Epstein se suicidou em 2019Reprodução Twitter
Epstein: veja as perguntas ainda sem resposta sobre caso envolvendo o milionário e famosos
Na última quinta-feira (4), lista de personalidades envolvidas com magnata foi divulgada
Por quase duas décadas, jornalistas, policiais investigadores, agentes do FBI, advogados e detetives amadores se debruçaram sobre o mundo de Jeffrey Epstein.
Mesmo depois da divulgação de milhares de páginas de registros judiciais nos últimos dias, algumas perguntas sobre o milionário permanecem não respondidas. Os documentos receberam muita atenção, mas também lançaram pouca luz sobre o conhecido abuso sexual contra menores de idade por parte de Epstein.
Mais do que tudo, o público segue fascinado com a possibilidade de alguns dos homens ricos e poderosos que pertenciam ao ciclo social de Epstein também estarem envolvidos nos casos de abuso. Aqui está o que se sabe até agora - e o que não se sabe - sobre Epstein e seus crimes.
Qual a trajetória de Jeffrey Epstein?
Epstein começou a receber a atenção da mídia em 2002, depois que jornais dos Estados Unidos cobriram uma viagem do então presidente Bill Clinton, o ator Kevin Spacey e o comediante Chris Tucker para a África. A viagem de cinco dias, para Gana, Nigéria, Ruanda, Moçambique e África do Sul pretendia chamar atenção para a luta contra a Aids.
Depois da visita, a revista New York publicou um perfil do homem que providenciou o jato particular para a viagem: Jeffrey Epstein. A matéria o retratava como um "homem misterioso do dinheiro internacional", que cultivava relações com cientistas e diplomatas vencedores do Prêmio Nobel, mas intrigava os membros de Wall Street que não conseguiam compreender como é que alguém que abandonou a faculdade ficou tão rico.
"Um cara incrível", disse o vizinho de Epstein na Flórida e em Nova York, Donald Trump, na reportagem. "É muito divertido estar com ele. Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são mais jovens."
Esses contatos com celebridades se tornaram uma grande notícia quando Epstein foi preso em 2006 por alegações de que ele havia contratado várias meninas adolescentes para fazerem massagens sexuais nele em sua casa, em Palm Beach, na Flórida.
Dois anos depois, os promotores permitiram que ele se declarasse culpado de uma acusação envolvendo uma única vítima. Ele cumpriu 13 meses em um programa de liberação de trabalho na prisão, depois silenciosamente começou a reconstruir sua rede de amigos influentes, com a ajuda de sua ex-namorada socialite, Ghislaine Maxwell.
Depois de uma série de reportagens publicadas pelo Miami Herald sobre o acordo judicial que privou as vítimas de Epstein de justiça, os promotores federais de Nova York reativaram a investigação e acusaram Epstein de tráfico sexual em 2019.
Quando Epstein se suicidou na cadeia, promotores acusaram Ghislaine de facilitar seus encontros sexuais ilícitos e participar de alguns dos abusos. Ela foi condenada e está cumprindo uma pena de 20 anos de prisão.
Mais alguém estava envolvido?
Em 2009, uma das vítimas de Epstein, Virginia Giuffre, entrou com uma ação judicial alegando que ele a havia levado de avião ao redor do mundo para encontros sexuais com bilionários, políticos, membros da realeza e chefes de estado.
Ela inicialmente manteve os nomes desses homens em segredo, mas em documentos legais posteriores começou a identificá-los: o príncipe Andrew do Reino Unido, o governador do Novo México Bill Richardson, o ex-senador dos EUA George Mitchell, o caçador de modelos francês Jean Luc Brunel, o bilionário Glenn Dubin e o professor de direito Alan Dershowitz, que representou Epstein.
Alguns detalhes das acusações de Virginia mudaram ao longo do tempo. Ela inicialmente disse que tinha 15 anos quando Epstein começou a abusá-la, mas posteriormente ela reconheceu que foi no verão em que ela completou 17.
Em 2022, ela retirou as acusações contra Dershowitz, dizendo que "pode ter cometido um erro" ao identificá-lo como um de seus abusadores. Ela disse que "era muito jovem na época" e "era um ambiente muito estressante e traumático".
Em uma entrevista para um jornal, pela qual Virginia recebeu US$ 160 mil, ela relatou ter dançado com príncipe Andrew em um clube, mas disse que não houve contato sexual. Depois, ela disse que houve três encontros sexuais. Afirmou, ainda, que o jornal se recusou a publicar essas alegações.
