Claudia SheinbaumAFP
A candidata governista, uma cientista de esquerda, deverá combater a violência que deixou quase 190 mil mortos durante o governo do atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, seu mentor político, e que prejudica o crescimento do México, afirmaram analistas à AFP.
Outros desafios são reduzir a pobreza que afeta um terço da população, mitigar o impacto crescente das mudanças climáticas em um país com secas e escassez de água e administrar a complexa relação com os Estados Unidos, que pode gerar tensões.
Sheinbaum promete aprofundar as reformas sociais de AMLO e governar para os desfavorecidos. Ela conseguirá cumprir as metas e impor sua agenda? As respostas, concordam os analistas, ainda são um mistério.
Cartéis
"O crescimento ameaçador do crime organizado e dos cartéis florescentes é o problema mais assustador que Sheinbaum precisará enfrentar", disse à AFP Michael Shifter, analista do centro de pesquisas Diálogo Interamericano.
"Se não conseguir frear a dramática deterioração da situação de segurança do México, será cada vez mais difícil cumprir sua agenda de política social e econômica", acrescentou.
A presidente eleita promete erradicar a impunidade e, como AMLO, priorizar as causas da violência com a ampliação de programas para jovens, o fortalecimento da Guarda Nacional, mais inteligência policial e cooperação entre as instituições responsáveis pela segurança.
'Não há dinheiro'
"O desafio mais importante para o próximo governo será corrigir o elevado déficit fiscal", afirma Víctor Ceja, economista-chefe da Valmex.
A presidenta eleita precisa de mais dinheiro nos cofres do Estado para financiar as ajudas diretas recebidas atualmente por 25 milhões de jovens mexicanos, idosos e pessoas com deficiência, além de concretizar outras reformas.
"Precisa gastar dinheiro em muitas coisas e não há dinheiro. A infraestrutura é obsoleta. A energia elétrica é um problema. A (empresa de petróleo estatal) Pemex é um problema", resume Pamela Starr, especialista em México da Universidade do Sul da Califórnia.
Sheinbaum aposta no "nearshoring", a transferência de parte da produção de empresas estrangeiras para o norte do México, para atrair investimentos.
Carlos Ramírez, da consultoria de risco Integralia, alerta que "o nearshoring não é a grande tábua de salvação do México" e que o seu eventual sucesso depende de avanços na segurança e infraestrutura, do fornecimento de água e de energia. "É necessária uma reforma fiscal que aumente a arrecadação (...) O status quo é insustentável", analisa.
A água, cuja disponibilidade per capita caiu 68% desde 1960, virou um tema crucial da campanha em meio a uma onda de calor, temperaturas recorde e de uma seca que afeta as represas hidrelétricas.
Com doutorado em Engenharia Ambiental, Sheinbaum promete aumentar o investimento em energias limpas, enquanto AMLO apostou na energia fóssil ao injetar milhões na endividada Pemex.
Migração: 'romper o ciclo'
Os críticos afirmam que há muitos anos o México não tem uma verdadeira política migratória e apenas reage às exigências dos Estados Unidos.
Stephanie Brewer, diretora para o México do 'Washington Office on Latin America' (WOLA), critica as "crescentes ações de contenção, detenção e militarização de fronteiras" que AMLO ordenou a pedido dos Estados Unidos.
Ela considera que Sheinbaum "tem a tarefa urgente de romper o ciclo e colocar a proteção das pessoas no centro" da questão, priorizando a luta contra a violência e a extorsão.
EUA-México: incerteza
Em caso de derrota do presidente Joe Biden e vitória de Donald Trump, que promete criar campos de detenção de migrantes e uma deportação em massa, "o maior desafio que o México enfrentará é a incerteza", disse Starr. "A relação será muito mais pontuada pelo conflito".
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