Conflito no Sudão já deixou mais de 14.000 mortosAFP
Governo do Sudão acusa grupo paramilitar de matar mais de 150 pessoas
Mulheres, crianças e idosos estão entre as vítimas dos ataques da RSF
Mais de 150 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas após as Forças Paramilitares de Apoio Rápido (RSF, em inglês) atacarem uma vila na província de Gezira, no Sudão, na última quarta-feira, 05. As informações foram confirmadas por autoridades locais.
Mulheres, crianças e idosos estão entre as vítimas dos ataques da RSF na vila de Wad al-Noura, em Gezira, declarou o governador da província de Darfur, Mini Arko Minawi, em uma rede social.
De acordo com comunicado da diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherina Russell, pelo menos 35 crianças foram mortas e outras 20 ficaram feridas durante os ataques.
"Este é mais um lembrete sombrio de como as crianças do Sudão estão pagando o preço da violência brutal. Durante o ano passado, milhares de crianças foram mortas e feridas. Outras foram recrutadas, raptadas e sujeitas a violações e outras formas de violência sexual. Mais de cinco milhões de crianças foram forçadas a abandonar as suas casas", disse Catherina.
Um coletivo local formado para proteger os moradores de Wad Madani, capital de Gezira, afirmou na noite de quarta nas redes sociais que a força paramilitar usou artilharia pesada para cercar e atacar a região.
O Comitê de Resistência de Madani, que já foi ameaçado e atacado pela RSF, acusou os paramilitares de saquear a vila da região em meio aos ataques, que teriam começado na manhã da quarta. O coletivo alega que os moradores, incluindo mulheres e crianças, tiveram que se deslocar para outras partes do distrito de al-Managil.
O grupo paramilitar afirmou que, em dezembro, tomou o controle de Wad Madani. A cidade fica a cerca de 100 quilômetros a sudeste de Cartum, capital do Sudão, onde milhares de pessoas se refugiaram durante o conflito.
Em uma declaração por meio do seu canal no Telegram, o governo de transição sudanês condenou os ataques e pediu à comunidade internacional que responsabilize a RSF.
"Esses são atos criminosos que refletem o comportamento sistemático dessas milícias (RSF) em alvejar civis, saquear suas propriedades e deslocá-los à força de suas cidades", disse o departamento de imprensa do Conselho de Soberania de Transição, que foi criado após a destituição do ex-presidente Omar Bashir, em 2019.
A RSF alegou no X na noite de quarta-feira que o Exército sudanês planejava atacar suas tropas em Jabal al-Awliya mobilizando as forças armadas sudanesas em três bases, de acordo com a Associated Press, que não pôde confirmar a informação.
O grupo paramilitar disse ainda que atacou três regiões próximas a Wad-al Noura e entrou em confronto com o exército sudanês.
"Nossas forças não ficarão paradas diante de quaisquer movimentos ou aglomerações do inimigo e trabalharão para perseguir e derrotá-lo", disse a RSF em sua declaração.
ONU pede o fim do conflito
Clementine Nkweta-Salami, Coordenadora Residente e Humanitária das Nações Unidas no Sudão, disse na quinta-feira no X que estava "chocada" com os relatos dos ataques violentos. "A tragédia humana tornou-se uma marca da vida no Sudão. Não podemos permitir que a impunidade se transforme em outra", declarou.
Em um comunicado, Nkweta-Salami disse que há relatos de "de tiroteios pesados e da utilização de armas explosivas em áreas povoadas"
Da mesma forma, a Diretora Executiva da Unicef descreveu as cenas no local como "devastadoras" e pediu o fim da violência no Sudão, afirmando que as crianças no país "precisam de um cessar-fogo agora."
A guerra entre a RSF e o Exército sudanês devastou o país, com confrontos se espalhando por várias cidades e empurrando sua população para ultrapassar o limite da insegurança alimentar. Mais de 14.000 pessoas foram mortas e milhares foram feridas. Centenas de milhares foram deslocadas.
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