Tarek William Saab, procurador-geral da VenezuelaAFP
Em entrevista à AFP na segunda-feira, Saab disse faz "ouvidos surdos" para aqueles que o acusam de ser um promotor a serviço de Maduro.
Nas paredes e mesas de seu escritório há retratos e esculturas do herói venezuelano Simon Bolívar, assim como fotos dele com Maduro e os falecidos líderes socialistas Hugo Chávez e Fidel Castro. Entre as curiosidades: um pequeno bastão de chuva de madeira com a frase "No más Trump" (Chega de Trump, em tradução livre).
Ratificado em seu cargo para um novo mandato, o promotor observa que, em seus primeiros sete anos de mandato, 2,12 milhões de pessoas foram atendidas no Ministério Público, houve 600 condenações de militares e policiais por violações de direitos humanos e 21.851 acusações por corrupção, incluindo cinco ex-ministros do Petróleo.
Saab acredita que houve "premeditação" na violência das manifestações que eclodiram depois que Maduro foi proclamado reeleito na madrugada de 29 de julho, um dia após a eleição, em meio a denúncias de fraude por parte da oposição liderada por María Corina Machado, que afirmou ter provas da vitória de seu candidato, Edmundo González.
Houve 28 mortos, de acordo com um balanço atualizado do promotor, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos, incluindo cerca de 100 adolescentes, que ativistas e parentes dizem ter sofrido tortura.
"O plano era usar a fraude para escalar uma ação terrorista", insistiu Saab. "Se não tivéssemos agido naquele momento da maneira que agimos, a Venezuela teria sido objeto de uma guerra civil. É por isso que eu digo que isso foi premeditado.
'Crianças presas? Isso é mentira'
"Mas o mais grave: 28 pessoas foram mortas", disse ele, negando que qualquer uma das mortes fosse "atribuível às forças de segurança". "Não há nenhuma denúncia", enfatizou.
"As 200 pessoas feridas não têm direitos humanos?", questionou. "Eles tentaram queimá-los, atiraram neles. Quem fez isso? Você vai me dizer que (os detidos) são presos políticos?".
A ONG Fórum Penal afirma que cerca de 1.800 pessoas ainda estão atrás das grades por este caso, incluindo 69 menores de idade.
"Existe uma lei penal ligada aos adolescentes, que estabelece as idades entre 14 e 17 anos", justificou Saab. "Na Venezuela, as crianças não são presas, isso é uma mentira."
Anteriormente, ele disse que os adolescentes detidos estavam em prisões juvenis, "com seus direitos humanos atendidos". Do número total de detidos, "muitos foram liberados", disse Saab, embora não tenha especificado o número.
"Houve um processo de revisão das medidas", disse ele. "Toda investigação tem seu curso até que o processo seja concluído". Ele rejeita as denúncias de tortura na crise pós-eleitoral: "Demos a todos os detidos uma avaliação médica adequada".
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.