Exército israelense mantém ofensiva na véspera do Ano NovoMenahem Kahana/AFP

Israelenses e palestinos chegam a um fim de ano sombrio neste domingo (31), sem perspectiva para o fim dos combates que seguem causando estragos na Faixa de Gaza, mergulhada em uma grave crise humanitária após quase três meses de guerra.

Nas últimas horas do ano 2023, os bombardeios aéreos, o fogo de artilharia e os enfrentamentos continuam para o desespero da "esgotada" população palestina.

O Ministério da Saúde do Hamas reportou a morte de ao menos 40 palestinos em bombardeios noturnos na Cidade de Gaza. Até agora, 18 corpos foram encontrados e muitos estão sob os escombros, afirmou.

"Após a explosão, chegamos ao local e vimos mártires por todas as partes (...), ainda há crianças desaparecidas", disse Mohamed Btihan, morador de Gaza.

O Exército israelense indicou que matou mais de dez combatentes inimigos em combates terrestres, ataques aéreos e disparos de tanques, e afirmou que localizou túneis do Hamas e explosivos em uma escola.

A guerra começou após um ataque sem precedentes do Hamas em território israelense que matou 1.140 pessoas, a maioria civis, de acordo com um balanço da AFP, a partir de dados israelenses.

Em resposta, Israel ataca sem parar o território onde ainda se encontram 129 dos 250 reféns nas mãos do Hamas e de seus aliados desde o ataque de 7 de outubro.

Segundo o Hamas, desde o início da guerra, o número de mortos na Faixa de Gaza - em sua maioria mulheres e crianças - chega a 21.822.

'Situação difícil'
Nas últimas semanas, o Exército israelense tem se deslocado para o norte de Gaza, em Khan Yunis, e nos campos do centro do território, onde 1,9 milhões de habitantes (85% da população) fugiram de suas casas.

"Esperávamos que 2024 chegasse com presságios melhores e que pudéssemos celebrar o Ano Novo em casa, em família. Mas a situação é difícil", comentou Mahmud Abu Shahma, de 33 anos, em um campo de refugiados em Rafah, no extremo-sul.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu contra a crescente ameaça de disseminação de doenças infecciosas diante dos deslocamentos e a ONU teme pela fome.

Em Israel, as celebrações de Ano Novo provavelmente serão mais sóbrias do que o habitual. Em Tel Aviv, capital da festa, os bares ficarão abertos a noite toda, mas o clima não será o mesmo, com milhares de jovens no front.

'Tragam-os'
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reiterou neste domingo que Israel seguirá com a guerra "de justiça e moralidade incomparáveis", após a África do Sul acusar o país de "atos de genocídio" ante a Corte Internacional de Justiça.

Na noite de sábado, mais de mil pessoas se manifestaram em Tel Aviv em apoio aos reféns e suas famílias pedindo "tragam-os para casa".

"Tento ser otimista, de verdade. Espero que haja outro acordo, mesmo que parcial, ou que informações sejam divulgadas. Tento me apegar a cada pedacinho de esperança", declarou Nir Shafran, de 45 anos.

As negociações internacionais realizadas por Catar e Egito alcançaram um trégua de uma semana no final de novembro, permitindo a libertação de 100 reféns e a entrada de ajuda em Gaza. Os esforços continuam para alcançar um nova pausa.

Uma delegação do Hamas, grupo classificado pela União Europeia, Estados Unidos e Israel como terrorista, chegou ao Cairo na sexta-feira para transmitir "a resposta das facções palestinas" a um plano egípcio para a libertação de reféns e uma trégua.

A resposta será entregue "nos próximos dias", afirmou Muhamad al-Hindi, subsecretário-geral da Jihad Islâmica, grupo armado aliado ao Hamas.

"O Hamas apresenta toda uma série de ultimatos que rejeitamos (...) Vemos uma mudança, (mas) não quero criar expectativas", declarou no sábado Netanyahu ao garantir que "a guerra continuará por vários meses".

Várias frentes
A guerra em Gaza reavivou as tensões na fronteira com o Líbano, onde quase diariamente, desde 7 de outubro, há trocas de disparos entre o Exército de Israel e o Hezbollah libanês, aliado do Irã e do Hamas.

No Mar Vermelho, o Exército americano anunciou neste domingo que afundou três embarcações de rebeldes huthis do Iêmen, que teria atacado um cargueiro.

Desde os início do conflito, os huthis, aliados do Irã, atacaram várias embarcações em apoio aos palestinos em Gaza. A gigante dinamarquesa do transporte marítimo Maersk suspendeu por 48 horas neste domingo o tráfego de sua frota por esta via marítima estratégica.