Líder da oposição venezuelana, Maria Corina MachadoAFP
O governo a acusa de corrupção e de pedir uma invasão estrangeira, e inabilitou sua candidatura. Não há chances de que possa se inscrever nas eleições presidenciais.
"Estamos em momentos cruciais, o regime pretende nos fazer sentir desorientados e derrotados, quando estamos mais fortes que nunca", diz ela aos apoiadores reunidos nesta quarta-feira (13) em Mariara, cidade industrial 140 km a oeste de Caracas.
Machado nega todas as acusações e não menciona em seu comício uma única vez a sanção que a impede de ocupar cargos públicos por 15 anos, que considera inválida e inconstitucional.
Sua inabilitação foi ratificada pelo Supremo. Fontes do chavismo e da oposição descartam sua reversão. O prazo para a inscrição das candidaturas vai de 21 a 25 de março.
Ninguém sabe o que Machado fará quando essa data chegar. Especialistas apontam a possibilidade de que ela ou sua coalizão indiquem um substituto, ou que convoque o boicote à eleição, embora seu comando de campanha insista em que "ninguém convocou a abstenção".
Ela não menciona o tema em seu discurso.
"Aqui há um compromisso, vamos até o fim e o fim é o fim", diz a candidata, repetindo o mantra de sua campanha. "O fim não é só o desalojamento de uma tirania brutal, cruel, corrupta, má, mas a construção de uma Venezuela de respeito, de liberdade".
Em outubro passado, Machado venceu com folga as primárias para eleger o candidato da coalizão opositora Plataforma Unitária, com 92% dos votos.
Ela definiu sua vitória como um "mandato" do povo para derrotar Maduro, que aspira a um terceiro mandato de seis anos. O presidente chegou ao poder em 2013, após a morte de Hugo Chávez (1999-2013), e foi reeleito em 2018 em um pleito questionado, sob suspeitas de fraude.
Se Machado pudesse participar, segundo as pesquisas, ela derrotaria Maduro e poria fim a 25 anos de chavismo por ampla margem.
Na última década, o PIB de Venezuela encolheu 80%. Mais de sete milhões de venezuelanos deixaram o país devido à crise econômica e política, para fugir da fome e da pobreza.
'Não temos medo'
Em Mariara, hoje governada pelo chavismo, funcionou até alguns anos atrás um dos parques industriais mais importantes do país. E a chegada de Machado não passou despercebida.
De casas e lojas muito humildes, as pessoas saem para cumprimentá-la, algumas agitando bandeiras. Um homem chega a descer de um ônibus em movimento, que vinha em sentido contrário para se dirigir a ela; crianças uniformizadas de uma escola se reúnem para vê-la passar. Os carros buzinam em demonstração de apoio em sua passagem.
Uma motociata de 50 veículos, com duas pessoas em cada moto, a acompanha até o ponto da primeira de três visitas.
"Não temos medo!", grita um homem no meio da multidão, sob um calor sufocante.
"Se perdermos as eleições será por trapaça", diz à AFP Gleisimar Tovar, técnico em segurança industrial de 36 anos. "Mariara era território chavista e acordou. Não temos luz, água, estamos em um constante desânimo e queremos uma mudança".
"As vendas estão no chão, as pessoas dependem dos bônus", diz o comerciante Ricky Benítez, de 41 anos. "É preciso votar, dar o voto à nossa María Corina".
"Se María Corina não disputar, é preciso apoiar o candidato que ela apontar, um candidato forte e firme", afirma.
Alguns nomes começam a ser ouvidos e o apoio de Machado será fundamental. Mas no comando de campanha, a resposta é uníssona: María Corina é a candidata.
"Confio em vocês, ponho a minha vida em suas mãos", diz ela à multidão. "Vamos em frente, não vão nos deter... Este movimento é imparável".
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