Boris Johnson renunciou após o 'partygate', o escândalo das festas celebradas na residência oficial durante a pandemia da covid-19Justin Tallis/AFP
O debate acontece no dia em que o ex-líder conservador completa 59 anos e poderia resultar em uma sanção disciplinar que, no entanto, não teria muitas consequências.
Junto dos deputados da oposição, diversos legisladores de seu próprio partido esperam cortar assim os laços com o polêmico político de cabelo desalinhado.
Mas seus defensores projetam que Johnson voltará à disputa eleitoral apesar de tudo, aproveitando-se da perda de popularidade de seu sucessor - então braço direito e agora adversário político - Rishi Sunak, que prometeu devolver a integridade ao governo, mas está afundado em uma histórica crise pelo aumento do custo de vida que não consegue conter.
Embora tenha reacendido as divisões entre os conservadores, o relatório deve ser aprovado ao término do debate, dado que o ex-primeiro-ministro pediu a seus partidários que se abstivessem ao invés de votarem contra.
No início do debate, a ministra de Relações com o Parlamento, Penny Mordaunt, afirmou que votaria pela aprovação das conclusões e recomendações do relatório, mas não deu instruções aos outros conservadores para que fizessem o mesmo.
"Todos os deputados devem decidir por si mesmos", afirmou.
Sunak não compareceu à sessão, o que lhe rendeu duras críticas da oposição. Mas a ex-primeira-ministra Theresa May anunciou que votaria contra Johnson e instou todos a fazerem o mesmo para "ajudar a restaurar a confiança em nossa democracia parlamentar".
'Minar o processo parlamentar'
Contudo, após dois anos e meio e numerosos escândalos, viu-se obrigado pelo próprio partido a renunciar como primeiro-ministro em julho do ano passado.
O Parlamento designou uma comissão para investigar se ele tinha mentido deliberadamente aos deputados quando afirmou que as regras anticovid impostas por ele mesmo durante os confinamentos de 2020 e 2021 sempre foram respeitadas.
O resultado foi demolidor. O relatório estabeleceu que Johnson cometeu "desacato reiterado" ao Parlamento e tentou "minar o processo parlamentar". "Não há precedentes de ter descoberto que um primeiro-ministro mentiu deliberadamente à Câmara", diz o texto.
Antes que suas conclusões fossem tornadas públicas, Johnson renunciou ao cargo de deputado em 9 de junho, denunciando uma armação política de seus detratores.
Ao renunciar de forma preventiva, o ex-premiê frustrou a recomendação da comissão parlamentar de suspendê-lo por 90 dias, o que o levaria a uma humilhante disputa eleitoral para tentar uma improvável reeleição em seu distrito.
Retorno à política
Sunak e seu governo esperavam assim virar a página deste escândalo, apelidado de "partygate".
Mas seus esforços foram prejudicados no domingo com o vazamento aos meios de comunicação de um novo vídeo em que aparecem dirigentes do Partido Conservador dançando durante uma festa em dezembro de 2020, em pleno confinamento contra o coronavírus.
São imagens "terríveis" e "indefensáveis", reconheceu para a BBC Michael Gove, um dos principais ministros de Sunak.
Não obstante, Jacob Rees-Mogg, um dos deputados que defendem Johnson, prevê que o ex-primeiro-ministro voltará à disputa eleitoral nas legislativas previstas para daqui um ano e meio.
Por ora, o polêmico político conservador, que está prestes a ser pai pela oitava vez, voltou ao jornalismo, sua profissão antes de se dedicar à política. Fechou com o jornal sensacionalista Daily Mail para escrever uma coluna semanal.
Segundo o site americano Politico, Johnson receberá várias centenas de milhares de dólares anuais por seus textos no tabloide, que vão se somar aos milhões que ele vem faturando com palestras desde que deixou o poder.
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