Em outra entrevista, ela disse ter andado de helicóptero com Bill Clinton e flertado com Donald Trump, mas mais tarde ela disse em depoimento que essas coisas não haviam acontecido e foram erros do repórter.
As alegações de Virginia Giuffre têm sido investigadas pelo FBI. Nenhuma acusação foi feita com base em suas denúncias, mas por causa da atenção gerada por ela, o caçador de modelos francês Jean Luc Brunel foi investigado na França e acusado por estuprar menores de idade. Ele se matou enquanto esperava pelo julgamento
O principal promotor federal de Manhattan em 2020, Geoffrey Berman, tentou falar com o príncipe Andrew sobre assuntos relacionados a Epstein, mas a realeza recusou. Berman criticou Andrew na época por se apresentar falsamente ao público como alguém ansioso para cooperar, quando na verdade estava se esquivando de perguntas.
Andrew negou repetidamente ter feito sexo com Virginia e disse que não se lembrava de tê-la conhecido, embora uma fotografia pareça mostrá-los juntos, e um membro da equipe de Epstein também testemunhou sobre ter visto os dois na casa de Epstein em Nova York.
Muitos dos documentos desclassificados nos últimos dias envolvem esforços dos advogados de Ghislaine, a ex-namorada de Epstein, em desacreditar Virginia, e os esforços dos advogados da vítima para reunir provas que sustentem as suas falas.
Os registros divulgados no caso continham poucas evidências de irregularidades cometidas por figuras famosas, mas os depoimentos de várias testemunhas confirmaram os relatos de Virginia sobre a má conduta sexual de Epstein.
O que se sabe sobre a morte atrás das grades?
Qualquer chance de o próprio Epstein ter sido capaz de responder a perguntas sobre seus amigos famosos morreu com ele em um centro de detenção federal em Manhattan, em agosto de 2019. A morte, um mês depois de ele ter sido preso, foi rondada por teorias conspiratórias. Mas múltiplas investigações, incluindo uma autópsia e uma investigação do FBI, concluíram que ele morreu por suicídio.
O inspetor-geral do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Michael Horowitz, disse em um relatório de junho que Epstein foi capaz de tirar a própria vida por causa de "negligência, má conduta e falhas evidentes no desempenho profissional" dentro da prisão.
O Centro Correcional Metropolitano foi fechado em 2021 em meio a preocupações com condições precárias, com a covid-19 e uma infraestrutura em ruínas, além de dúvidas persistentes sobre a morte de Epstein.
Os oficiais sobrecarregados de trabalho designados para proteger Epstein não conseguiram reconhecer que ele tinha acumulado um excedente de roupa de cama. Após uma primeira suspeita de tentativa de suicídio, os funcionários da prisão o deixaram sozinho e nunca lhe designaram um novo companheiro de cela.
Na noite em que ele morreu, os oficiais estavam sentados em mesas a apenas 4,6 metros de sua cela, fazendo compras online e cochilando, em vez de fazer as rondas obrigatórias a cada 30 minutos, disseram os promotores.
O dia anterior a sua morte, um tribunal federal divulgou cerca de 2 mil páginas de registros do processo de Giuffre contra Ghislaine Maxwell - o mesmo caso envolvido nos registros divulgados nos últimos dias.
Isso, combinado com a falta de conexões interpessoais significativas e "a ideia de potencialmente passar sua vida na prisão foram provavelmente fatores que contribuíram para o suicídio do Sr. Epstein", escreveram autoridades prisionais em documentos obtidos pela Associated Press.
Se Epstein teria interesse em responder a perguntas para esclarecer alguns dos mistérios em torno de sua vida é outra história. Em um depoimento de 2016 no processo de Giuffre, ele repetidamente invocou sua proteção da Quinta Emenda contra a autoincriminação.
O que ainda está por vir?
A divulgação de documentos ainda não acabou. Até agora 191 dos aproximadamente 250 arquivos que a juíza distrital dos EUA Loretta Preska autorizou para liberação já se tornaram públicos. Advogados envolvidos no caso estão publicando-os de forma contínua, de acordo com as instruções da juíza.
Outro é lote é esperado nesta segunda-feira, 8, embora haja poucos sinais de que renderá mais do que o que já foi visto nas quase 3 mil páginas de transcrições de depoimentos, memorandos legais, e-mails e outros registros tornados públicos desde a última quarta-feira, 3.
Versões de muitos desses registros já tinham sido tornadas públicas nos últimos anos, embora com algumas seções ocultadas por razões de privacidade ou para proteger as identidades das vítimas de Epstein.
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