Organização das Nações Unidas (ONU)AFP
O crescimento lento, a dívida elevada e o enfraquecimento do investimento e do comércio pioraram as fraturas econômicas entre países industrializados e em desenvolvimento, apontou o relatório da ONU Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Os países em desenvolvimento se viram duramente afetados pelo impacto da pandemia e as sucessivas crises que a seguiram, ressaltou em uma coletiva de imprensa a secretária-geral da Unctad, Rebeca Grynspan.
Embora algumas economias em desenvolvimento mostrem um crescimento "promissor", o panorama geral no Sul Global é de "fraco crescimento, crescente exposição aos choques globais e risco de fragmentação" do comércio, detalhou no relatório.
O documento destaca o surgimento de um “novo normal de baixo crescimento” no mundo, com taxas de 2,7% até 2024 e 2025, em comparação com uma média anual de 3% de crescimento entre 2001 e 2019.
O contraste é impressionante quando comparado ao crescimento médio de 4,4% nos anos anteriores à crise financeira global, disse a agência da ONU.
A desaceleração econômica é ainda mais “acentuada” nas economias em desenvolvimento, acrescentou. Seu crescimento médio caiu para 4,1% entre 2014 e 2024, em comparação com 6,6% entre 2003 e 2013.
Excluindo a China, o crescimento médio no Sul na última década foi de apenas 2,8%. O ônus da dívida também aumentou em 70% nesses países entre 2010 e 2023. Como resultado, muitos deles estão expostos a “medidas de austeridade que podem prejudicar o progresso em direção ao desenvolvimento inclusivo”.
A dependência de commodities
Isso inclui o retorno da política industrial, padrões de comércio multipolar e novas inovações tecnológicas, detalhou.
“Resta saber se isso levará a um paradigma global mais favorável aos países em desenvolvimento e às metas de desenvolvimento sustentável”, questionou.
O relatório destaca como a inflação pós-pandemia corroeu o poder de compra nos países em desenvolvimento, alimentando o “descontentamento social”.
Nesse contexto, a Unctad adverte contra o uso exclusivo de políticas de aperto monetário para combater a inflação e defende, em vez disso, uma combinação de políticas que inclua estratégias fiscais e regulatórias.
O relatório também enfatiza que o comércio de serviços - que constitui 25% dos fluxos brutos de comércio global - oferece um “novo potencial de crescimento” para os países em desenvolvimento.
Esses últimos ainda respondem por menos de 30% das receitas globais de exportação de serviços.
Por outro lado, “a transição energética e a economia digital oferecem um potencial de crescimento adicional”, disse Grynspan.
No entanto, para que essas oportunidades se concretizem, “os países em desenvolvimento devem evitar a armadilha da dependência de commodities”, insistiu ela.
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