Presidente da Argentina, Javier MileiAFP

O presidente da Argentina, Javier Milei, defendeu nesta quarta-feira (15) a desaceleração da inflação, o severo ajuste fiscal aplicado desde dezembro, a taxa de câmbio quase inalterada este ano e reiterou que, no futuro, pode dolarizar a economia.
Milei acusou de farsantes os analistas que criticam seu governo acusando-o de não acompanhar o ajuste fiscal com um plano de estabilização: "Se não há plano de estabilização, acham que a inflação cai por acaso? É verdadeiramente insultante", contestou Milei, ao falar com um grupo de empresários.
A declaração veio um dia depois de o governo anunciar uma inflação de 8,8% em abril, a primeira de um único dígito desde outubro de 2023, mas ainda alta em quase 290% ao ano.
O economista ultraliberal assumiu o cargo em dezembro de 2023 e, desde então, tem aplicado um ajuste sobre os gastos públicos que cortou fortemente as obras públicas, reduziu e eliminou órgãos estatais, suspendeu o financiamento às províncias, demitiu milhares de funcionários públicos, desregulou preços e eliminou subsídios.
Nas ruas, isso se traduz na perda do valor dos salários, aposentadorias e pensões e protestos praticamente diários por parte dos setores afetados. Metade da população da Argentina vive na pobreza.
"Iniciamos o maior ajuste fiscal da história da humanidade", afirmou Milei no Conselho Interamericano de Comércio e Produção (CICyP).
No país sul-americano, muitos economistas argumentam que é necessário desvalorizar a moeda devido a uma suposta "defasagem cambial", ou seja, uma valorização do peso em relação ao dólar. Entre eles está Domingo Cavallo, a quem Milei considera "o melhor economista da história argentina".
Mas o presidente assegurou que "não há defasagem cambial", que "o dólar está bem" e que os economistas que contestam essa afirmação estão fazendo análises erradas.
"Querer corrigir a taxa de câmbio desvalorizando só aumenta o número de pobres e indigentes e não resolve o problema", disse.
Milei também mencionou a restrição à compra de moeda estrangeira, o "cepo", em vigor na Argentina desde 2019: "Vamos levantar o cepo, está em nossos planos fazê-lo o mais rápido possível".
"Uma das coisas que o FMI [Fundo Monetário Internacional] mais elogiou em nós é como todos os dias estamos levantando restrições no mercado de câmbio", acrescentou.
A Argentina tem um empréstimo de 44 bilhões de dólares (225,9 bilhões de reais) com o FMI e um plano de reestruturação de sua dívida que envolve revisões e aprovações periódicas de suas contas pelo organismo multilateral.
O presidente ultraliberal citou ainda dois de seus antigos mantras de campanha eleitoral: a dolarização e o fim do Banco Central. "À medida em que a economia se expandir, a quantidade de pesos será relativamente menor e então será possível dolarizar a economia e eliminar o Banco Central", afirmou.