de cobertores e colchões, o comboio deste domingo atravessou o posto fronteiriço de Bab al-Hawa, saindo da Turquia, observou um correspondente da AFP.

Bab al-Hawa é o único ponto de acesso para a chegada de ajuda internacional às zonas rebeldes da Síria, em guerra com o governo de Bashar al-Assad, sob sanções do Ocidente.

"Apoiar o povo sírio"
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, se reuniu com Assad em Damasco e garantiu que o líder sírio está disposto a abrir novas passagens na fronteira para ajudar as áreas rebeldes do noroeste.

O presidente "me disse estar aberto à ideia de permitir pontos de acesso transfronteiriços para esta emergência", afirmou Ghebreyesus a repórteres em Damasco.

O enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, fez uma apelo para que as diferenças entre as partes fossem deixadas de lado nesse momento de crise humanitária.

"Estamos mobilizando fundos e tentando dizer a todos que deixem a política de lado", declarou em Damasco. "É hora de nos unirmos em um esforço comum para apoiar o povo sírio".

Em meio a um cenário devastador e a um frio glacial, dezenas de milhares de socorristas locais e estrangeiros trabalham entre as ruínas, em busca de sinais de vida.

Temores pela segurança das equipes de resgate obrigaram, no entanto, que as operações fosse suspensas, e dezenas de pessoas foram presas na Turquia acusadas de cometerem saques após o terremoto, segundo a imprensa estatal.

Uma equipe israelense de voluntários anunciou, neste domingo, que se retirou, após ameaças "significativas" à sua segurança na Turquia.

Milagres
Apesar de todas as dificuldades, casos milagrosos de pessoas encontradas sob os escombros continuam a ser relatados, mas especialistas alertam que as esperanças de encontrar sobreviventes diminuem a cada dia que passa.

Quase 160 horas após o terremoto de magnitude 7,8, as equipes de resgate ainda encontram sobreviventes. Um menino de oito anos foi resgatado em Gaziantep e uma mulher de 63 anos em Hatay, segundo a mídia estatal.

No sábado, Griffiths alertou que o número de mortos ainda pode aumentar consideravelmente.

"É realmente difícil estimar com muita precisão, porque você temos que chegar sob os escombros, mas tenho certeza que esse número vai dobrar ou até mais", disse Griffiths. "É assustador".

A OMS estimou que 26 milhões de pessoas foram afetadas pelo terremoto e lançou um apelo urgente para arrecadar US$ 42,8 milhões para financiar necessidades urgentes de saúde.

Segundo a agência turca para situações de emergência e desastres naturais, cerca de 32 mil pessoas estão mobilizadas nas operações de resgate, além de mais de 8 mil socorristas estrangeiros. Em muitas áreas, porém, as equipes não têm sensores, o que significa que seu trabalho se reduz a escavar, com cuidado, prédios desabados, usando pás, ou mesmo as próprias mãos.

Alaa Moubarak, diretor da Defesa Civil de Jableh, no noroeste da Síria, disse que não recebe equipamentos novos há 12 anos.

"Se tivéssemos esse tipo de equipamento, teríamos salvado centenas de vidas, talvez mais", desabafa.

O Ministério dos Transportes da Síria disse que mais de 62 aviões com ajuda aterrissaram no país esta semana e mais chegarão nos próximos dias, com a ajuda da Arábia Saudita.

O Catar anunciou que enviará 10 mil cabines móveis para os dois países, usadas durante a Copa do Mundo para abrigar torcedores.

O passar dos dias também aumenta a busca de responsabilidades, especialmente na Turquia, onde a população se revolta com a lentidão da resposta do governo e com a má qualidade das edificações, após o pior desastre em quase um século no país.