Estátua de Anne Frank com a pichação em sua baseAFP

A estátua em homenagem a Anne Frank em Merwedeplein, norte de Amsterdã, capital da Holanda, teve a palavra "Gaza" pichada em sua base na última terça-feira, 9. A polícia abriu uma investigação sobre o caso. Até o momento, ninguém foi preso.
Frank foi uma adolescente judia que viveu em Merwedeplein antes de fugir do Holocausto. Ela ficou conhecida por seu diário escrito enquanto se escondia dos nazistas, tornando-se um símbolo internacional da luta contra o antissemitismo.
A palavra "Gaza" foi rabiscada em tinta vermelha no pódio da estátua, erguida em um parque perto de onde Frank e sua família viviam antes de serem forçados a se esconder. Ela a mostra usando várias camadas de roupa, pois a família temia que carregar malas levantasse suspeitas.
Em publicação no X (antigo Twitter), o Congresso Judaico Europeu criticou o vandalismo, dizendo que a pichação "é um desrespeito à memória de Anne Frank e dos 6 milhões de judeus assassinados durante o Holocausto".
O Comitê Judaico norte-americano também condenou o ato em publicação na rede social, afirmando que a prática foi um exemplo de antissemitismo que "representa ódio, não ativismo".
O conselheiro do VVD (Partido Popular para a Liberdade e Democracia, de direita) de Amsterdã, Stijn Nijssen, repudiou o ato. "É verdadeiramente vergonhoso que alguém pense em chamar atenção para a causa palestina manchando uma imagem de Anne Frank, um símbolo internacional do Holocausto", declarou.
A prefeita Femke Halsema condenou o ocorrido, afirmando que "nenhum cidadão foi ajudado a manchar esta preciosa estátua".
"Esta jovem, que foi brutalmente assassinada pelos nazistas aos 15 anos, lembra a nós e à nossa cidade todos os dias da humanidade e da gentileza, mesmo nacional mais difícil", escreveu no Instagram. "Quem quer que tenha sido, não há desculpa para isso", acrescentou.
De acordo com um porta-voz da polícia, após receberem uma chamada, agentes foram ao local e constataram o dano, iniciando uma investigação imediatamente. Apesar das diligências, até o momento nenhum suspeito foi detido.
História
Anne Frank é mundialmente conhecida por seu diário, que narra os desafios enfrentados enquanto esteve escondida com sua família dos nazistas. O anexo secreto em que Anne e outras sete pessoas se ocultaram tornou-se um dos relatos mais pungentes do Holocausto. Apesar de sua vida ter sido tragicamente perdida aos 15 anos no campo de concentração, seu legado perdura, ensinando sobre resiliência e esperança em tempos de desespero.
Anne nasceu na Alemanha em 1929. Seu verdadeiro nome era Annelies Marie, mas todos em sua família a chamavam carinhosamente de "Anne". Ela era a segunda filha do casal Otto e Edith Frank. Sua irmã, Margot, era quatro anos mais velha.
O pai era um homem de negócios e um oficial condecorado que lutou no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1934, quando o nazismo fez aumentar as perseguições aos judeus na Alemanha, a família mudou-se para Amsterdã, na Holanda.
As filhas do casal foram matriculadas em escolas locais. Em 1938, Otto Frank e um sócio, Hermann van Pels, fundaram uma empresa nova. O sócio também era um judeu que havia fugido com a família para a Holanda.
Em maio de 1940, a Alemanha nazista invadiu e ocupou a Holanda. Sob a ocupação nazista, os judeus que viviam no país passaram a ser alvo de leis segregacionistas. Crianças judias ficaram proibidas de estudar nas mesmas escolas onde estudavam crianças não-judias. Por causa dessa proibição, Anne e Margot tiveram que ser transferidas das escolas onde estudavam para um colégio judaico.
Dois anos depois, a família de Anne recebeu a notícia de que seria obrigada a se mudar para um campo de trabalhos forçados. Para fugir desse destino, a família foi para um esconderijo no prédio onde funcionava o escritório do pai. Para deixar a impressão de que haviam fugido apressadamente, a jovem e seus familiares deixaram o apartamento todo desarrumado.
Anne passava a maior parte do tempo escrevendo em seu diário ou estudando. Porém, em agosto de 1944, a polícia nazista invadiu o esconderijo, cuja localização foi descoberta por um informante que jamais foi identificado. Todos os refugiados foram colocados em caminhões e levados para interrogatório.
Idosos, crianças pequenas e todos aqueles que fossem considerados inaptos para o trabalho eram separados dos demais para serem exterminados de imediato. Anne teve sua pele vitimada pela sarna.
Estima-se que cerca de 17 mil pessoas morreram por causa da doença. Entre as vítimas estavam Margot e Anne, que morreu com apenas 15 anos de idade, poucos dias depois de sua irmã ter morrido. Seus corpos foram jogados numa pilha de cadáveres e então cremados.
Otto Frank, pai de Anne, foi o único membro da família que sobreviveu e voltou para a Holanda. Ao ser libertado, soube que a esposa havia morrido e que as filhas haviam sido transferidas para Bergen-Belsen. Ele ainda tinha esperança de reencontrá-las vivas.
Ele teve acesso aos diversos álbuns com fotografias da família e os papéis de Anne encontrados no antigo esconderijo. Ele mostrou o diário à historiadora Annie Romein-Verschoor, que tentou sem sucesso publicá-lo. Ela então mostrou ao marido, o jornalista Jan Romein, que escreveu um texto sobre o diário de Anne.
O diário da jovem foi publicado pela primeira vez em 1947. A obra teve tal sucesso, que os editores lançaram uma segunda tiragem em 1950. O "Diário de Anne Frank" foi traduzido para diversas línguas, com mais de 30 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.