Pavel Durov, fundador do TelegramSteve Jennings/AFP

A prisão e acusação na França do fundador do Telegram, Pavel Durov, revelou as conexões internacionais deste homem de 39 anos, com pelo menos dois nomes e quatro passaportes.

Nascido em Leningrado, hoje São Petersburgo, em 1984, no seio de uma família de professores universitários, Pavel Durov passou a infância na Itália, até a sua família retornar à Rússia após a queda da União Soviética. Atualmente, ele mantém a nacionalidade russa.

No seu país de origem, criou a rede VKontakte em 2006, que foi forçado a entregar a um empresário próximo do presidente Vladimir Putin, razão pela qual deixou a Rússia em abril de 2014.

As autoridades russas consideram-no um dissidente e tentaram várias vezes, em vão, bloquear o seu serviço de mensagens Telegram.

Obteve então outras nacionalidades, como a da ilha caribenha de São Cristóvão e Nevis, que detém desde 2014, segundo o jornal Izvestia, ou a dos Emirados Árabes Unidos, concedida em fevereiro de 2021, segundo a revista Forbes Rússia.

A sua empresa, o Telegram, tem sede no Dubai, local que considera "formidável" pela sua "neutralidade" e ambiente favorável aos negócios.

"Primeiro fomos a Berlim... Experimentamos em Londres, Singapura, San Francisco", explicou em uma rara entrevista em abril ao jornalista americano ultraconservador Tucker Carlson. "Os obstáculos burocráticos eram muito difíceis de superar".

Aprender francês
À sua lista de nacionalidades, Durov acrescentou o passaporte francês em agosto de 2021. A sua detenção no sábado em um aeroporto ao norte de Paris causou surpresa, apesar de, segundo uma fonte próxima do caso, tanto ele como o seu irmão Nicolai - cofundador do Telegram - terem sido alvo de mandados de busca emitidos pela Justiça francesa no âmbito de uma investigação preliminar.

Segundo o jornal Le Monde, Durov reuniu-se várias vezes com o presidente Emmanuel Macron antes de obter a nacionalidade francesa, que lhe foi concedida graças a um procedimento que o presidente francês assumiu "totalmente" na quinta-feira quando questionado em coletiva de imprensa.

Esta decisão "foi tomada em uma estratégia totalmente assumida de permitir que mulheres e homens - sejam artistas, atletas, empresários, que se esforçam para aprender francês e desenvolver a riqueza e a inovação que brilha em todo o mundo - obtenham a nacionalidade francesa quando pedem por isso", disse Macron.

Durov "fez um esforço para aprender francês", sublinhou o chefe de Estado. No entanto, segundo fonte próxima do caso, na quarta-feira, durante o interrogatório perante o juiz de instrução, o empresário falou em inglês.

Durov, Dourov ou Du Rove?
O nome francês do bilionário também levanta dúvidas. De acordo com a transcrição francesa usual, seu nome deveria ser escrito "Pavel Dourov". Mas em seu estado civil francês, nem "Durov", nem "Dourov": o fundador e CEO do famoso aplicativo de mensagens aparece como "Paul du Rove".

A mudança foi realizada por meio de um decreto de maio de 2022 para afrancesar seu nome e o de outras cem pessoas anônimas que realizaram o mesmo procedimento.

Seu canal Telegram, com 11,5 milhões de assinantes, é chamado de "Canal Du Rove". Mas a conta dele no aplicativo é @durov.

Conforme explicou no ano passado, a mudança aconteceu por causa de uma "brincadeira" de seu assistente, que o levou a preencher o formulário para "afrancesar" o nome.

"Embora rapidamente nos tenhamos esquecido de ter feito este pedido, eles aprovaram-no e deram-me um novo passaporte" com o novo nome, acrescentou.

Brincando, ele acrescentou: "Estou aliviado que a criatividade do meu assistente não tenha chegado ao meu passaporte dos Emirados. Caso contrário, vocês leriam esta mensagem no 'Al Dur's Channel'".