No poder há quase 25 anos, Putin conseguiu 10 pontos a mais do que em 2018AFP

O presidente russo, Vladimir Putin, que venceu as eleições presidenciais neste domingo, 17, e terá um novo mandato de seis anos, afirmou em sua primeira aparição pública após a votação que seu país não será "intimidado" e nem "suprimido".
"Não importa quem ou o quanto querem nos intimidar, não importa quem ou o quanto querem nos esmagar", disse o presidente. "Não funcionou agora e não funcionará no futuro. Nunca", acrescentou.
Ao longo da semana foram registrados bombardeios e ataques de milicianos ucranianos em solo russo para tentar perturbar as eleições.
A Comissão Eleitoral russa elogiou nesta segunda-feira, 18, a vitória "recorde" de Putin nas eleições presidenciais, resultado alcançado devido à repressão da oposição e apresentado como prova de unidade nacional após a ofensiva na Ucrânia.

"É um indicador recorde. (...) Quase 76 milhões" de votos, disse a presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova.

Putin, de 71 anos, foi reeleito para o seu quinto mandato com 87,28% dos votos, informou a comissão após a contagem de todos os colégios eleitorais do país.

O presidente russo comemorou a vitória na noite de domingo, ao final de três dias de eleições sem um verdadeiro candidato da oposição.

Os outros três candidatos obtiveram 4,31%, 3,85% e 3,20% respectivamente, segundo este resultado, que não inclui os votos no exterior. Putin, no poder há quase 25 anos, conseguiu 10 pontos a mais do que em 2018.

É um resultado "excepcional" e uma "confirmação eloquente do apoio do povo russo" ao presidente, reiterou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Navalny e Ucrânia
Putin, que ainda poderá concorrer em 2030 e permanecer no poder até 2036, prestou homenagem aos soldados que lutam na Ucrânia e protegem "os territórios históricos da Rússia".

Na sua opinião, as forças russas, desde que assumiram o controle de Avdiivka em meados de fevereiro, têm "toda a iniciativa" no front.

As eleições contaram com outros três candidatos, que apoiam a ofensiva na Ucrânia e a repressão contra a oposição, que culminou com a morte do principal representante da dissidência, Alexei Navalny, em uma prisão no Ártico, em fevereiro.

A oposição, que foi proibida de apresentar candidatos, conseguiu, no entanto, mostrar-se de maneira simbólica, respondendo ao apelo da viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, que prometeu seguir com a causa do marido e pediu aos seus apoiadores que votassem ao meio-dia de domingo.

Navalnaya votou na embaixada russa em Berlim, onde vive exilada com os filhos. "Escrevi 'Navalny' porque não pode ser que, um mês antes das eleições, o principal adversário de Putin, que já estava na prisão, tenha sido assassinado", disse Navalnaya à imprensa. Para o Kremlin, a viúva do opositor "perdeu as raízes russas".

Em outras embaixadas russas, longas filas também se formaram ao meio-dia. Dezenas de milhares de russos exilaram-se no exterior desde o início da ofensiva contra a Ucrânia por medo da repressão ou de serem recrutados para o Exército.

Em alguns centros de votação em Moscou e São Petersburgo, as pessoas também se reuniram no mesmo horário.

No cemitério onde Navalny foi sepultado, na capital russa, dezenas de pessoas colocaram flores e cédulas com o nome do opositor.

Putin mencionou seu nome em público no domingo pela primeira vez em anos: "Quanto ao senhor Navalny. Sim, ele morreu. É um acontecimento triste".

Sem opções
Muitos países ocidentais criticaram as eleições. A reeleição de Putin baseia-se na "repressão e intimidação", afirmou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

Foi uma eleição "sem opções", acrescentou a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock. Para a França, também não havia "condições para eleições livres, plurais e democráticas". Os aliados tradicionais da Rússia saudaram o resultado.

O presidente chinês, Xi Jinping, enfatizou o "total apoio" dos russos ao seu presidente. Os governos de Venezuela, Cuba e Nicarágua enviaram mensagens de felicitações.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, expressou a sua "vontade inabalável de continuar trabalhando estreitamente" para "avançar na cooperação mutuamente benéfica".

O líder cubano, Miguel Díaz-Canel, destacou que o resultado eleitoral é "um exemplo confiável do reconhecimento do povo russo à sua gestão".

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, descreveu a vitória "como uma contribuição para a estabilidade indispensável da comunidade humana".