Pais de pessoas com autismo participam do espetáculo Anamnese.Divulgação
A peça foca na realidade de mães que buscam por um mundo mais inclusivo. O espetáculo foi baseado em histórias reais que, em cena, serão interpretadas pelas próprias personagens que as vivenciaram. Fruto de rodas de conversa e um processo criativo pautado pela inclusão, a peça fala sobre situações desde a gestação, o nascimento e a descoberta do autismo, além das alegrias e preocupações que se fazem presentes. Direção, produção e roteiro ficaram a cargo de funcionários da FAN.
Fernando Brandão, músico e presidente da Fundação de Arte de Niterói, comentou sobre a sensação de concretizar essa iniciativa. “O Anamnese é um projeto que nos dá muito orgulho. Ele é fruto da Coordenadoria de Acessibilidade Cultural, um núcleo da Fundação que acabou de ser criado e pensa políticas públicas com foco na inclusão. Esse é o começo de uma promoção ampla e permanente de espetáculos teatrais de pessoas que trabalham na FAN e a nossa ideia é expandir isso para outros movimentos artísticos”, disse Brandão.
De acordo com Joel Vieira, superintendente Cultural da Fundação, que também é pai de uma filha com autismo, a ideia era oferecer para essas mães um espaço onde elas pudessem viver algo além da maternidade de um filho atípico. "Pais de pessoas com autismo geralmente só são chamados para participar de terapia e palestras sobre essas questões. Nós queríamos ir além e levá-los para o teatro, trocar com o outro, fazer oficinas, cantar, dançar… enfim, colocar essas pessoas num outro lugar da luz”, disse Vieira.
A coordenadora de Acessibilidade Cultural, Juli Costa, compartilhou um pouco do processo para tornar Anamnese inclusivo desde a sua concepção à preparação da Sala Nelson para o público.
O diretor da Sala Nelson Pereira dos Santos, Felipe Tauil, enalteceu a importância da acessibilidade e explica como o equipamento se tornou “a casa da família atípica”. “A Sala é um espaço pioneiro na questão da acessibilidade cultural. Foi um processo que teve início quando o Fernando Brandão era diretor da sala e demos continuidade. O resultado desse trabalho é que, hoje, nos tornamos uma referência em acessibilidade, não só para o público, como para artistas e expositores”, realçou Tauil.
A terapeuta Lilian Pesavento, ativista e mãe de uma menina atípica, faz parte do elenco do espetáculo. “O Anamnese me ofereceu uma nova maneira de expressar e colocar os meus sentimentos. Tenho comentado muito com as outras mães que essa é a nossa chance de falar o que, muitas vezes, a gente engole, finge que não percebe e que magoa muito”, comentou Lilian.
"Promover acessibilidade cultural vai muito além da inclusão de pessoas com deficiência e necessidades especiais. Essa iniciativa da FAN questiona: “quem cuida de quem cuida?”. A partir dessa premissa, o Anamnese foi pensado para dar visibilidade para o autismo ao mesmo tempo em que foca nas mulheres e atrizes do espetáculo além dos seus papéis enquanto mães de filhos atípicos", enfatizou a FAN no texto.
A participante Emanuelle Rocha, mãe de uma criança atípica e responsável pela Casa Atípica, comentou sobre a sua experiência com a peça. “Tudo foi inovador e gostoso demais de sentir. Nós, mães atípicas, não temos tempo pra gente. Então, o teatro, enquanto essa arte maravilhosa que é, trouxe um momento de respiro. Além disso, esse espetáculo é uma oportunidade de extravasar choro, dor, vergonha e outros assuntos que guardamos no coração e aparecem na peça. Tudo isso a gente conseguiu botar no palco", disse Rocha.
No dia do espetáculo, haverá uma exposição de arte “TEAmar: visões de quem convive com o autismo” com obras de Priscila Muros, Fernanda Dalles e Kalenna Brabo e a Exposição: Superando as dificuldades do Autismo através da Arte com obras da Babi SuperArte. Haverá, também, venda do livro "Querida Mãe Atípica", de Chris Fonseca.
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