Democratas criticaram declaração de TrumpAFP

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, considerado culpado na quinta-feira, 30, por um júri de Nova York, disse em uma entrevista exibida neste domingo, 2, que uma pena de prisão poderia ser "um ponto de ruptura" para seus seguidores.

Em entrevista à emissora Fox News, o candidato republicano à presidência advertiu que uma pena de prisão "seria difícil para o público aceitar". "Você sabe, em certo momento, há um ponto de ruptura", indicou.

Essas declarações têm uma conotação particular em um país ainda marcado pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores de Trump tentaram impedir a certificação da vitória eleitoral de seu rival democrata Joe Biden.

Também acontecem no momento em que o empresário bilionário de 77 anos utiliza uma retórica cada vez mais violenta contra seus opositores.

Adam Schiff, democrata da Câmara dos Representantes e ex-integrante do comitê que investigou o ataque ao Capitólio, considera que Trump tinha uma estratégia clara e que ela remete àquele 6 de janeiro.
"Esta é essencialmente sua ameaça de que, se for preso, incentivará seus apoiadores a se levantarem" em protesto, disse Schiff neste domingo no programa matutino State of Union da emissora CNN.

Um dos filhos do ex-presidente, Eric Trump, estimou, por sua vez, que o caso estava transformando seu pai em "um mártir". "O povo americano não é burro" e "vê exatamente o que está acontecendo", afirmou.

'À prisão'
Em sua primeira reação depois do veredicto histórico de quinta-feira, Stormy Daniels, a ex-atriz pornô que está no centro do caso que levou Donald Trump a ser considerado culpado de fraude contábil em um julgamento criminal, pediu a prisão do ex-presidente.
"Acho que ele deveria ser condenado à prisão e a algum serviço comunitário, trabalhando para os menos favorecidos, ou sendo saco de pancadas voluntário em um abrigo para mulheres", disse Daniels ao jornal britânico Daily Mirror no sábado.

Após seis semanas de julgamento em um tribunal de Manhattan, um júri considerou o ex-presidente culpado, na quinta-feira, de 34 acusações de falsificação de documentos contábeis para ocultar um pagamento destinado a silenciar a ex-atriz, que afirma ter mantido relações com o magnata, o que ele nega.

Daniels, de 45 anos, afirma que recebeu 130 mil dólares para evitar um escândalo sexual na reta final da campanha de 2016 que levou Trump à Casa Branca. Stormy afirmou que Trump, o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a ser condenado pela Justiça, "está completa e absolutamente fora de sintonia com a realidade".
"Estar no tribunal foi muito intimidante para mim, com os jurados olhando para mim", disse a mulher que usa um nome artístico, mas legalmente se chama Stephanie Clifford. "Como eu sempre disse, tenho dito a verdade o tempo todo."

'Injusto'
O republicano de 77 anos, classificou o processo contra ele de "injusto" e foi liberado sem fiança após uma audiência esta semana.

O ex-presidente (2017-2021) poderá ser condenado a quatro anos de prisão por cada acusação, mas é mais provável que goze de liberdade condicional, já que não tem antecedentes criminais. Mesmo assim, ele não está inabilitado para continuar sua campanha eleitoral, inclusive no caso improvável de ser preso.

O presidente americano Joe Biden, que busca a reeleição nas eleições de novembro, criticou seu futuro adversário nas urnas por questionar o sistema judicial dos Estados Unidos e dizer que seu processo foi fraudado, e descreveu suas declarações como "perigosas".
Trump também se recusou repetidamente a comprometer-se a aceitar o resultado caso perca novamente para Biden.

'Isso não acabou para mim'
O depoimento de Daniels foi um dos momentos mais comentados do julgamento, já que a ex-atriz contou detalhes da relação sexual que teve com o magnata em 2006.

"Isso não acabou para mim. Para mim, isso nunca vai acabar", disse. Segundo a ex-atriz, mesmo que Trump seja considerado culpado, ela terá que viver para sempre com esse "legado".

Daniels afirmou na entrevista que se sente "vindicada", mas também destacou que nunca conseguirá escapar das ameaças de morte que recebe dos apoiadores de Trump.

No documentário "Stormy", a ex-atriz confessou que os constantes insultos que recebe de Trump e dos seus simpatizantes a magoam, mas que está mais preocupada com as ameaças. "São ameaças diretas, como 'vou até sua casa e vou cortar sua garganta' ou 'sua filha deve sofrer eutanásia'".