Fumaço em cidade do Líbano após bombardeio israelense Rabih Daher / AFP

Israel bombardeou, nesta quinta-feira (20), a Faixa de Gaza e foi confrontado com fogo de artilharia procedente do Líbano, um dia depois de o líder do movimento xiita Hezbollah ter ameaçado com uma resposta contundente caso o Estado hebreu lançasse uma ofensiva geral na sua fronteira norte.

O Hezbollah, aliado do movimento islamista palestino Hamas, no poder em Gaza, anunciou que bombardeou o norte de Israel em retaliação pela morte de um dos seus combatentes em um ataque israelense.

O Exército israelense confirmou que "eliminou" um miliciano do Hezbollah em um "bombardeio direcionado" e garantiu que se tratava de um comandante desse movimento baseado no Líbano, apoiado e financiado pelo Irã.

O chefe do Hezbollah, Hasan Nasrallah, alertou na quarta-feira que "nenhum lugar" em Israel estaria a salvo dos seus mísseis se o governo israelense abrisse uma nova frente na sua fronteira norte.

O chefe do Exército israelense, general Herzi Halevi, afirmou que o seu país tem "capacidades infinitamente superiores" às do Hezbollah.

A ofensiva israelense não dá trégua nesse estreito território de 2,4 milhões de habitantes, devastado por mais de oito meses de guerra. No campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa, duas pessoas morreram em um bombardeio, indicaram fontes médicas nesta quinta-feira. Testemunhas relataram disparos de tanques israelenses em Zeitun, um bairro da cidade de Gaza, no norte, e nos campos de Bureij e Maghazi.

Em Rafah, no extremo sul do enclave, há confrontos entre soldados israelenses e combatentes palestinos, disse uma fonte do braço armado do Hamas.
Reduzir a tensão
A guerra começou em 7 de outubro, quando combatentes islamistas mataram 1.194 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

O Exército israelense afirma que 116 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, incluindo 41 que teriam morrido. Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva que deixou pelo menos 37.431 mortos em Gaza, também civis na maioria, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.

O conflito também gerou uma catástrofe humanitária, que, segundo a ONU, deixa os moradores de Gaza à beira de uma crise de fome.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrenta uma onda de críticas internas e externas por sua gestão da guerra e por não ter conseguido libertar os reféns. Mas o chefe de Governo, que lidera uma coalizão de forças nacionalistas, ultraconservadoras e do judaísmo ortodoxo, afirma que vai prosseguir com a guerra até "aniquilar" o Hamas, considerado uma organização "terrorista" por Israel, União Europeia (UE) e Estados Unidos.

Um emissário do presidente americano Joe Biden, Amos Hochstein, que visitou Israel e Líbano esta semana, afirmou que é "urgente" diminuir a tensão na fronteira e defendeu o plano de cessar-fogo para a Faixa de Gaza presentado em 31 de maio por Biden.

'Nenhum lugar a salvo'
O Exército israelense anunciou na terça-feira que tinha uma "ofensiva" preparada contra o Hezbollah, apoiado e financiado pelo Irã, após semanas de intensificação da troca de disparos dos dois lados da fronteira.

O chanceler do país, Israel Katz, ameaçou destruir o Hezbollah em uma "guerra total".

"O inimigo sabe muito bem que nos preparamos para o pior [...] e que não haverá nenhum lugar [...] a salvo de nossos foguetes", declarou o líder do Hezbollah na quarta-feira.

Os disparos de foguetes contra Israel poderiam ser efetuados de "terra, ar e mar", acrescentou.

Nasrallah também fez ameaças ao Chipre, afirmando que o país do Mediterrâneo e membro da União Europeia seria considerado como "parte da guerra" se autorizasse Israel a usar seus aeroportos e bases para atacar o Líbano.

"A República do Chipre não está envolvida de forma alguma nesta guerra", declarou o presidente cipriota, Nikos Christodoulides, em um comunicado.

O Ministério das Relações Exteriores cipriota disse em uma declaração nesta quinta-feira que "as relações entre Líbano e Chipre são baseadas em uma rica história de cooperação diplomática" e que há consultas bilaterais "ao mais alto nível".

Mais de oito meses de violência entre o Hezbollah e o Exército israelense na fronteira deixaram pelo menos 479 mortos no Líbano, a maioria deles combatentes do Hezbollah, e 93 civis, segundo uma contagem da AFP.

Do lado israelense, pelo menos 15 soldados e 11 civis morreram, segundo Israel.