Donald Trump, presidente eleito nos EUAAFP
Trump considerou antes do Natal que controlar a Groenlândia era uma "necessidade absoluta" para a "segurança nacional e a liberdade no mundo", e não descarta o uso da força para tomá-la.
As declarações provocaram temor tanto neste território quanto na Dinamarca, assim como em outros países da União Europeia. O porta-voz do governo francês denunciou "uma forma de imperialismo", enquanto seu homólogo alemão ressaltou que "as fronteiras não podem ser deslocadas pela força".
O chanceler dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, afirmou por sua vez que seu país se mantém "aberto ao diálogo" para salvaguardar os interesses de Washington na Groenlândia, em um momento em que aumentam as rivalidades com a China e a Rússia na região.
"A ideia expressada sobre a Groenlândia obviamente não é boa, mas talvez o mais importante seja que obviamente isso não vai acontecer", tentou atenuar o chefe da diplomacia dos Estados Unidos em fim de mandato, Anthony Blinken.
Mais perto de Nova York
A capital da ilha está mais perto de Nova York do que de Copenhague, e o território faz parte da zona de interesse dos Estados Unidos, afirmou à AFP Astrid Andersen, historiadora do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais.
"Durante a guerra, quando a Dinamarca foi ocupada pela Alemanha, os Estados Unidos se apoderaram da Groenlândia. De certa forma, eles nunca saíram", explicou.
Os Estados Unidos possuem uma base ativa no noroeste da ilha, em Pituffik. O território é, assim, a trajetória mais curta para disparar mísseis em direção à Rússia.
Washington se queixa "legitimamente da falta de vigilância do espaço aéreo e das zonas submarinas a leste da Groenlândia", afirmou o cientista político Ulrik Pram Gad, do mesmo instituto de Andersen.
Em um momento em que o derretimento de geleiras permite novas rotas marítimas, "o problema é legítimo, mas Trump está usando termos exagerados", opinou.
O republicano já havia dito que queria comprar o território durante seu primeiro mandato, em 2019. As declarações foram rejeitadas pela Dinamarca e pelas autoridades groenlandesas.
Os europeus seguiram o exemplo quatro anos depois com seu próprio acordo de colaboração. A União Europeia identificou 25 dos 34 minerais de sua lista oficial de matérias-primas fundamentais na região, incluindo as terras raras.
O setor de mineração, no entanto, é inexistente. Há apenas duas minas ativas na Groenlândia, uma de rubis, que busca novos investimentos, e outra de anortosito, um metal que contém titânio.
"Os atores [internacionais] estão cada vez mais conscientes da necessidade de diversificar suas fontes de suprimento, sobretudo no que se refere à dependência da China de terras raras", destaca Ditte Brasso Sorensen, especialista em geopolítica e diretora adjunta do grupo de reflexão Europa.
A isso se soma o temor de que Pequim se aproprie dos recursos minerais, acrescentou.
Dependência financeira
Muitas esperanças estão depositadas na abertura, em novembro, de um aeroporto internacional em Nuuk, a capital, que deve contribuir para o desenvolvimento do turismo. O tema das infraestruturas é fundamental tanto para o turismo quanto para a mineração.
Mas Sorensen destaca as dificuldades locais dessa atividade: "condições climáticas muito rigorosas, um ambiente protegido e muitos custos devido à necessidade de desenvolver infraestruturas físicas e digitais".
A oposição da população à extração de urânio no sul da Groenlândia levou à criação de uma legislação que proíbe a exploração de produtos radioativos. Outro recurso potencial a ser explorado é o petróleo, mas o projeto se encontra paralisado.
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