Ex-presidente norte-americano Donald TrumpAFP

Donald Trump voltou a transformar, nesta quinta-feira (11), seu julgamento por fraude fiscal em Nova York em um palanque político, denunciando uma "ingerência eleitoral" a quatro dias da votação dos republicanos no estado de Iowa, que dará o pontapé às primárias nas quais é o grande favorito.

O antigo inquilino da Casa Branca (2017-2021), à qual espera voltar após as eleições presidenciais de novembro, é acusado, juntamente com seus filhos, Eric e Donald Jr. de inflar de forma fraudulenta o valor de suas propriedades na década de 2010 para obter condições mais favoráveis dos bancos e seguradoras.

A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, que apresentou uma ação civil em 2022 por fraude financeira, pede-lhe 370 milhões de dólares (R$ 1,80 bilhão) por danos e poderia retirar da família Trump o controle de seus ativos imobiliários.

Ao retornar ao tribunal, nesta quinta-feira, para as alegações finais, Trump, de 77 anos, voltou a atacar a imprensa pelas "ingerências políticas", as "ingerências eleitorais no mais alto nível" e um "julgamento muito injusto", chegando a acusar o presidente Joe Biden de estar por trás desta ingerência.

Favorito nas primárias do Partido Republicano, Trump queria fazer ele mesmo as alegações finais, mas o juiz Arthur Engoron o impediu, temendo "um discurso de campanha" na sala.

Finalmente, o juiz permitiu, nesta quinta, que Donald Trump desenvolvesse alguns argumentos e o ex-presidente aproveitou a ocasião para atacar Letitia James, chamando-a de "pirata política".

Erros ou fraude
"Querem se assegurar de que nunca volte a vencer [eleições]. Ela [a procuradora-geral] odeia Trump... E se não posso falar disso, me dói", brincou.

O juiz tentou interrompê-lo, mas o ex-presidente replicou: "O senhor segue sua própria agenda, não pode escutar mais de um minuto".

Desde que o julgamento começou, em 2 de outubro, o bilionário atacou o sistema judicial toda vez que entrou na sala ou nos corredores do tribunal de Manhattan, denunciando uma "caça às bruxas" política ou um "julgamento digno de uma República das bananas".

Nos últimos três meses, os advogados da família Trump consideraram que o caso estava juridicamente vazio.

Um deles, Chris Kise, admitiu nesta quinta-feira que pode ter havido erros "involuntários" nas declarações financeiras de Trump, mas que não havia necessidade de "concluir que houve fraude".

Mas para os promotores, "a infinidade de esquemas enganosos que usaram para inflar o valor dos ativos e ocultar os fatos foi tão escandalosa que não se pode explicar inocentemente", escreveram em nota antes da audiência.

Falso alerta de bomba
Como demonstração do clima tenso que cerca o julgamento, a polícia do condado de Nassau, na península de Long Island, a leste de Nova York, confirmou que houve uma falsa ameaça de bomba contra a residência do juiz Engoron.

Fora do tribunal, vigiado por um helicóptero, os manifestantes repetiam, em coro, "não aos ditadores nos Estados Unidos".

Durante o julgamento, Donald Trump atacou violentamente a equipe do juiz e à procuradora-geral. O magistrado lhe impôs duas multas no valor total de 15.000 dólares (R$ 73.000).

Diferentemente dos julgamentos criminais que o esperam este ano, incluindo o de suas supostas manobras para reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020, Donald Trump não corre o risco de ir preso neste caso civil.

Antes do julgamento, o juiz Engoron decidiu, no fim de setembro, que a Procuradoria apresentou "provas conclusivas de que entre 2014 e 2021, os acusados superestimaram os ativos" do grupo entre "812 milhões e 2,2 bilhões de dólares" (de R$ 3,9 bilhões a R$ 10,7 bilhões), segundo o ano, nos documentos financeiros de Donald Trump.

Como consequência da "fraude reiterada", ordenou a liquidação as empresas que administravam seus ativos, como a Trump Tower da Quinta Avenida e o arranha-céus no número 40 de Wall Street, em Manhattan.

No entanto, estas medidas foram suspensas em apelação. Cabe ao juiz Engoron a encerrar o processo e determinar a quantia dos danos e indenizações.

Esta é uma das várias frentes abertas que o bilionário tem nos próximos meses.

Na próxima semana, começa um novo julgamento em Nova York por difamação. Em março, Trump deverá voltar ao banco dos réus em Washington pelas acusações de conspirar para anular os resultados das eleições presidenciais de 2020. Em maio, ele responderá na Flórida a acusações de gestão indevida de documentos governamentais altamente sigilosos.