Donald Trump, ex-presidente dos EUAEduardo Muñoz Alvarez/AFP

Em uma noite marcada pelo discurso do Estado da União do presidente norte-americano Joe Biden, o ex-presidente Donald Trump voltou a chamar a atenção do público pelos seus comentários ao vivo sobre as declarações de Biden. Utilizando sua rede social Truth Social, Trump postou durante a noite da quinta-feira, 7, uma série de mensagens desdenhando do discurso.

"Ele está tão bravo e louco", disse Trump sobre Biden. "Esse pode ser o discurso do Estado da União mais irritado, menos compassivo e o pior já feito. Foi uma vergonha para o nosso país", criticou o ex-presidente.

Durante todo o discurso de Biden, Trump criticou diversas afirmações do presidente. O ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e a crise migratória foram alguns dos assuntos mais comentados.

"Quer a mídia fake news goste de admitir ou não, houve uma tremenda distorção e mentiras nesse discurso", afirmou Trump no Truth Social. "Mas o povo do nosso país entende, e eles sabem que 5 de novembro será o dia mais importante na história de nossa nação!".

Segundo a mídia local, a rede social Truth Social chegou a ficar desestabilizada durante algumas ocasiões na noite desta quinta.

Trump e Biden devem se enfrentar na eleição geral de novembro nos EUA. Para Biden, o discurso do Estado da União foi uma plataforma não apenas para comentar sobre suas conquistas legislativas, mas também para enviar uma mensagem clara ao povo americano de que sua plataforma política é radicalmente diferente à de Trump.

Biden não citou Trump pelo nome durante seu discurso, contudo, diversas das suas críticas ao governo anterior assumiram um tom político com ênfase na campanha eleitoral.

Durante seu comentário sobre a crise migratória na fronteira com o México, Biden disse: "Não vou demonizar imigrantes, dizendo que são veneno no sangue de nosso país", se referindo ao comentário que Donald Trump realizou em um comício de campanha em New Hampshire, em dezembro do ano anterior, de que imigrantes que entram nos EUA estão "envenenando o sangue de nosso país."

Críticos do ex-presidente compararam à época a frase de Trump sobre o "envenenamento do sangue" com outra frase preconceituosa escrita por Adolf Hitler em seu manifesto "Mein Kampf", que havia sido utilizada para criticar imigração e a miscigenação.

Trump negou qualquer comparação com Hitler, dizendo que nunca leu o texto. Em um discurso promulgado na terça-feira, 5, (a Superterça) após a divulgação dos resultados eleitorais das primárias em diversos Estados, Trump afirmou que pessoas que cruzam a fronteira ilegalmente estão "envenenando o sangue de nosso país" e chamou a crise migratória de "invasão".

"Temos milhões de pessoas invadindo nosso país" através da fronteira sul, disse Donald Trump em seu discurso de vitória em Mar-a-Lago, na Flórida, na noite de terça-feira. "Isso é uma invasão. Esta é provavelmente a pior invasão", afirmou o ex-presidente, se referindo à entrada de migrantes aos Estados Unidos.
Discurso de Biden
Joe Biden atacou seu rival Donald Trump desde o início de seu discurso sobre o estado da União, acusando o republicano de "se curvar" diante de Vladimir Putin e afirmando que a liberdade e a democracia estão "sob ataque" nos Estados Unidos.

No imponente plenário do Congresso, com os aplausos de seu lado enquanto a oposição republicana permanecia sentada, o democrata de 81 anos, candidato à reeleição, afirmou: "Eu não me curvarei" ao líder russo, que lançou uma invasão à Ucrânia em 2022.

"Meu antecessor, um ex-presidente republicano, diz a Putin: 'Faça o que quiser'. É uma citação, um ex-presidente realmente disse isso, se curvando a um líder russo. Acho isso escandaloso. É perigoso e é inaceitável!", declarou, sem pronunciar o nome de Trump.

"Desde o presidente Lincoln e a Guerra Civil, nunca nossa liberdade e democracia foram atacadas em nosso país como estão sendo hoje", acrescentou.

O democrata de 81 anos quis traçar "um futuro baseado nos valores fundamentais que definem os Estados Unidos: honestidade, decência, dignidade, igualdade".

"E aqui está alguém da minha idade contando uma história diferente, a de uns Estados Unidos voltados para a mágoa, a vingança e o revanchismo", acrescentou Biden, em uma clara alusão ao seu rival de 77 anos.

Donald Trump prometeu "se vingar" de sua derrota em 2020, que ele nunca reconheceu, e das ações judiciais que se acumulam contra ele.

Recuperação histórica 
Frente à retórica do "declínio", repetida por Trump, Biden defendeu que os Estados Unidos estão atravessando sob sua presidência a maior "recuperação" econômica de sua história, após a pandemia de covid-19.

"Assumi o cargo determinado a nos ajudar a superar um dos períodos mais difíceis da história de nossa nação. [...] Não aparece nas notícias, mas em milhares de cidades e vilarejos, os americanos estão escrevendo a maior história de recuperação já contada", declarou.

Isso permite "construir um futuro de possibilidades" e investir para que "todos tenham uma chance justa e que não deixemos ninguém para trás", acrescentou. 
Biden apostou no otimismo em relação ao seu rival, a quem não mencionou. Mas pensou em Trump quando declarou: "Aqueles que se gabam de revogar" a garantia constitucional do aborto, anulada pela Suprema Corte, "não têm ideia do poder das mulheres nos Estados Unidos".

O democrata sabe que importará menos o que ele diga do que como ele diz. E é que, segundo as pesquisas, os americanos duvidam de sua capacidade de suportar um segundo mandato.

Gaza e cessar-fogo 
Ao fim do discurso, Biden anunciou ao Congresso que ordenou ao Exército dos Estados Unidos o estabelecimento de um porto em Gaza para transportar mais ajuda humanitária ao território palestino sitiado, em um momento em que sua política de apoio a Israel enfurece o eleitorado muçulmano e os eleitores de origem árabe.

O presidente também reiterou seu apelo por um "cessar-fogo imediato" de seis semanas na Faixa de Gaza e instou Israel a permitir a entrada de mais ajuda humanitária no território palestino.

"Aos líderes de Israel, digo isso: a assistência humanitária não pode ser uma consideração secundária nem uma moeda de troca. Proteger e salvar vidas inocentes deve ser uma prioridade", declarou.

Nesta quinta-feira, Trump acusou Biden de ter transformado os Estados Unidos em um "filme de terror" e pediu um debate com ele, antes das convenções dos dois partidos que nomearão oficialmente os candidatos.

Joe Biden e Donald Trump esmagaram toda a concorrência nas primárias e, salvo imprevistos, estão se encaminhando para um duelo nas eleições presidenciais de 5 de novembro, como em 2020.
*Com informações do Estadão Conteúdo e AFP