Rabino Mendel Moscowitz precisou se deslocar de seu paísAttila Kisbenedk/AFP

O rabino Mendel Moscowitz, originário da cidade de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, nunca imaginou que sua família seria obrigada a fugir de uma segunda guerra, depois de se deslocar de seu país para Israel.

Após a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, os cinco membros da família se instalaram perto de parentes no sul de Israel para começar uma nova vida.

Sua paz foi interrompida em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas lançaram um sangrento ataque, matando 1.200 pessoas e sequestrando 240 reféns em Israel, segundo as autoridades.

A ofensiva israelense em resposta deixou mais de 18.400 mortos na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do movimento islamista palestino.

Moscowitz e sua família decidiram abandonar o país e buscar abrigo em um campo de refugiados judeus que já havia os acolhido antes na Hungria.

"Não queríamos que fosse traumático para as crianças, depois do que viveram na Ucrânia", explicou o religioso de 33 anos à AFP.

Nas semanas seguintes ao ataque do Hamas, cerca de 4.000 ucranianos abandonaram Israel, segundo números da embaixada.

Lugar seguro
Situado em Balatonoszöd, 130 quilômetros ao sudoeste de Budapeste, o complexo Machne Chabad costumava ser um local de férias para funcionários do governo.

No início de 2022 foi adaptado para acolher judeus ucranianos, servindo de refúgio seguro a uma comunidade antes numerosa que sobreviveu a perseguições, ao Holocausto e aos expurgos da era comunista.

O campo, financiado pela pequena Associação de Comunidades Judias Húngaras (EMIH), a Federação de Comunidades Judias da Ucrânia e o governo do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, acolhe atualmente a 200 pessoas, a metade fugiu da Ucrânia e Israel.

"Cada vez que começa uma guerra, tudo se desequilibra --seu trabalho, sua casa, sua família-- é muito difícil encontrar estabilidade", afirmou Moscowitz, que atua como rabino no local.

Aqui, os moradores têm acesso a creches, escolas e apoio psicológico. Três vezes ao dia, o chef Almos Ihasz e sua equipe de cozinha 100% ucraniano preparam as refeições seguindo as estritas normas kosher.

"Este lugar é único porque nos oferece uma sensação de segurança e um alívio da tensão", disse Hana Shatagin, advogada ucraniana de 29 anos, que após três semanas em Machne Chabad com seu marido e seu bebê, decidiu voltar a Jerusalém.

No entanto, outros se perguntam quando poderão deixar a comunidade, como Zeev Vinogradov, de 73 anos, de Dnipro.

Em março de 2022, ele e a esposa fugiram da Ucrânia para a cidade israelense de Metula, perto da fronteira norte com Líbano. Porém, seu assentamento foi evacuado pouco depois de 7 de outubro alegando que havia risco de ataque por parte do Hezbollah libanês.

Agora, Vinogradov passa seus dias rezando e ensinado religião a jovens ucranianos por telefone, pensando em retornar a seu país quando a guerra acabar e encontrar o que deixou para trás: "um apartamento, um carro, amigos, uma comunidade".

Problemas financeiros
O futuro do campo de refugiados é incerto, já que "a comunidade religiosa ucraniana não pode aportar novas contribuições significativas", declarou à AFP o diretor da EMIH, o rabino Slomo Koves.

Além disso, "a atenção dos doadores se desviou um pouco da situação na Ucrânia", afirmou, referindo-se à guerra que afeta Gaza.

A EMIH, afiliada ao movimento hassídico Chabad Lubavitch, tem vínculos próximos ao húngaro Orban, conhecido por sua postura anti-imigração e acusado várias vezes de se aproximar do antissemitismo.

Orban sustenta que há tolerância zero com o antissemitismo na Hungria e afirma que é "uma ilha de paz" para os judeus.

Seu governo permitiu à EMIH utilizar gratuitamente o antigo complexo de propriedade do Estado e atualmente paga cerca de um terço de seus gastos de funcionamento.

Por enquanto, o campo seguirá como um local onde as pessoas possam "sentir que têm uma família e uma comunidade", assegurou Moscowitz.