Diversas regiões de Gaza estão completamente destruídasAFP

Sobre as ruínas de sua casa destruída em Jabaliya, norte da Faixa de Gaza, os palestinos Um Nael e Saed decidiram construir um refúgio precário para permanecer em sua terra.

O casal demorou trinta anos para construir uma casa de cinco andares que as bombas israelenses destruíram em minutos. "Ir para onde?", pergunta a sexagenária Um Nael al Kahlout da cidade devastada após mais de cinco meses de guerra.

Um Nael e seu marido Saed Ismail foram deslocados pelo conflito. Voltaram após "a retirada dos israelenses" e ficaram "chocados" ao encontrarem sua casa no chão.

"Descobrimos que a casa inteira desabou, todos os cinco andares. Um dos andares era um estúdio equipado com câmeras, equipamentos e computadores. Está tudo sob os escombros", diz ela, sentada no abrigo aberto aos quatro ventos.

"Montamos um abrigo sobre os escombros. São as nossas memórias, a nossa casa, trabalhamos muito para construí-la. Ficamos aqui porque ir para onde? Não temos para onde ir. Todas as casas foram destruídas, mesmo que quiséssemos ficar com familiares, suas casas também estão destruídas".

Alguns blocos de concreto funcionam como escadas. Um relógio de pêndulo desgastado está pendurado em uma das colunas ainda de pé. Algumas plantas verdes sobrevivem em uma jardineira de concreto.

Não restam mais que ruínas, consequências dos bombardeios incessantes do Exército israelense em resposta ao sangrento ataque do movimento islamista Hamas de 7 de outubro, que desencadeou a guerra.

Milhões de toneladas de escombros
A incursão do Hamas no sul de Israel provocou a morte de ao menos 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.

A operação de represália israelense deixou agora 31.819 mortos na Faixa de Gaza, em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde neste território administrado pelo Hamas.

A Agência da ONU para os Refugiados da Palestina (UNRWA) calcula que "as destruições na Faixa de Gaza deixaram 23 milhões de toneladas de escombros".

"Levarão anos para retirar os escombros", estimou em uma mensagem na rede social X. Em seu refúgio extremamente precário, a urgência de Um Nael e seu marido é encontrar comida.

"Vamos a associações de caridade e fazemos fila com a esperança de receber malva", uma erva selvagem com à qual fazem sopa. "É sempre malva, não comemos nada", disse Saed Ismail.

A situação humanitária é particularmente catastrófica no norte da Faixa, onde vivem o casal e cerca de 300.000 habitantes de um total de 2,4 milhões de pessoas.

As agências especializadas da ONU alertaram que a fome pode assolar a região antes do final de maio se não forem tomadas medidas urgentes.