Órgão transplantado veio de um miniporco geneticamente editado com seis modificações para torná-lo mais compatívelReprodução

Uma equipe médica chinesa realizou, pela primeira vez, o transplante de um fígado de porco geneticamente modificado para um ser humano com morte cerebral. O avanço, anunciado nesta quarta-feira (26) em um estudo publicado na Nature, abre caminho para novas possibilidades no tratamento de doenças hepáticas e na redução das longas filas de espera por transplantes.

Um avanço promissor
Os porcos são considerados os doadores animais mais compatíveis com seres humanos, e já houve casos de transplante de rins e corações de porco em pacientes nos Estados Unidos. No entanto, o fígado, por suas funções complexas, é o órgão mais desafiador para esse tipo de procedimento, e essa foi a primeira vez que ele foi testado dentro do corpo humano.

A cirurgia foi realizada no hospital da Quarta Universidade Médica Militar, em Xi’an, no dia 10 de março de 2024. O órgão transplantado veio de um miniporco geneticamente editado com seis modificações para torná-lo mais compatível.

O procedimento durou 10 dias e foi interrompido a pedido da família. Segundo os médicos, o fígado suíno apresentou funções vitais, incluindo secreção contínua de bile e produção da proteína albumina, essencial para o organismo.

Órgão temporário pode ser ponte para transplantes
O paciente ainda possuía seu fígado original, tornando o transplante auxiliar – ou seja, um “órgão ponte” que ajuda o fígado humano a manter suas funções enquanto o paciente aguarda um transplante definitivo.

Apesar do sucesso do experimento, os médicos destacaram que o fígado de porco produziu menores quantidades de bile e albumina em comparação com um fígado humano. Isso indica que mais estudos serão necessários para avaliar sua viabilidade como substituto definitivo.

Testes em pacientes vivos são o próximo passo
O professor de transplantes da Universidade de Oxford, Peter Friend, que não participou do estudo, classificou os resultados como "impressionantes", mas ressaltou que o procedimento ainda não é um substituto viável para transplantes humanos no curto prazo.

Nos Estados Unidos, cientistas da Universidade da Pensilvânia já haviam conectado um fígado de porco a um paciente com morte cerebral, mas sem implantá-lo no corpo. Agora, o próximo desafio será testar esse transplante em um paciente vivo.

Enquanto isso, experimentos com outros órgãos continuam. Em novembro de 2024, a americana Towana Looney, de 53 anos, recebeu um rim de porco geneticamente modificado e, diferente de outros pacientes que receberam corações suínos, conseguiu sobreviver e retornar para casa.

O estudo reforça a esperança de que a medicina possa usar órgãos suínos para suprir a crescente demanda por transplantes no futuro.