Presidente dos Estados Unidos, Joe BidenAFP

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, lidera nesta sexta-feira (15) em Lima o primeiro dia da cúpula da Ásia-Pacífico, na véspera de seu provável último encontro com o mandatário chinês, Xi Jinping.

Biden assistiu à abertura do diálogo informal de líderes conduzido pela presidente peruana, Dina Boluarte, que apelou para o fortalecimento da "cooperação multilateral" em um momento de crescente "incerteza".

A cúpula da Ásia-Pacífico (Apec) ocorre em meio às dúvidas suscitadas pelo retorno de Donald Trump ao poder, que ameaça aumentar as tarifas sobre todas as exportações para os Estados Unidos, especialmente sobre os produtos proveniente da China e de seu vizinho México, o que se apresenta como um prenúncio de novas guerras comerciais.

O encontro prosseguirá até sábado, quando Biden e Xi terão o possível último encontro cara a cara antes de o presidente americano entregar o poder ao magnata republicano em janeiro.

Ambos os líderes também vão marcar presença na cúpula do G20, na próxima segunda e terça-feira, no Brasil.

Além de Biden e Boluarte, estão presentes na abertura da reunião anual da Apec o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau; o presidente do Chile, Gabriel Boric; e representantes de Austrália, Tailândia, México e Singapura, entre outros.

Se for aplicado, o programa protecionista de Trump representará um duro golpe para as 21 economias do Fórum de Cooperação Ásia-Pacífico (Apec), uma das regiões comerciais mais dinâmicas do mundo, que representa 60% do PIB global.

Os anúncios de Trump "colocaram um ponto de interrogação" sobre a aliança Ásia-Pacífico, disse à AFP Jorge Heine, ex-embaixador do Chile na China entre 2014 e 2017.

Heine não descarta que Trump retire os Estados Unidos da Apec, como fez em 2017, quando saiu do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP), que visava criar um poderoso bloco.

Segundo dados da Apec, o crescimento do PIB da aliança recuará de 3,5% em 2024 para 3,1% em 2025.

Sob tensão
A expectativa fica por conta da reunião entre Biden e Xi, que ocorrerá em meio a tensões devido ao apoio da China à Rússia na guerra contra a Ucrânia.

"É bom que conversem e vejam se conseguem, pelo menos, diminuir a intensidade das tensões entre China e Estados Unidos", comentou Heine, professor de Relações Internacionais da Universidade de Boston.

O presidente russo, Vladimir Putin, enviou um delegado à cúpula da Apec.

Para os outros membros, o encontro em Lima pode ser uma oportunidade para delinear caminhos diante do retorno de Trump, que se avizinha tenso, também devido à nomeação de "falcões" como o senador Marco Rubio para o cargo de secretário de Estado.

Rubio defende uma política linha-dura contra Pequim.

"Estamos vivendo tempos difíceis na relação China-Estados Unidos", destaca Heine.

Batalha pela América Latina
A cúpula da Apec já foi palco de um primeiro confronto entre Washington e Pequim, após a inauguração, na quinta-feira, do megaporto de Chancay, o primeiro da China na América do Sul.

A obra, na qual Pequim investirá um total de 3,5 bilhões de dólares (R$ 20,2 bilhões), reduzirá em 10 dias o transporte marítimo entre China e Peru, segundo Xi, que a definiu como o "primeiro porto inteligente e verde da América do Sul".

Enquanto o presidente chinês inaugurava o porto, o enviado especial da Casa Branca para a América Latina, Brian Nichols, fez um apelo aos países latino-americanos para garantir que o investimento do gigante asiático respeite "as leis locais" e proteja "os direitos humanos e o meio ambiente".

Os Estados Unidos enfrentam uma crescente competição econômica da China na América Latina, onde exerceram uma influência hegemônica por dois séculos.

Washington costuma criticar a dívida contraída pelos países ao redor do mundo em projetos concedidos à China.

A cúpula da Apec ocorre em meio a protestos de dezenas de transportadores e comerciantes, que tentam aproveitar o evento para denunciar a ineficácia das autoridades no combate à extorsão.

As manifestações tentaram em vão chegar ao centro de convenções que abriga as reuniões, protegido por grande parte do contingente de 13.000 policiais designados para a vigilância do evento.