Proposta de Netanyahu é vista como interferência no JudiciárioAlan Santos/PR
Israelenses protestam antes de votação de reforma judicial
Projeto de reforma judicial promovida pelo novo governo de Binyamin Netanyahu desencadeou onda de manifestações
Dezenas de milhares de israelenses se concentraram nesta segunda-feira, 20, em frente ao Parlamento de Israel durante o início da votação da polêmica reforma judicial promovida pelo novo governo de Binyamin Netanyahu, que prejudicaria a independência da Justiça e desencadeou um grande movimento de protesto no país, além de advertências de líderes militares e empresariais e pedidos de moderação por parte dos Estados Unidos
O Knesset vota nesta segunda-feira, na primeira de três instâncias, dois dos projetos de lei incluídos na reforma, que visam a alterar a composição da comissão de seleção de juízes e restringiriam a capacidade do Supremo Tribunal de revisar e alterar as leis. A elas se soma a chamada "cláusula de anulação", que permitiria a maioria simples dos deputados do Parlamento revogar as decisões do Supremo.
A manifestação desta segunda ocorre uma semana depois de outro grande protesto em frente ao Knesset e depois da grande concentração de sábado na cidade de Tel Avive. O descontentamento se direciona contra a aprovação de uma reforma que, segundo os manifestantes, corroeria a separação de poderes e enfraqueceria as bases formais da democracia israelense, concedendo poderes excessivos ao Executivo.
As manifestações, que começaram há quase dois meses e se espalharam por todo o país, incluíram hoje o bloqueio de ruas e vias nas áreas de Tel Aviv e Jerusalém. Alguns manifestantes também se concentraram nas residências pessoais de membros do governo.
Votação adiada
A votação desta segunda ocorre após uma semana de intensas negociações entre governo e oposição, tendo como mediador o presidente Isaac Herzog, que afirmou no domingo que é possível chegar a acordos em um período relativamente curto e realizar uma reforma consensual. Apesar do pedido da oposição para interromper a aprovação da reforma em seu texto atual para continuar o diálogo, Netanyahu e seus parceiros de coalizão ultraortodoxos e de extrema-direita continuam avançando nos processos legislativos.
Netanyahu e seus aliados dizem que o plano busca consertar um sistema que deu aos tribunais e consultores jurídicos do governo muito poder de decisão sobre como a legislação é elaborada e as decisões são tomadas. Os críticos dizem que isso derrubará o sistema de freios e contrapesos do país e concentrará o poder nas mãos do primeiro-ministro. Eles também dizem que Netanyahu, que está sendo julgado por uma série de acusações de corrupção, tem um conflito de interesses.
O impasse mergulhou Israel em uma de suas maiores crises domésticas, aguçando a divisão entre os israelenses sobre o caráter de seu estado e os valores que eles acreditam que deveriam guiá-lo.
"Estamos lutando pelo futuro dos nossos filhos, pelo futuro do nosso país. Não pretendemos desistir", disse o líder da oposição, Yair Lapid, em uma reunião de seu partido no Knesset, enquanto os manifestantes se aglomeravam do lado de fora.
A votação de parte da legislação na segunda-feira é apenas a primeira das três leituras necessárias para a aprovação parlamentar. Embora esse processo deva levar meses, a votação é um sinal da determinação da coalizão de seguir em frente e é vista por muitos como um ato de má fé.
Protestos em casas de políticos
Líderes do setor de tecnologia em expansão alertaram que o enfraquecimento do Judiciário pode afastar os investidores. Dezenas de milhares de israelenses têm protestado em Tel Avive e outras cidades todas as semanas.
No início do dia, os manifestantes fizeram um protesto na entrada das casas de alguns legisladores da coalizão e interromperam brevemente o tráfego na principal rodovia da cidade. Centenas agitavam bandeiras israelenses em Tel Avive e também na cidade de Haifa, no norte, segurando cartazes com os dizeres "a resistência é obrigatória".
A reforma levou ex-chefes de segurança estoicos a se manifestarem e até alertarem sobre a guerra civil. Em um sinal das emoções crescentes, um grupo de veteranos do exército em seus 60 e 70 anos roubou um tanque desativado de um memorial de guerra e o cobriu com a declaração de independência de Israel antes de ser parado pela polícia.
O plano provocou também raras advertências dos EUA, o principal aliado internacional de Israel. O embaixador dos EUA, Tom Nides, disse a um podcast no fim de semana que Israel deveria "pisar no freio" da legislação e buscar um consenso sobre a reforma que protegeria as instituições democráticas de Israel.
Seus comentários atraíram respostas furiosas dos aliados de Netanyahu, dizendo a Nides para ficar fora dos assuntos internos de Israel. Falando a seu gabinete no domingo, Netanyahu rejeitou as sugestões de que a democracia de Israel estava sob ameaça. "Israel foi e continuará sendo uma democracia forte e vibrante", disse.
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